Para mim, talvez seja fácil gostar de “Siba – Nos balés da
tormenta” (2012). Afinal, o documentário tem como protagonista
um músico que gosto muito, o que por si só já faria o filme ganhar vários
pontos comigo. Mas acredito que haja ainda um pingo de isenção em mim, sendo
que assim consigo ver os méritos próprios da obra. Para começar, há a grande
sacada da produção se focar de forma primordial sobre a arte de Siba. É claro
que se menciona algo sobre a vida do artista, mas relacionando sempre os fatos
pessoais com a sua formação musical. Além disso, os diretores Caio Jobim e
Pablo Francischelli mostram argúcia narrativa e temática ao focalizar como o
ambiente rural e de festas tradicionais do interior de Pernambuco foram influências
capitais nas concepções artísticas de Siba. Não só isso: no roteiro do documentário,
consegue-se captar com sensibilidade muito da essência estética de Siba – a
complementação entre as raízes tradicionalistas com o senso universal propiciado
pelo lado roqueiro do músico (e que foi também um dos grandes pontos criativos
do Mangue Beat). O documentário não é tão tradicional na sua formatação, pois não
apresenta a evolução do músico de forma cronológica. Ainda sim, pode-se conhecer
quase todos os passos das mutações do músico, principalmente nas suas colaborações
antológicas com o grupos Mestre Ambrósio e Fuloresta, na parceria com o
violonista Roberto Corrêa e o recente trabalho solo, “Avante”. E o filme foge
do óbvio ao trazer vários momentos em que Siba e seus colaboradores discutem e
ensaiam arranjos, harmonia e melodia e buscam até o timbre exato dos
instrumentos para cada canção. Ou seja, ao invés da celebração do arrivismo
mercenário de “Os dois filhos de Francisco” (2005), há aqui uma verdadeira
homenagem à música e ao ato de compor.
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