Se em “Gomorra” (2008) enveredava por um viés formal de
estilo seco e realista, beirando o documental, em “Realiy – A grande ilusão” (2012)
o diretor italiano Matteo Garrone apresenta uma estética mais abrangente, mas
igualmente contundente. Ao abordar o fascínio popular pelo artificialismo e
frivolidade dos reality shows, o cineasta utiliza um registro que tanto se vale
de alguns preceitos típicos do neo-realismo quanto de uma caracterização exagerada
e grotesca de comédias clássicas como “Feios, sujos e malvados” (1976). O
resultado é uma obra que consegue se equilibrar de forma notável entre o drama
de caráter quase fabular e a ironia amarga. A direção de fotografia consegue
obter contrastes desconcertantes – nas cenas externas na região humilde onde
vive o protagonista Luciano (Aniello Arena)
por vezes os enquadramentos apresentam soluções visuais belíssimas, que
valorizam com sensibilidade a beleza rústica do ambiente de prédios antigos,
mas quando a trama se desenvolve nas locações mais “luxuosas” (festas de
casamentos, estúdios televisivos) o estilo visual adota
um tom algo delirante nas decorações e figurinos de gosto duvidoso. E a própria
conclusão de “Reality” acentua esse inquietante misto de atração e repulsa que é
a tônica da produção, o que torna a visão crítica de Garrone sobre a sociedade
moderna ainda mais aguda.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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