sexta-feira, julho 28, 2006


A Mesa do Diabo, de Norman Jewison ****

Essa produção de 1965 saiu alguns meses atrás naquela caixa de DVDs do Steve McQueen. Puta filme muito bem dirigido. É sobre o duelo entre dois fodões do pôquer, em que McQueen faz o desafiante Cincinnati Kid. O lance genial de “A Mesa do Diabo” é que ele tem um ritmo narrativo fantástico, sendo um verdadeiro filme de ação, mesmo se passando quase que exclusivamente em ambiente fechados com os personagens conversando ou jogando em volta de uma mesa. Em nenhum momento cai no enfadonho, mesmo para quem não entende nada de pôquer. De certa forma, ele mostra o próprio jogo do pôquer como um grande jogo de interpretação, principalmente em relação a questão do blefe. E isso fica evidente na fantástica interpretação do Edward G. Robinson como The Shooter, o principal adversário de Cincinnati Kid.

quarta-feira, julho 26, 2006


Banana Is My Business, de Helena Solberg **

O que me deixou realmente chateado nesse documentário sobre a vida de Carmen Miranda é como a diretora Helena Solberg conseguiu realizar um filme tão burocrático e insosso mesmo tendo à disposição um farto material de arquivos visuais e depoimentos interessantes. É claro que "Banana Is My Business" tem o mérito de nos dar uma idéia de um período extremamente importante da história cultural brasileira. Mas isso acaba sendo muito pouco perante o que essa obra poderia ter rendido se tivesse tido um tratamento mais vigoroso. Incomoda a narração em tom monocórdio da própria diretora, e que contrasta com a vivacidade de boa parte das imagens que aparecem de Carmen Miranda em ação, dando ao filme um tom lamentoso que chega a ser irritante.

terça-feira, julho 25, 2006

Água Negra, de Walter Salles Jr. *

Um dos filmes mais chatos dos últimos anos! A premissa inicial não era das mais animadoras e promissoras: um diretor "sensível e sério" dirigindo uma refilmagem de uma típica produção de terror japonês contemporâneo. E quando se vê o filme, acaba-se vendo que tais temores são plenamente justificáveis. Como já disse antes de alguns filmes do gênero, é basicamente um filme de terror dirigido por alguém que não gosta de filmes de terror. A impressão que temos constantemente durante toda a metragem de “Água Negra” é que o Salles está pedindo desculpas e procurando provar que aquilo não é só um filme de terror, e que há um "sentido" psicológico e social para a sua trama. Incomoda ainda mais observar bons atores como John C. Reilly e Pete Postlethwaite desperdiçados em uma obra fraca como essa. Isso sem contar a atuação sem tesão de Tim Roth e a música despersonalizada de Angelo Badalamenti (nem de longe parece lembrar o mesmo gênio que compõe as trilhas magníficas dos filmes do David Lynch).

Dizem que Walter Salles vai dirigir a adaptação cinematográfica para o clássico da literatura beatnick “On The Road”, de Jack Kerouac. Depois dessa coisa medonha do “Água Negra”, fico imaginando Kerouac se revirando no caixão...

segunda-feira, julho 24, 2006


Rocky & Hudson, de Otto Guerra ½ (meia estrela)

Esse longa de animação do Otto Guerra consegue um tremendo feito: consegue ser pior ainda que o "Novelas", do próprio Guerra. Enquanto eu assistia “Rocky & Hudson”, várias indagações vinham à minha mente: afinal, por que esse filme foi feito? Tem gente que gosta disso? Tem algum roteiro? Quem disse para o Otto Guerra que ele saber fazer filme? Sério, mas a impressão que tenho é que o Guerra ganhou dinheiro para fazer a animação em questão, não esperava por isso e fez o seu desenho de qualquer jeito. Só isso pode explicar a quantidade de cenas onde praticamente nada ocorre ou fica-se repetindo infinitamente as mesmas piadas. Mas como no "Novelas", o pior mesmo é a qualidade da animação: a impressão que se tem é que o simples fato de ser um filme gaúcho e de baixo orçamento justifica o fato de se fazer algo da maneira mais qualquer nota possível. E pelo trailler que assisti de “Wood & Stock”, a produção mais recente de Guerra, parece que vem mais do mesmo calibre...

