quarta-feira, outubro 31, 2007

A Garota da Vitrine, de Anand Tucker ***1/2



Um olhar mais apressado sobre “A Garota da Vitrine” talvez possa sugerir algo como uma espécie de derivado de “Encontros e Desencontros”, o cult film de Sofia Coppola. Mas reduzir o filme a isso seria uma injustiça, pois em certos pontos tal obra é superior ao exageradamente incensado filme da filha do nosso amigo Francis. Ao mostrar a história do envolvimento romântico da jovem Mirabelle Buttersfield (Claire Danes), uma vendedora de luvas e aspirante a artista plástica, com um ricaço mais velho (Steve Martin), o diretor Anand Tucker oferece um painel sóbrio e lúcido sobre a solidão e as relações humanas, mas não dispensa um toque de humor amargo para deixar as coisas ainda mais interessantes. Vale mencionar ainda que “A Garota da Vitrine” tem o seu roteiro escrito pelo próprio Steve Martin, baseado num livro de sua autoria, sendo que aqueles que esperam algo na linha cômica escrachada de boa parte das comédias que ele protagoniza irão ficar surpreendidos com o tom irônico mais contido do filme em questão. No mais, é de se destacar também a atuação serena e comovente de Claire Danes (recuperando-se com honras, por sinal, depois daquele fiasco chamado “Tudo em Família”) e a interpretação hilária de Jason Schwartzman como um desengonçado e pé-rapado admirador de Mirabelle.

Aurora, de Friedrich Wilhelm Murnau ****



Sei que geralmente clichês são meio chatos, mas é que às vezes os mesmos acabam sendo inevitáveis. Bem, essa desculpa é apenas para dizer que “Aurora”, monumental obra-prima de F.W. Murnau, é uma daquelas raras produções cinematográficas que não envelheceram com o passar dos anos. Até mesmo o fato de ser um filme mudo parece funcionar a seu favor, pois Murnau aprofunda ainda mais o seu acurado trabalho de fotografia e edição para obter uma narrativa que é quase que puramente visual. Para o genial diretor alemão, os diálogos eram praticamente dispensáveis nas suas narrativas, e “Aurora” é uma das maiores provas disso. É de se destacar ainda que mesmo com o fato de “Aurora” ser uma produção norte-americana, pode-se sentir em cada momento do filme a forte herança expressionista que Murnau trouxe da Alemanha, o que colabora para dar ao um filme uma encantadora atmosfera onírica. É impressionante também a brilhante utilização de efeitos especiais: por mais primitivas que tais trucagens possam parecer diante dos modernos efeitos digitais atuais, a verdade é que as mesmas mantêm intacto o seu impacto visual, com os seus jogos de sobreposições de imagens obtendo um resultado impressionante para quem assiste ao filme.

terça-feira, outubro 30, 2007

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 estrelas)


O Vidente, de Lee Tamahori ***1/2
Super-Bad – É Hoje, de Greg Mottola ****
Faces, de John Cassavetes ****
Tá Dando Onda, de Ash Brannon e Chris Buck ***
People – Histórias de Nova Iorque, de Danny Leiner **1/2
Asterix e Obelix: Missão Cleópatra, de Alain Chabat ***

sexta-feira, outubro 26, 2007

Sex And Fury, de Norifumi Suzuki ****


Um dos grandes baratos de assistir aos dois volumes do magnífico “Kill Bill” é buscar a quantidade insana de referências bem sacadas de outros filmes presentes na obra-prima de Quentin Tarantino. Obras, aliás, que fogem do óbvio e do gosto médio. “Sex And Fury” é uma dessas pérolas homenageadas por Tarantino, e assistindo a tal filme a gente pode perceber o quanto o genial cineasta norte-americano se inspirou nele. Para começar, a própria figura da anti-heroína Ochô Inoshika remete à noiva vingativa interpreta por Uma Thurman, sendo que a personagem principal de “Sex and Fury” protagoniza coreografias de luta brilhantemente encenadas pelo cineasta Norifumi Suzuki. Um desses combates, aliás, foi claramente evocado na seqüência final do primeiro de “Kill Bill”, no já antológico duelo entre a Noiva e O-Ren Ishii (Lucy Liu). De se destacar ainda em “Sex And Fury” o inacreditável trabalho de fotografia, com um tratamento estético tão bem elaborado em que até o sangue jorrando tem uma beleza plástica inigualável.

