Um dos aspectos mais fascinantes de um documentário como “Luz...
Câmera... Pichação!” (2011) é fazer o espectador rever os seus próprios
conceitos pessoais. Afinal, como um cidadão médio respeitável, como a maioria
de nós, poderia encarar com alguma simpatia sujeitos cuja diversão (ou obsessão)
principal é se dedicar a rabiscar com tinta muros e paredes? Tendo como origem
um trabalho universitário de pesquisa, o filme procura estabelecer uma linha
histórica para a pichação, mais especificamente na cidade do Rio de Janeiro. Nesse
processo, entretanto, o fim maior é entrar na mente dos pichadores, procurando
expor suas razões através de depoimentos, que variam do engraçado até o dramático,
às vezes até articulados e contestadores de forma surpreendente, mas na maior
parte das vezes reveladores. Na síntese entre a perspectiva histórica, as
entrevistas e imagens dos “artistas” em ação, a obra traça uma visão macro
sobre a própria razão de ser daquilo que pode ser considerado arte ou não (a
arte deve ser sempre bela? Ou a arte mais legítima é aquela que expressa a
verdade daquele que a pratica?), além de estabelecer uma relação da natureza da
pichação com o própria sociedade onde se originou. O resultado final chega a
ser perturbador pelo seu grau de questionamento – o que é um tremendo mérito
para uma obra do gênero.
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