domingo, julho 23, 2006


Starman - O Homem das Estrelas, de John Carpenter ***1/2

"Starman" é mencionado geralmente como um derivado de "E.T.", de Steven Spielberg. Bem, pode até ser. Mas nesse caso considero que a cópia saiu bem mais satisfatória que a matriz. A trama de John Carpenter é muito mais bem resolvida, combinando com criatividade ficção científica e romance, além de uma leve e bem vinda dose de comédia (as cenas de Jeff Bridges se "adaptando" aos costumes terrestres são antológicas). Além disso, o cineasta oferece um ritmo narrativo admirável para o seu filme, prendendo com eficiência a atenção de quem assiste até o belo e emocionante final.

sexta-feira, julho 21, 2006


Tora Tora Tora, de Richard Fleischer ****

Ótimo filme de guerra com um trabalho narrativo de exatidão exemplar. Os dois terços iniciais basicamente são os preparativos japoneses para o ataque a Pearl Harbour e as tratativas diplomáticas entre Japão e EUA, sendo que esses momentos de aparente "não ação" tem um ritmo preciso, que nunca cai no tedioso. Não há excessos nos diálogos e situações. Na sua parte final, “Tora Tora Tora” (expressão que significa o código japonês para começar a histórica investida japonesa contra os EUA) é ação pura e muito bem filmada, com alguns dos melhores ataques aéreos já registrados no cinema. E tudo isso com uma trilha sonora magnífica composta por Jerry Goldsmith. De se destacar ainda a construção dramática das personagens. É claro que num filme americano sobre a 2ª Guerra Mundial é quase impossível não cair em maniqueísmo. Mas mesmo isso no filme tem uma caracterização cuidadosa: os japoneses são mostrados num registro que oscila entre a bravura e o patético, enquanto os americanos apresentam um comportamento que vai do prudente ao negligente.

quinta-feira, julho 20, 2006


Haute Tension, de Alexandre Aja ****

Sem exageros, mas talvez esse filme francês seja a maior surpresa cinematográfica que assisti nos últimos dois anos. O que impressiona nessa obra de horror é que são utilizados vários dos clichês mais básicos dos típicos filmes de terror sangrento, mas com criatividade e paixão insanas. É puro horror explícito e grosseiro e sem o menor sinal de sutileza, mas que mesmo assim consegue criar uma forte tensão (por sinal, bem de acordo com o título original...). Pode-se perceber ainda no filme que o diretor Alexandre Aja buscou influências além do próprio cinema. Várias cenas de "Haute Tension" têm uma concepção visual que remetem bastante ao universo dos quadrinhos, principalmente na caracterização do vilão psicopata que aterroriza as protagonistas gostosinhas e histéricas.

Assistindo-se a “Haute Tension” se entende porque Aja foi chamado para dirigir a refilmagem de "A Quadrilha de Sádicos", de Wes Craven. É até difícil pensar num nome mais apropriado para atualizar a sangrenta e violenta obra original de Craven. E pelos comentários que já ouvi e pelo trailler é capaz do pupilo ter superado o mestre...

