Dentro do cinema independente norte-americano, John Sayles
nunca foi um dos nomes mais badalados. De certa forma, isso é até compreensível
porque não se trata de um cineasta cujos filmes sejam bombásticos ou geniais
obras-primas. As produções dirigidas por Sayles sempre foram marcadas por
narrativas de tom sóbrio, com ocasionais toques de sutil ironia. Dentro desse
estilo discreto e pessoal, talvez a influência mais percebida seriam as
narrativas mosaicos que Robert Altman tanto apreciava, em que o enfoque da
trama se concentra em vários personagens, e não em um protagonista específico. “Silver
City” (2004) é um exemplar característico da abordagem artística de Sayles.
Eficiente síntese entre comédia e thriller político, o filme se apropria de uma
estrutura tradicional de “suspense
investigativo” para fazer uma ácida alegoria sobre as hipocrisias e jogos de
interesse que rondam a política nos Estados Unidos, e do próprio mundo
ocidental, nas últimas décadas. Por vezes, esse viés crítico até transpira uma
certa ingenuidade em sua indignação, mas também é inegável a sinceridade no seu
ataque. De certa forma, faz até lembrar algumas obras de Ken Loach, só que sem
a mesma virulência. No mais, Sayles mostra boa mão na construção na atmosfera
de tensão, além de contar com um roteiro de afiados diálogos e um elenco que
sabe conciliar humor e dramaticidade na medida certa, com destaque para Richard
Dreyfuss, Danny Huston e Chris Cooper.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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