Em uma rápida primeira impressão, “Uma jovem tão bela como
eu” (1972) se mostra como uma excentricidade do diretor François Truffaut,
tendo em vista a sua estrutura narrativa emular uma espécie de ligeira chanchada.
Com o desenvolver da obra e um olhar mais atento, entretanto, o filme vai
ganhando contornos cada vez mais surpreendentes. Algumas trucagens e detalhes
visuais revelam uma estética baseada em influências cartunescas e mesmo de clássicas
comédias físicas, fazendo da produção umas das viagens mais ousadas e radicais
de Truffaut em termos de linguagem cinematográfica. O cineasta recria tais
referências sob uma perspectiva própria, em que elementos cômicos e picarescos
se entrelaçam de forma perturbadora com a atmosfera sombria e melancólica de
algumas sequências. Em outros momentos, há nuances artísticas e temáticas que
se conectam de forma contundente com o universo existencial do diretor – as peripécias
transgressoras da protagonista Camille Bliss (Bernadette Lafont) guardam
sintonia com as encrencas do Antoine Doinel, alter ego de Truffaut e personagem
recorrente em sua filmografia. É nessa confluência de desconstrução de gêneros
(comédia e suspense) e reforço de um traço autoral que “Uma jovem tão bela como
eu” se configura como uma estranha pérola dentro do conjunto da obra de
Truffaut.
Os filmes de Truffaut sempre foram bem a cara dele de boa praça, diferente do seu conterrâneo Godard, que ia sempre para um lado mais político e critico em seus filmes
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