A analogia pode soar forçada e simplista para alguns, mas a
produção portuguesa “John From” (2015) faz pensar na hipótese bastante
imaginária de que alguma produção clássica oitentista dirigida por John Hughes fosse
refilmada sob a batuta surrealista de Luis Buñuel. Em um primeiro momento, a
concepção estética-temática dessa produção do cineasta João Nicolau se vincula
a um estilo realista, ao retratar o cotidiano da adolescente Rita (Júlia Palha)
marcado pelos dilemas e delícias inerentes à sua idade. A partir do momento em
que a personagem se descobre apaixonada pelo vizinho mais velho, de forma
progressiva elementos de cinema fantástico vão se inserindo de maneira sutil na
narrativa. É como se o imaginário da garota se tornasse a principal perspectiva
daquilo ao que o espectador assiste. Nesse sentido, signos do mundo
contemporâneo se misturam a referências passadistas com uma naturalidade
insólita e encantadora, além de nuances do roteiro que poderiam soar
estapafúrdias acabam adquirindo uma estranha e coerente lógica. Nesse sentido, a
obsessão com fatos históricos e povos exóticos que permeiam a trama aludem ao
conturbado passado colonialista de Portugal. Dentro desse particular ideário
artístico-existencial, é um dado fundamental de “John From” a ambígua encenação
encadeada por Nicolau, que se vale de uma fascinante síntese entre o libertário
e o solene.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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