quarta-feira, julho 19, 2006


Os Abutres Têm Fome, de Don Siegel ****

O engraçado nesse filme é que se não soubéssemos ser o mesmo dirigido por Don Siegel poderíamos jurar ser obra de Sérgio Leone. Vários elementos despertam esse tipo de comparação: a trilha sensacional de Enio Morricone, personagem principal interpretado por Clint Eastwood que remete diretamente ao Blondie da clássica trilogia do faroeste espagueti, o fascínio por filmar regiões desérticas. Mas reduzir um puta filme como esse a simples cópia de Leone seria injustiça. Siegel era um cineasta com um talento raro para dirigir cenas de ação (vide as obras primas "Perseguidor Implacável" e "Meu Nome é Coogan"), sendo que a seqüência final mostrando o conflito entre guerrilheiros mexicanos e franceses é uma prova disso. Muito interessante também é o clima de amoralismo, ironia e cinismo que permeia todo o filme: em nenhum momento podemos dizer com certeza que as intenções das personagens interpretadas por Shirley MacLaine e Eastwood em relação aos pobres e revoltados mexicanos são as mais nobres....

terça-feira, julho 18, 2006


Tempo Esgotado, de John Bahdam ***

Filmes em tempo real, em que o tempo da trama é exatamente o mesmo da duração da metragem da obra, não chegam a ser tão raros assim nos cinemas. Muita coisa boa foi realizada se utilizando desse recurso: do clássico “Matar ou Morrer”, de Fred Zinnermann, ao recente “Antes do Pôr-do-Sol”, de Richard Linklater. Vale a pena ainda mencionar aquelas produções que radicalizaram ainda mais nessa via, como “Festim Diabólico”, de Alfred Hitchcock, e “Arca Russa”, de Alexander Sokurov, onde o desenrolar de suas tramas ocorrem sem cortes, consistindo em rebuscados trabalhos de planos-seqüência únicos.

Mesmo não sendo do quilate das obras acima mencionadas, “Tempo Esgotado” consegue explorar com eficiência o recurso do tempo real. Para isso, utiliza-se de uma premissa simples: o pacato pai de família Gene Watson (Johnny Depp) tem exatamente 75 minutos para matar a governadora de Los Angeles (Marsha Mason), senão terá a sua filha morta pelo vilão conspirador Sr. Smith (Christopher Walken, no seu eterno papel de sociopata). A partir disso, o diretor John Bahdam consegue realizar um suspense de fortes tintas hitckcockianas, em que cresce a tensão a medida que o tempo de Watson vai esgotando e o mesmo ficando cada vez mais enrascado. O trabalho esmerado de montagem e enquadramentos orquestrado por Bahdam oferece o suporte e agilidade necessários para um filme de ritmo urgente e intenso. Nesse sentido, é exemplar a seqüência de abertura de “Tempo Esgotado”, um hábil e expressivo trabalho de edição cinematográfica em que o Sr. Smith e sua parceira procuram apressadamente em uma estação de metrô uma vítima para seus planos maquiavélicos.

segunda-feira, julho 17, 2006


Os Corruptos, de Fritz Lang ****

Fritz Lang costumava dizer que a sua fase alemã foi a melhor de sua carreira, tendo em vista que tinha uma liberdade artística que nunca conseguiu ter igual trabalhando em Hollywood. Não sei se ele falava isso de sacanagem ou só para exagerar mesmo, pois alguns dos seus filmes policiais americanos são tão bons quanto as suas clássicas obras alemãs ("M – O Vampiro de Dusseldorf", "Metrópolis" e "A Morte Cansada"). "Os Corruptos" é um desses casos. Impressiona o poder de concisão de Lang: ele constrói um elemento dramático mínimo (tira durão que tem a sua mulher morta em um atentado) para poder posteriormente estabelecer uma trama violenta e muito bem delineada, onde o herói, por ter a justificativa da morte da esposa e para proteger a filha, é quase tão brutal quanto os gangsters que combate (alguém aí lembrou do magnífico e recente “Rejeitados Pelo Diabo”?). Impressiona a caracterização de Glen Ford como policial vingativo, com o olhar que fica entre o quase choro e o ódio obsessivo. Antológica também a interpretação de Lee Marvin como um capanga covarde que não hesita em jogar um jarro de café quente no rosto da própria namorada.