Sete Amores, de Buster Keaton ****


Que Buster Keaton é um dos maiores mestres da comédia da história do cinema todo mundo já sabe. O que “Sete Amores” mostra também, contudo, é que o cara sacava tudo também de filmes de ação!! O terço final do filme é um verdadeiro show em termos de aventura cinematográfica, quando o protagonista Jimmie Shannon é perseguido por centenas de moças casadoiras, rendendo algumas das seqüências mais antológicas da sua carreira. O meu momento favorito no filme é quando durante a mencionada perseguição ele desce uma ribanceira com o acréscimo de uma verdadeira avalanche de rochas no seu encalço. Faz a gente pensar que Spielberg deve certamente ter assistido a esse filme e se inspirado para a sua obra-prima “Os Caçadores da Arca Perdida”.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Mulheres do Brasil, de Malu Martino *


A intenção da diretora Malu Martino para “Mulheres do Brasil” é até interessante: mostrar as várias facetas da mulher brasileira, variando as classes sociais, as regiões, as situações familiares. O resultado, contudo, é pífio e sem vida. A opção de dividir o filme em episódios diferentes, que poderia render possibilidades para vôos ousados, acaba sendo uma solução equivocada. A cineasta não consegue alternar com eficiência drama e comédia, fazendo de “Mulheres do Brasil” uma verdadeira mixórdia narrativa. A tentativa de inserir tons documentais na ficção piora ainda mais as coisas, fazendo com que em algumas seqüências a obra pareça uma verdadeira propaganda institucional. Totalmente descartável e defeituosa, “Mulheres do Brasil” é uma obra que nasceu para um justo esquecimento.

Notas de Um Escândalo, de Richard Eyre ***


Esse drama inglês não apresenta maiores ousadias no gênero “baseados em fatos reais”. Mesmo assim, e sendo formalmente bem convencional, o diretor Richard Eyre consegue chamar atenção por uma certa crueza ao abordar temas espinhosos como lesbianismo e adultério, fazendo com que se crie uma empatia com a trama e os personagens. Colaboram para isso também as sóbrias atuações de Judi Dench como uma veterana professora manipuladora e mal-resolvida sexualmente e Cate Blanchett no papel da professora novata que se envolve com um adolescente. As atuações das duas são a alma do filme, fazendo valer uma conferida em “Notas de um Escândalo”.

É interessante mencionar o destaque negativo da trilha sonora. Não que a música de Plillip Glass sejam ruim. O problema é a forma com que a mesma é utilizada: é tão ostensiva e constante que em alguns momentos ela chega a quebrar os climas de tensão, quando em tais seqüências o simples silêncio seria muito mais eficiente em termos dramáticos.

Plano 9 do Espaço Sideral, de Ed Wood 1/2 (meia estrela)


Putz, não tem como eu escrever algo sobre esse filme sem repetir boa parte do que eu já havia escrito sobre “Glen ou Glenda?”, comentado poucos dias atrás nesse mesmo blog. O que posso dizer de diferente sobre “Plano 9 do Espaço Sideral” é que é um pouco melhor produzido e dirigido, sendo que esse pouco quer dizer pouco mesmo... A verdade é que a mitologia por trás desse filme é bem mais fascinante do que a obra em si. Vale mais assistir por curiosidade ou até mesmo um certo dever cinéfilo. Agora se tu, caro leitor, vais gostar, bem, isso já é outro papo...

Motoqueiro Fantasma, de Mark Steven Johnson **


Na área de adaptações cinematográficas de quadrinhos Marvel, “Motoqueiro Fantasma” não atinge os níveis de ruindade de “Demolidor” e “Elektra”, mas também está bem distante do brilhantismo de “Homem Aranha 2” e “X-Men 2”. Para quem conhece o gibi original, dá até para perceber que o diretor Mark Steven Johnson preservou alguns elementos importantes da mitologia do personagem-título. O problema é que tudo ficou rasteiro demais. Para um super-herói que tem poderes originados do inferno e cujo principal oponente é o próprio diabo, faltou tensão e maior dinâmica. Tudo se resolve rápido demais e os adversários do Motoqueiro Fantasma são tão mequetrefes que em algumas situações com apenas um golpe ele detona oponentes que deveriam ser extremamente perigosos. O próprio Nicolas Cage não parece se levar muito a sério no papel de protagonista, sendo que se tem a constante impressão de que a qualquer instante ele vai começar a rir da coisa toda (o que é de se estranhar, afinal Cage se diz fã de longa data do personagem). Mas no geral, o filme não é ruim, tendo uns efeitos especiais bem legais. O problema é que no final acabamos pensando o que o filme teria rendido nas mãos de um cineasta com mais culhões como John Milius ou Paul Verhoeven.

