Há filmes que em termos estéticos não seriam capazes de
chamar a atenção do público, mas a relevância de sua temática acaba cativando
boa parte das platéias. Esse é o caso de “Três irmãos de sangue” (2006) – por
mais que esse documentário dirigido por Ângela Patrícia Reininger seja
convencional e não fuja daquele formato tradicional de “entrevistas + cenas de
arquivo”, a força da história que é contada é tão poderosa que acaba criando
uma empatia irresistível. Cada um dos três irmãos Souza focados no filme se
destacou por aspectos diferentes: a solidariedade comovente do sociólogo
Betinho, a fúria iconoclasta exuberante do cartunista Henfil e a musicalidade
esfuziante do compositor e violonista Chico Mário. Na realidade, daria até para
ir mais longe, pois a vida de cada um deles mereceria um filme próprio. O
grande mérito da Reininger é conseguir dar uma unidade a esse trio de
diferentes trajetórias, mostrando que além dos laços parentais, eles também eram
ligados por um tremendo senso humanista. A diretora ainda contextualiza as
biografias de seus protagonistas com
sensibilidade dentro de alguns dos principais fatos históricos do Brasil nas
últimas décadas, principalmente na dura luta que tiveram contra a ditadura
militar. Nesse sentido, os lamentáveis episódios de suas mortes (todos eram
hemofílicos que contraíram o vírus da AIDS devido a transfusões de sangue)
acabam ganhando uma dimensão ainda mais dramática por serem emblemáticos do
descaso com a saúde e com os mais elementares princípios da dignidade humana
que grassou nesse país por muitos anos. E ainda que o tom seja de melancolia na
conclusão de “Três irmãos de sangue”, pela falta que tais personalidades fazem
ao presente panorama cultural-social do Brasil, pelo menos há o consolo do
legado que deixaram, o que é muito bem registrado em várias das preciosas
imagens de arquivo do documentário – os depoimentos emocionados e exemplares de
Betinho, o veloz e sarcástico processo criativo de Henfil e o lirismo à flor da
pele dos números musicais de Chico Mário.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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