domingo, julho 16, 2006


Imensidão Azul, de Luc Besson ***

Boa parte das críticas que se faz a “Imensidão Azul” reclama do fato do seu roteiro ser vazio, contrastando com as belas imagens marinhas obtidas por Luc Besson. Discordo de tal opinião, sendo que considero bem interessante a forma com que o protagonista Jacques (Jean-Marc Barr) lida com o mundo da superfície, como se fosse literalmente um peixe fora d’água. Outro ponto positivo da trama é a relação entre Jacques e Enzo (Jen Reno), seu adversário nas disputas de mergulho submarino, que oscila naturalmente entre a bem humorada camaradagem e uma afiada rivalidade. Em uma coisa, entretanto, devo concordar com as críticas acima mencionadas: a grande força de “Imensidão Azul” está nas espetaculares imagens aquáticas, com um esmerado trabalho de direção de fotografia. Alguns enquadramentos chegam a parecer verdadeiras pinturas. Destaque ainda para a marcante trilha sonora de Eric Serra, com uma música cuja sonoridade remete muito a um estilo bem anos 80.

sábado, julho 15, 2006


A Noite do Terror Cego, de Amando de Ossorio ***

Esse filme de terror espanhol do começo dos anos 70 faz jus a sua fama de clássico cult do gênero, mas não sem algumas ressalvas. É claro que as seqüências de terror puro são magníficas, recheadas de grandes sacadas visuais e temáticas (transformar os Templários em zumbis assassinos é a maior delas). Aliás, o figurino dos templários é um verdadeiro achado visual, fazendo imaginar de onde Peter Jackson se inspirou para compor as figuras dos sinistros cavaleiros de Sauron em “O Senhor do Anéis”. O problema de “A Noite do Terror Cego” é o excesso de cenas desnecessárias que afetam muito a sua agilidade narrativa, principalmente quando se concentra nos insípidos “dramas pessoais” dos seus canastríssimos personagens (com exceção de Pedro, um engraçado cafajeste que não se constrange em violentar a “heroína” da trama). Apesar desses problemas, é um programa imperdível, principalmente pela sua conclusão, quando os Templários invadem um trem e perpetram um dos massacres mais impressionantes da história do cinema de horror, fazendo entender porque essa obra é considerada de referência por tantos cineastas de prestígio como Tim Burton .

sexta-feira, julho 14, 2006


Ruas de Fogo, de Walter Hill ****

Se no faroeste “A Cavalgada dos Proscritos” Walter Hill dirigiu uma obra com fortes tons naturalistas, em “Ruas de Fogo” ele pega uma trama que se passa numa época quase atemporal (uma espécie de mistura das décadas de 50 e 80 do século passado) e a enquadra sob uma perspectiva de um faroeste mitológico, com direito inclusive a uma caracterização John Wayne por parte do ator principal Michael Pare e a um legítimo duelo final entre mocinho e bandido. O diretor oferece também para o filme uma concepção visual fortemente estilizada, com uma linguagem narrativa frenética, em que praticamente sempre parece haver algo acontecendo. O resultado de tudo isso é fabuloso, um verdadeiro clássico do cinema dos anos 80 que merece ser redescoberto e mais discutido em termos de linguagem cinematográfica. “Ruas de Fogo” marca também mais um passo da marcante colaboração de Walter Hill com o “trilheiro” Ry Cooder, que faz com que o “score” musical combine de forma engenhosa e criativa blues e rock clássico com canções emblemáticas do anos 80.