O Bígamo, de Ida Lupino ***1/2


O que surpreende nessa produção é o tratamento lúcido e sem moralismos excessivos para a questão da bigamia. O bígamo do título (Edmond O’Brien) não é mostrado como um canalha sem sentimentos, mas apenas como um pobre coitado que se deixou levar pelo destino, algo, por sinal, bem de acordo com a temática noir. E por falar nisso, outro dos grandes méritos de “O Bígamo” é o tratamento de cinema noir que a diretora Ida Lupino oferece para a sua trama: a tensão e a dinâmica do filme é a de um clássico filme policial, mesmo que o roteiro em si seja a de um drama. Essa aparente contradição dá para a obra uma aura de estranhamento que contribuem ainda mais para a sua força narrativa.

Rocky Balboa, de Sylvester Stallone ***1/2


É claro que “Rocky Balboa” por alguns momentos cai para o sentimentalismo e um tom ingênuo excessivos, além é claro de ser meio constrangedor ver o velho Rocky com o rosto cheio de botox. Mas isso são apenas pequenos detalhes, pois o que compensa mesmo no filme é que ele resgata o real espírito da série, aquela coisa de pessoas simples e meio broncas vivendo situações redentoras. Stallone conduz com uma direção segura e de classe uma história que está em perfeita sintonia com a mitologia de seu personagem mais famoso, sendo que a seqüência da luta final de Rocky envelhecido, mas ainda durão, contra um forte e impetuoso campeão mundial é umas das melhores e mais emocionantes da série.

No saldo final, “Rocky Balboa” é tão satisfatória que faz com que a gente fique bem mais curioso para assistir “John Rambo”.

terça-feira, outubro 16, 2007

Filmes da Semana (cotações de 0 a 4 estrelas)


Metal – Uma Jornada Pelo Mundo do Heavy Metal, de Sam Dunn ****
Stardust – O Mistério da Estrela, de Matthew Vaughn ***1/2
Despedida de Ontem, de Alexander Kluge ***
Desbravadores, de Marcus Nispel **1/2
Transylvania, de Tony Gatlif ****
Noite de Estréia, de John Cassavetes ****
Morte no Funeral, de Frank Oz **1/2
A Morte de um Bookmaker Chinês, de John Cassavetes ****
Tropa de Elite, de José Padilha ****
Jogos Mortais 2, de Darren Lynn Bousman **1/2
Jackass 2, de Jeff Tremaine ***

quarta-feira, outubro 10, 2007

Glen ou Glenda?, de Ed Wood 1/2 (meia estrela)


Apesar de considerar “Ed Wood”, a cinebiografia dirigida por Tim Burton, uma verdadeira obra-prima, devo confessar que não tenho o mesmo entusiasmo pela obra do personagem título. Assistir “Glen ou Glenda?”, por exemplo, é quase penoso, não só pelo fato de ser uma obra tosca e mal dirigida, mas principalmente por ser um filme muito chato!! Por mais ingênua que a visão ingênua e a incompetência formal de Wood possam parecer (e aí para muitos pode estar o encanto de seus filmes), a verdade é que temos uma narrativa arrastada e personagens desinteressantes. Mesmo aquela graça involuntária que esse tipo de produção pode gerar não aparece. No gênero “tranqueiras divertidas”, acho que “Robot Monster” e “O Esqueleto Perdido de Cadavra” são muito mais legais.

Letra e Música, de Marc Lawrence ***1/2

De vez em quando surpresas acontecem. Quem poderia dizer que uma singela e despretensiosa comédia romântica fosse oferecer um retrato tão irônico e bem humorado sobre a indústria da música pop? Pois “Letra e Música” é exatamente isso. Através da história de um pop star decadente (Hugh Grant, numa interpretação ultra cool) que recebe uma oportunidade de voltar aos holofotes desde que componha uma boa canção para uma nova estrela teen, o filme de Marc Lawrence oferece uma visão interessante sobre a relação entre a música e os seus aspectos comerciais. Mais louvável ainda é que se evita a simplória crítica aos mecanismos de criação e divulgação da canção popular. Afinal, na história da música pop, inspiração artística e o desejo de sucesso geralmente andam lado a lado, sendo que o fato de uma canção ser bem sucedida comercialmente não significa necessariamente que o autor da mesma tenha vendido a alma ao grande demônio corporativo (vide tanta gente boa como Beatles, Supremes e Elton John).

