A participação da Tchecoslováquia na 2ª Guerra Mundial foi
bastante traumática para o país, envolvendo uma invasão implacável dos alemães
e episódios obscuros de colaboracionismo. “O cremador” (1968) é uma obra que
faz uma síntese perturbadora desse episódio histórico através de uma narrativa
repleta de simbologias mórbidas e por vezes até irônicas, demonstrando uma
sutileza notável na caracterização de uma sensação permanente de incômodo. O
diretor Juraj Herz constrói a sua obra como se fosse um conto gótico de horror.
A trama se desenvolve de forma linear, mas a atmosfera é de algo difuso, com
enquadramentos e edição sugerindo um clima de pesadelo. O modus operandi do
protagonista Kopfrkingl (Rudolf Hrušínský),
responsável em uma funerária pelas cremações, parece ser uma metáfora para o próprio
tratamento formal proposto por Herz – as ações do personagem são carregadas
pelo gosto por uma assepsia doentia, em que o apreço pela ordem e pela pureza
encontra no ideário nazista a casa perfeita para aflorar, enquanto a estética
de Herz constrói uma ambientação clean e despersonalizada, mas que em momentos
cruciais se converte em cenários carregados de sangue e sujeira. Poucas vezes
os pecados de guerra foram expostos no cinema de forma tão ácida e contundente.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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