quinta-feira, julho 13, 2006


Brown Bunny, de Vincent Gallo ****

Fui assistir “Brown Bunny” com a expectativa de que ele fosse apenas um mero exercício de polêmica devido a tão comentada cena de sexo oral explícito entre o ator-diretor Vincent Gallo e Chloe Sevigny. Ocorre que o filme é muito mais do que isso. O tom aparentemente em alguns momentos chega a quase ser documental, ao retratar em longos planos-seqüências auto-estradas e pequenas cidadezinhas. E o incrível é que apesar disso o filme não tem nada de chato. Os enquadramentos de câmera em tais seqüências são simples, mas muito bem executados. É como se olhássemos tudo com a perspectiva do protagonista Bud Clay (Vincent Gallo), sendo que ficamos com a permamente sensação de solidão ou de que algo errado está para acontecer, não se sabendo exatamente o que. Algumas sobreposições de imagens também acentuam uma constante sensação angústia do personagem principal. De se destacar ainda a brilhante utilização da música durante o filme: a forma como a trilha simplesmente invade as imagens tem um efeito fantástico. E a tal cena da felação é utilizada de forma nada gratuita, estando perfeitamente de acordo com o espírito e contexto do filme. Aliás, tal seqüência está muito mais para o melancólico do que o propriamente erótico.

Não considero “Brown Bunny” perfeito, pois o final, apesar de impactante, dá respostas de forma muito abrupta, não estando de acordo com o próprio ritmo do filme. Mas mesmo assim considero essa produção de caráter fortemente anti-comercial uma das obras mais instigantes a ter saído do cinema norte-americano nos últimos anos.

quarta-feira, julho 12, 2006

As Loucuras de Dick e Jane, de Dean Parisot ***1/2

Em algumas oportunidades um filme despretensioso e aparentemente superficial consegue captar com muito mais fidelidade o espírito de uma época do que outro “sério” e “artístico”. Esse é o caso de “As Loucuras de Dick e Jane”, produção de 2006 que também é uma refilmagem de “Adivinhe Quem Veio Para Roubar” (1977), filme esse que confesso ainda não ter assistido.

A partir da história de Dick Harper (Jim Carrey), alto executivo que vê o seu mundo desabar quando a outrora poderosa empresa em que trabalha vai à bancarrota e se torna um assaltante junto com a esposa Jane (Tea Leoni) para manter seu padrão de vida, o diretor Dean Parisot faz um inventário irônico sobre os pesadelos maiores da classe média norte-americana, bem como oferece uma visão nada abonadora sobre as mutretas das grandes corporações econômicas. O final, inclusive, faz piada com a Enron, empresa que protagonizou um dos maiores escândalos financeiros da história dos EUA.

O grande mérito de Parisot é pegar uma temática complicada como essa e conseguir enquadra-la numa comédia tremendamente azeitada e divertida. Mesmo quem não está muito interessado em refletir sobre as agruras econômica dos norte-americanos vai dar umas boas risadas com a odisséia tragicômica dos protagonistas. Há momentos antológicos no filme de puro humor negro que chegam a ser perturbadores, como quando Dick é obrigado a enfrentar literalmente no braço uma série de executivos numa fila de candidatos para emprego ou quando começa a batalhar um emprego braçal junto com imigrantes chicanos, sendo que se chega até mesmo às raias do assustador na seqüência em que Jane fica deformada ao servir de cobaia para uma espécie de botox. Esses momentos de “As Loucuras de Dick e Jane” retratam de forma ácida e bem humorada os temores de boa parte da sociedade norte-americana, questionando a relação felicidade e poder econômico. As fronteiras entre a calma da família Harper no início do filme e o inferno pela qual a mesma passa posteriormente são tênues e delimitadas por um cargo bem remunerado.

De se destacar ainda no filme a ótima seqüência em que mostra a sucessão de assaltos cometidos pelos nossos heróis, além de pequenas sacadas cômicas que acentuam ainda mais o caráter sarcástico de “As Loucuras de Dick e Jane”: o filho do casal que só fala espanhol por influência da empregada doméstica, a prisão por tráfico de drogas da idosa e sorridente ex-funcionária da empresa em que Dick trabalhava, o antigo colega de Dick que é espancado na prisão por policiais enquanto comemora o recebimento de uma indenização trabalhista.

