Boa parte da filmografia da diretora Lucia Murat é dedicada à
temática da ditadura militar. Nesse campo, o inventivo documentário “Uma longa
viagem” (2011) é o seu ponto alto. Mesmo não atingindo o mesmo patamar artístico,
“A memória que me contam” (2013) traz algumas inquietações envolventes. Assim
como na citada obra anterior, combina-se uma abordagem histórica e política com
um forte teor intimista, mostrando que os dois lados se entrelaçam de forma
sutil e inextricável. A trama é ficcional, mas traz vários elementos biográficos
da vida de Murat, e revela uma visão particular da diretora sobre os anos de
chumbo e suas consequências. Ao mesmo tempo que expõe traumas, questionamentos
e contradições daqueles que viveram intensamente aquele período de repressão e
luta, a cineasta se permite fazer uma espécie de comentário pessoal sobre a
atual conjuntura, principalmente no campo comportamental, em que as liberdades
sociais e até mesmo sexuais seriam a continuação natural dos combates ideológicos
e armados dos anos 60 e 70. Nesse sentido, há uma forte simbologia no fato de
que o jovem casal homossexual é composto por filhos de antigos perseguidos políticos.
Para retratar esses sutis e particulares ideários, Murat utiliza uma narrativa
de tons realistas, mas que por vezes fica impregnada de atmosferas oníricas ou
até mesmo delirantes. Assim, concordando ou não com as teorias da diretora, é
inegável que ela vem construindo em seus filmes uma coerência autoral
expressiva.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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2 comentários:
Por motivos pessoais, esse filme fez parte de um momento importante da minha vida recentemente.
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