Há algo de anacrônico que permeia a atmosfera de “Permanência”
(2014) de maneira constante. A direção glacial de Leonardo Lacca nunca arrebata
o espectador, mas se revela discretamente sedutora pela elegância com que
conduz a narrativa, impedindo que a obra caia em excessos sentimentais ou
maneirismos formais óbvios. Os dilemas existenciais do protagonista Ivo
(Irandhir Santos) não representam novidades ou algo de grande impacto, até
porque há muito de sugestivo na encenação proposta por Lacca. Dá para perceber
de leve que Ivo traz dentro de si alguma espécie de insatisfação, uma pendência
mal resolvida ou mesmo um desconforto com as veleidades da vida
pequeno-burguesa. Ao reencontrar um amor do passado, Rita (Rita Carelli), seu
silencioso equilíbrio emocional parece se abalar. Nesse pequeno universo, tudo
parece ter um ar blasé e distanciado, como se Lacca buscasse uma conexão com as
situações e personagens de alguns dos melhores dramas existencialistas de
Michelangelo Antonioni. Ainda que o diretor brasileiro não tenha a mesma classe
artística do grande mestre do cinema italiano, “Permanência” até consegue ter
um curioso encanto em determinadas sequências, principalmente nas cenas que
envolvem um conteúdo erótico e na química interpretativa entre Irandhir Santos
e Rita Carelli. O estilo passadista da produção por vezes impede que a
narrativa efetivamente decole, mas também não deixa de ser um atrativo
particular pelo seu caráter referencial.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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