O que se tem em “Mr. Turner” (2014) não é uma simples
cinebiografia tradicional do pintor britânico J.M.W. Turner (Timothy Spall). Os
caminhos narrativos adotados pelo diretor inglês Mike Leigh são bem mais
profundos e inesperados. Ele se concentra nos anos finais da vida de seu
protagonista, quando as idiossincrasias de seu comportamento e do seu cotidiano
se acentuam. Os fatos atribulados de sua trajetória pessoal parecem se
relacionar de forma intrincada com a sua própria arte, com Turner investindo
numa série de pinturas perturbadoras, onde ele retrata obsessivamente sombrias
paisagens marinhas tomadas por céus tempestuosos. A sensibilidade e o
detalhismo imagético de seus quadros contrastam com uma personalidade difícil e
nebulosa, por vezes beirando o brutal. Leigh consegue captar essa contradição
existencial com notáveis complexidade e profundidade. Em termos formais, o
cineasta obtém efeitos estéticos memoráveis, em que a direção de fotografia
extrai uma composição visual que funde o registro visual naturalista com o
pictórico das telas de Turner. No mais, destaca-se o habitual talento de Leigh
na direção de elenco, evidente, principalmente, na composição dramática repleta
de nuances de Timothy Spall.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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