As coisas só desandam em “As Loucuras de Dick e Jane” no seu terço final, quando se acaba apelando para uma solução politicamente correta para os problemas dos protagonistas, diminuindo um pouco do humor corrosivo do filme. O que não impede, contudo, que essa produção seja um dos títulos cômicos mais expressivos de 2005.

terça-feira, julho 11, 2006


Perdita Durango, de Alex de La Iglesia ***1/2

Apesar da personagem título também estar presente em "Coração Selvagem", este filme do espanhol Alex de La Iglesia não tem muito a ver com o universo onírico e surreal de David Lynch. "Perdita Durango" pende muito mais para uma estranha mistura de comédia de humor negro e road movie, chegando até mesmo a lembrar em alguns momentos o clássico cult "Santa Sangria" de Alejandro Jodorowsky, principalmente nas seqüências envolvendo um insano espetáculo circense de voodoo comandado por Romeo Dolorosa (Javier Barden), o par romântico da nossa “heroína”. Iglesia filma tudo isso com um estilo seco e brutal, utilizando-se de uma fotografia que remete diretamente a spaghetti westerns, abusando de paisagens empoeiradas e de cores quentes. É fascinante também a forma com que o cineasta consegue criar climas amorais e perturbadores no meio da orgia de violência promovida por Romeo e Perdita (Rosie Perez), casal esse que tem um absurdo carisma. A única coisa destoante realmente em "Perdita Durango" é o seu final um tanto bunda mole, que vem com uma espécie de "moral da história" que parece negar todo o sarcasmo e cinismo que imperam por boa parte do filme.

segunda-feira, julho 10, 2006


O Elo Perdido, de Regis Wargnier **1/2

Talvez o principal problema que leva parte do público e crítica a tratar com tanta má-vontade "O Elo Perdido" é o fato de quererem levar o mesmo a sério demais, como se ele fosse um drama que pretende realmente questionar a ética científica ou louvar a pureza dos "bons selvagens". Na verdade, essa obra mais recente do diretor francês Regis Wargnier, que já fez filmes bem melhores como "Eu Sou O Senhor do Castelo" e "Leste-Oeste", é um passável filme de aventura com direção-de-arte e fotografia acima da média. Dessa forma, não procurem grande profundidade psicológica na trama ou nos personagens. Aliás, nesse último quesito, "O Elo Perdido" chega a ter um humor involuntário quase "trash" na forma com que a dupla de protagonistas intepretada por Joseph Fiennes e Kristin Scott Thomas convertem-se num piscar de olhos de exploradores cruéis e frios em emocionados e bem intencionados defensores dos pigmeus capturados no início do filme.

domingo, julho 09, 2006


Plano de Vôo, de Robert Schwentke *

Até agora eu não entendi se “Plano de Vôo” é uma refilmagem de “A Dama Oculta” (suspense da fase inglesa de Alfred Hitchcock) ou é puro plágio mesmo. Bem, independente da resposta, o que se pode afirmar com certeza é que “Plano de Vôo” é uma das piores coisas que assisti nos cinemas nos últimos anos. Mesmo partindo de uma premissa interessante (com a qual Hitchcock fez maravilhas, diga-se de passagem), o diretor Schwentke não consegue criar um mínimo clima real de tensão e nem fazer alguma cena realmente digna de nota. O cineasta concentra-se por diversos momentos em detalhes inúteis para a sua trama, dando a impressão de que parece estar dirigindo um drama quando deveria estar fazendo um suspense. E a mediocridade se espalha também para o elenco: Peter Sasgaard parece estar ali só batendo ponto como um vilão inócuo e Jodie Foster em nenhum momento consegue acertar o tom de sua personagem. Digno de nota ainda é o risível final que parece chamar de idiota o expectador.

sábado, julho 08, 2006


Casa Vazia, de Kim Ki-Duk ***1/2:

