O estilo narrativo estabelecido pelo cineasta Sebastian Lelio
em “Gloria” (2013) é seco e rigoroso – ainda que a trajetória sentimental da
personagem título seja tortuosa, o filme não envereda por grandes arroubos dramáticos
e nem por ostensivos truques formais. O registro de Lelio mantém de forma
constante a sobriedade e o naturalismo, beirando até o documental. Tal aridez
acaba se revelando coerente e adequada para a história que é contada. O
interesse da trama é por se focar em pequenos atos cotidianos, em que até as
mesquinharias e mediocridades de algumas criaturas ganham uma dimensão
relevante. Nesse sentido, o roteiro tem sacadas interessantes em termos de
sugestão – fatos do passado dos personagens são mencionados de forma ocasional,
como se em pequenos esboços tais figuras humanas fossem sendo construídas
sutilmente. A seqüência do jantar de aniversário do filho de Gloria (Paulina
García), por exemplo, é exemplar na utilização de tal expediente, em que
gestos, fragmentos de conversas e olhares evocam mágoas e relações mal
resolvidas. São justamente essas sensações de mal estar ou incômodo existencial
que dominam a narrativa de “Gloria”, fazendo com que essa crônica intimista
elaborada por Lelio traga no seu subtexto uma espécie de reflexo da condição
moral de uma sociedade dominada por solidão e preconceito.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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