A relação do cineasta irlandês John Carney é intensa. As
tramas dos seus filmes se prendem a estruturas clássicas e pré-definidas, mas o
forte está no subtexto delas, que servem como uma espécie de reflexão sobre o
papel das canções populares no mundo contemporâneo. Se no melodrama “Apenas uma
vez” (2006) a música servia como uma espécie de redenção pessoal para os seus
personagens levemente desajustados, na comédia romântica “Mesmo se nada der
certo” (2014) se pode dizer que o olhar é um pouco mais aprofundado dentro
dessa temática. Como narrativa, essa produção mais recente recicla as ideias formais
básicas do primeiro filme: atmosfera agridoce, estética de visual mais cru e
granulado, números musicais pontuando a trama, personagens simpáticos e melancólicos.
As soluções temáticas são previsíveis e por vezes tem até um viés um tanto
conservador. Por outro lado, o filme traz uma perspectiva até bem realista e lúcida
sobre a indústria musical, evidenciando que aquela antiga estrutura do artista
que vê na grande gravadora a solução para todas as suas preces está em franca
decadência diante de inovações tecnológicas e comportamentais que mudaram
radicalmente a forma com que as pessoas se relacionam com a música. Mesmo o
conceito de um álbum se tornou nebuloso... Assim, “Mesmo se nada der cento”
acaba ganhando uma forte carga emblemática ao se impor como obra que capta o
espírito de uma época. E de bônus, ainda traz uma ótima interpretação de Mark
Ruffalo (e que compensa a atuação afetada e careteira de Keira Knightley).
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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Um comentário:
Boa dica mas que ainda não tive o prazer de vê-la
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