Que o pessoal responsável por fazer as versões de títulos de
filmes estrangeiros para português no Brasil tem alguns critérios questionáveis
já é mais do que sabido. Mas no caso de “O melhor professor da minha vida”
(2017) eles realmente se puxaram. O título escolhido tanto pode atrair ou
repelir possíveis espectadores e nos dois casos pela ideia equivocada que dá da
abordagem dessa produção francesa dirigida por Olivier Ayache-Vidal, além de
estar distante do tom mais sutil e poético do original “grandes mentes”. Em
síntese, o longa em questão não se filia aquela linhagem de obras edificantes que
mostram professores superando todas as dificuldades em uma sala de aula e dando
lições de vidas para os alunos e, por consequência, para a plateia. O filme de
Ayache-Vidal está mais vinculado em termos estéticos-temáticos à escola
realista da obra-prima “Entre os muros da escola” (2008). O roteiro não
apresenta soluções mágicas dentro da trama em que o arrogante professor
François Foucault (Denis Podalydès), proveniente de uma escola elitista de
Paris, se vê obrigado a dar aulas em um colégio da rede pública da capital. A
visão artística e existencial da obra sobre a relação ensino e meio social é
marcada pela lucidez amarga, ainda que permita de maneira coerente vislumbrar
saídas a partir de uma perspectiva humanista de educação. A concepção formal
para contar essa história é simples e tradicional, não tendo o mesmo grau de
inventividade e dinâmica estéticas da aludida obra de Laurent Cantet, mas não
se rende a truques baratos e consegue se mostrar como uma moldura contundente
para as intenções de Ayache-Vidal, com destaque para uma encenação de notável
fluidez e para as atuações vigorosas do elenco.
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