Entre as obsessões artísticas do diretor alemão M.A.
Littler, uma das mais evidentes é a música, com preferência para gêneros
primitivos como o blues e o country ou eminentemente underground como
psychobilly, pontuados por influências de jazz ou ritmos étnicos exóticos. No
aqui já comentado “O reino da sobrevivência” (2011), a trilha sonora era
recheada de canções nas vertentes mencionadas. Assim, o documentário “Voodoo
Rhythm – O gospel do rock’n’roll primitivo” (2005) é manifestação natural dessa
paixão de Littler. A produção foca um obscuro selo independente suíço,
comandado pelo one-man band doidaço Reverend Beat-Man, cuja amplo e esquisito
rol de talentos vai de descabeladas bandas de garage rock e pschobilly até
incursões tradicionalistas de puro folk e country. A narrativa se concentra em
depoimentos de alguns dos principais artistas do selo e em números musicais
contundentes desses nomes. Apesar dessa formatação tradicional, Littler
demonstra classe e personalidade na forma com que filma e edita. A fotografia ora
em preto e branco granulado ora em colorido um tanto estourado aliado a
sobriedade de sua atmosfera dão ao filme um fascinante clima “fora do tempo e
do espaço”, o que está em perfeita sintonia com a própria natureza do Voodoo
Rhythm – uma gravadora suíça que se dedica a estilos musicais de origem
norte-americanas em pleno século XXI (se pensarmos que o documentário é
realizado por um alemão, tal impressão de estranhos cosmopolitismo e atemporalidade
fica ainda mais acentuado). De certa forma, essa atração de Littler por essa
cultura musical remete a algo que é recorrente na filmografia de seu conterrâneo
Wim Wenders que é o uso de canções roqueiras e/ou de estilos afins em alguns de
seus principais filmes (“O Estado das coisas”, “Paris, Texas”, “Asas do desejo”)
ou tendo esses mesmos gêneros como objetos de documentários (“The son of a man”).
Mas em “Voodoo Rhythm” Littler mostra que tanto o seu gosto musical quanto a
sua abordagem estética se aprofundam por caminhos próprios e inquietantes.
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