Talvez ao se analisar uma animação norte-americana voltada
para o público infantil e enxergar implicações culturais e existenciais pode
parecer que se esteja forçando a barra, tentando se dar alguma legitimidade
para uma produção de caráter eminentemente comercial, que visa não só lucrar
nas bilheterias como também vender um monte de bugigangas atreladas
(brinquedos, lanches e afins). É claro que existem filmes e franquias no gênero
que enveredam por essa lógica meramente mercantilista, mas também há exemplares
que extrapolam tais intenções comerciais e procuram oferecer algo mais em suas
pretensões artísticas (a grande maioria do que a Pixar já fez é atestado de tal
prática). Nesse último caso, dá para enquadrar “Cegonhas – A história que não
te contaram” (2016). O filme em questão obedece a uma fórmula eficiente de
diversão – personagens carismáticos, roteiro bem delineado, grafismo
expressivo, boas sequências de ação. A cereja do seu bolo, entretanto, está no
sutil e contundente subtexto da sua trama, em que os mecanismos desumanos de
exaltação à ambição de ascensão social e conseqüente desagregação das relações
sócio-afetivas são expostos com ironia e sensibilidade. Há algo também de um
certo encanto nostálgico na valorização da imaginação e inocência infantis
perante um mundo cada vez mais dominado por avanços tecnológicos e consumismo
desarvorado. Ainda que não traga o mesmo brilhantismo temático e estético de
algumas animações contemporâneas (como “Wall-E” e “Detona Ralph!”), “Cegonhas”
ainda consegue surpreender e comover o espectador pelo inusitado e mesmo
coragem de algumas de suas soluções narrativas.
Não tive interesse em ver esse filme mas essa crítica me animou
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