Tanto na sua questão estética quanto na temática, a produção
argentina “Bem perto de Buenos Aires” (2014) obedece a uma concepção artística
rigorosa. O diretor Benjamin Naishtat constrói uma narrativa seca e lenta,
valorizando longos planos fixos, silêncios, diálogos econômicos, encenação
precisa e quase ausência de trilha sonora musical. Por meio dessa austeridade
formal, a obra evidencia uma atmosfera claustofóbica de tensão, além de uma
simbologia sutil na sua visão de ironia ácida sobre a desigualdade social na
sociedade argentina (e, por tabela, na própria sociedade ocidental). Naishtat
revela um senso de humor perverso no jogo de temores e expectativas que ronda
boa parte dos meandros da trama. O roteiro sempre lida com uma ameaça de explosão
de violência e revolta que na realidade nunca se concretiza de forma plena.
Dentro dessa ambientação em que tudo é sugerido ou presumido, o filme ressalta
tanto a frustração desfocada das camadas populares quanto a paranóia da classe
média alta. Nesse último caso, tal sentimento parece refletir uma sensação de
culpa mal digerida diante de uma sociedade repleta de injustiças e
preconceitos. Por mais que se acuse que tal discurso possa ser manjado ou “esquerdista”,
é inegável, entretanto, que o subtexto político de “Bem perto de Buenos Aires”
se desenvolve e consolide da maneira contundente e sofisticada.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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