Há uma conexão temática evidente entre os documentários “Hércules
56” (2006) e “Missão 115” (2018), ambos dirigido por Silvio Da-Rin – as duas
obras tratam de episódios relativos ao período da ditadura militar no Brasil.
Se na época do lançamento do primeiro filme havia uma impressão de que a
narrativa abordava fatos de um passado atribulado e que dificilmente poderiam
se repetir no presente, na produção documental mais recente a sensação é que
passado, presente e futuro estão entrelaçados de maneira intrínseca e
perturbadora. Ainda fazendo a comparação entre os dois documentários, “Missão
115” se mostra com um viés mais pessoal, ainda que mantenha a linha didática
histórica do trabalho anterior de Da-Rin. Tanto que o próprio diretor se coloca
como personagem logo no início da narrativa por ter sido preso político na
época da ditadura. A maioria dos depoimentos vem em um tom professoral e detalhista;
ainda que bastante informativas e esclarecedoras, tais entrevistas dão uma
formatação um tanto cansativa para o filme, fazendo com que por vezes tudo
pareça mais uma grande reportagem, carecendo assim de uma abordagem estética
mais ousada. Provavelmente, diante das circunstâncias sócio-políticas atuais,
em que há fortes possibilidades de que país venha a ser governado por um
ultradireitista raivoso ou mesmo sofra um novo golpe militar, as verdadeiras
intenções artísticas-existenciais de Da-Rin estejam no caráter
panfletário-informativo de “Missão 115” do que em alguma grande elaboração
criativa em termos de linguagem cinematográfica. Olhando sob esse ângulo, dá
para dizer que o documentário em questão se mostra uma experiência cultural e
sensorial até bem-sucedida, pois consegue estabelecer uma ligação de coerência
e profundidade entre as ações de terrorismo de Estado no crepúsculo da ditadura
com os arroubos de autoritarismo e hipocrisia que levaram ao golpe parlamentar
de 2016 e à nova ascensão do pensamento reacionário-fascista na sociedade
contemporânea.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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Um comentário:
Missão 115 comprova que as teorias de conspiração dentro da história política acabam por ser tão ou mais verossímil do que a própria viagem a lua. Saiba mais no meu blog https://cinemacemanosluz.blogspot.com/2018/09/cine-dica-em-cartaz-missao-115.html
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