“Letra e Música” também serve como uma bela tiração de sarro com essa onda nostálgica dos anos 80 que está em voga atualmente. O protagonista é um verdadeiro refugo daquela época, com todos aqueles trejeitos estapafúrdios típicos de algumas bandas da época, como Wham e Duran Duran. E nesse sentido, o clip que abre e fecha o filme é uma verdadeira pérola de paródia musical e estética.

Outro ponto alto de “Letra e Música” é a sua brilhante trilha sonora, composta basicamente de canções originais que emulam genialmente algumas vertentes da música pop. Indo de um brilhante pastiche oitentista (a cara-de-pau “Pop! Goes To My Heart”), passando por divertidas paródias do estilo Britney Spears e chegando numa belíssima e classuda balada (“Way Back into Love), o filme acaba oferecendo um belo panorama de estilos musicais dos últimos 20 anos.

Por mais irônico que “Letra e Música” possa ser, a verdade é que o filme é um verdadeiro tributo à música pop, revelando como canções aparentemente tolas podem se infiltrar no imaginário das pessoas e ficarem grudadas lá para sempre.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Filmes das Últimas Semanas (cotações de 0 a 4 estrelas)


Os Quatros Elementos em Si ou O Guru Selvagem, de André Martinez *
O Resultado do Amor, de Eliseo Subiela *
A Última Cartada, de Joe Carnahan ****
Hairspray – Em Busca da Fama, de Adam Shankman ****
Uma Mulher Sob Influência, de John Cassavetes ****
Santiago, de João Moreira Salles ***
Quatro Estrelas, de Christian Vincent ***
Tapas, de José Corbacho *
Os Jetsons – O Filme, de Joseph Barbera e William Hanna **
Sombras, de Josh Cassavetes ****
Contra a Parede, de Fatih Akin ****
Freaks, de Tod Browning ****
Ligeiramente Grávidos, de Judd Apatow ***
O Último Bandoneon, de Alejandro Saderman **1/2
Um Menino No Verão de 1945, de Kazuo Kuroki ***1/2
Amantes Constantes, de Philippe Garrel **1/2
Dias de Ira, de Carl Theodor Dreyer ****
O Horror Vem do Espaço, de Arthur Crabtree ***
Vampiros de Alma, de Don Siegel ****
A Última Esperança da Terra, de Boris Sagal ***1/2
Ratos, de Bruno Mattei *1/2
Predadores da Noite, de Bruno Mattei *
A Dança da Vida, de Juan Zapata *
Sangue de Pantera, de Jacques Tourneur ****
Doppelganger, de Kiyoshi Kurosawa ****
Do Além, de Stuart Gordon ****
Os Olhos Sem Rosto, de Georges Franju ****
Calafrios, de David Cronenberg ****
O Elemento do Crime, de Lars Von Trier ***1/2
The Bird People In China, de Takashi Miike ***
Nothing, de Vincenzo Natali **
A Máscara da Morte Rubra, de Roger Corman ***1/2
Lunacy, de Jan Svankmajer ****
Bubba Ho-Tep, de Don Coscarelli ****
Zombie 3, de Lucio Fulci e Bruno Mattei *1/2
Zombie 2, de Lucio Fulci ****
Frostbiten, de Anders Banke **1/2
Martin, de George Romero ****
A Queda da Casa Usher, de Jean Epstein ****
Ação Mutante, de Alex de la Iglesia ****
2000 Maníacos!, de Herschell Gordon Lewis ***
Kill, Baby... Kill, de Mario Bava ****
Robot Monster, de Phil Tucker *
Lola, de Rainer Werner Fassbinder ****
Curva do Destino, de Edgar G. Ulmer ****
Operação Yakuza, de Sidney Pollack ****
Como Era Verde o Meu Vale, de John Ford ****
Luzes da Cidade, de Charlie Chaplin ****
A Aventura, de Michelangelo Antonioni ****
Antônia, de Tata Amaral ***1/2
Looney Tunes – De Volta à Ação, de Joe Dante ****