O diretor japonês Hirokazu Kore-Eda trafega em um gênero que
beira o melodrama em “O que eu mais desejo” (2011). Com uma trama abordando
questões familiares, e ainda tendo como fio condutor da narrativa o olhar
infantil de uma dupla de irmãos, o filme se afasta do meramente sentimental. A
influência da percepção dos protagonistas faz
com que a produção adquira uma espécie de suave tensão entre o realismo e o viés
fabular/onírico. O roteiro não apresenta grandes viradas e nem maiores arroubos
dramáticos – sua preferência vai pelo registro discreto de pequenos atos do
cotidiano. Tal opção não é gratuita, pois reforça ainda mais a angústia dos
personagens principais pela reconciliação dos pais separados. O tom sereno da
narrativa evoca algo da cinematografia do mestre Yasujiro Ozu, apesar de
Kore-Eda não ter uma estética espartana tão rigorosa como Ozu. Essa aproximação
se concretiza na proposta temática sem concessões: por mais que se possa
comover e torcer pelo destino dos garotos, as resoluções dramáticas não apelam
para soluções fáceis, revelando uma coerência com a proposta autoral do
cineasta. Assim, ainda que não tenha a contundência criativa de “Depois da vida”
(1998) ou “Ninguém pode saber” (2004), “O que eu mais desejo” se mostra em
sintonia com o padrão autoral e artístico de Kore-Eda.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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Um comentário:
Otima pedida.
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