sexta-feira, setembro 13, 2019

No coração do mundo, de Gabriel e Maurílio Martins ***1/2


Em um primeiro momento, a narrativa de “No coração do mundo” (2019) parece se configurar como uma sóbria junção de elementos de drama intimista e crônica social, com uma trama que mostra as insatisfações econômicas e existenciais de um grupo de personagens na periferia da cidade mineira de Contagem (o mesmo cenário, aliás, dos memoráveis “A vizinhança do tigre” e “Temporada”). O roteiro é bem delineado e aprofunda de maneira madura os desejos e dilemas de seus personagens, impressão essa que se acentua pela encenação que investe em um naturalismo de notável desenvoltura e que por vezes evoca trejeitos documentais. Nesse sentido, é de se valorizar também um ótimo trabalho de direção de elenco que valoriza tanto a espontaneidade amadora de alguns atores quanto a precisão dramática de uma artista poderosa como Grace Passô. De maneira sutil e coerente, entretanto, a narrativa vai se convertendo ainda em um tenso thriller policial. O tradicional formato “planejamento de um roubo perfeito” se insere com naturalidade na ambientação da trama e vai dando para o filme uma atmosfera cada vez mais sufocante. De certa forma, é como se a linhagem formal-temática do clássico cinema noir norte-americano e as trucagens estéticas de Michael Mann se incorporassem de maneira mais que convincente nesse contemporâneo cinema nacional de forte teor sócio-político. Essas escolhas criativas, situada naquela zona limite entre a tradição e a originalidade, se cristalizam de forma vigorosa no ato final de “No coração do mundo”, em uma bela síntese entre ação cinematográfica, tensão dramática e melancolia.

5 comentários:

  1. "No Coração do Mundo" traz o melhor do nosso cinema brasileiro e do qual nos dá muito orgulho. Saiba mais no meu blog de cinema
    https://cinemacemanosluz.blogspot.com/2019/08/cine-dica-em-cartaz-no-coracao-do-mundo.html

    ResponderExcluir