A primeira metade de “Casa Vazia” remete muito ao cinema de Takeshi Kitano: poucos diálogos e valorização de silêncios, um certo clima de ingenuidade. O diretor coreano Kim Ki-Duk, que também dirigiu o fantástico “Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera”, aposta em um cinema quase que puramente visual, em que a ação dos personagens determina com eficiência o entendimento da trama. Incomoda apenas a caracterização da dupla de protagonistas, que parecem pouco humano tamanha a castidade que transmitem (mesmo quando fazem sexo, temos a impressão de uma pureza descabida). Na segunda metade de “Casa Vazia”, o filme toma um rumo ainda mais insólito e criativo, sendo que há seqüências que são um puro exercício de artes marciais, principalmente nas cenas da cadeia e nos seus momentos finais.

sexta-feira, julho 07, 2006


Eros, de Michelangelo Antonioni, Steven Soderbergh e Wong Kar-Wai ***

O resultado final desse filme em episódios é tremendamente descompassado, tamanha a diversidade na qualidade de cada um deles. O primeiro, "Il Filo Pericoloso Delle Cose", de Antonioni, é pura decepção. O velho mestre italiano retoma uma de suas temáticas favoritas, a incomunicabilidade humana, de forma frouxa e vazia, não lembrando em nada a trama bem elaborada e madura de "A Noite" ou a extrema vivacidade narrativa e estilística de "Blow Up - Depois Daquele Beijo". Em quase nenhum momento o filme consegue realmente despertar algum interesse sobre uma trama capenga. Em vários momentos temos a impressão de estarmos vendo um longo comercial de sabonete. Aliás, há tempos eu não via atores tão mal dirigidos. Para não dizer que o filme é um desastre completo, há algumas belas cenas de nudez com Luisa Ranieri, mas mesmo assim isso é muito pouco para um cineasta que é uma das maiores referências na história do cinema. Já em "Equilibrium", de Soderbergh, as coisas melhoram bastante. Apesar de uma certa afetação do roteiro, o episódio rende alguns momentos bem divertidos, principalmente pelo cinismo e cara-de-pau do psiquiatra interpretado por Alan Arkin. De se destacar ainda a direção de fotografia em preto e branco, altamente estilosa. O que faz, entretanto, "Eros" realmente valer o ingresso é o espetacular episódio "The Hand", um dos melhores trabalhos já realizados pelo grande Wong Kar Wai. Tematicamente, lembra bastante o trabalho anterior do diretor chinês, "Amor a Flor da Pele", ao retratar uma história de amor impossível. Só que o resultado é ainda mais impactante, tendo em vista o tratamento ágil e conciso e ao mesmo tempo fortemente emocional que o cineasta consegue imprimir nesse trabalho mais recente. O relacionamento entre o jovem costureiro virgem e a prostituta que é sua cliente preferencial rende seqüências de rara beleza dramática, variando com sensibilidade da tensão erótica para a cumplicidade. A recriação da Xangai dos anos 60 também é magnífica, oscilando entre o chique e o deprimente, o que acaba sendo o pano-de-fundo perfeito para a trama que também envolve o apogeu e queda da prostituta interpretada por Gong Li.

quinta-feira, julho 06, 2006


O Mercador de Veneza, de Michael Radford **1/2:

Devo confessar que achei perturbador essa recente adaptação para o cinema de "O Mercador de Veneza", só que por razões extra-cinematográficas. Explico: durante a minha vida de "cinemeiro" assisti tantos filmes sobre a 2ª Guerra onde judeus são retratados como vítimas que acabei ficando chocado em ver uma obra cujos "heróis" são descaradamente anti-semitas. Mas é claro que isso tem uma explicação perfeitamente compreensível: é a adaptação fiel de uma peça escrita em uma época em que preocupações politicamente corretas não eram levadas muito em conta.

Esquecendo esses detalhes antropológicos e falando no aspecto que interessa para esse blog, "O Mercador de Veneza" é um filme que deixa a desejar. Apesar da excelente direção de arte que recria com fidelidade a Veneza medieval, essa versão cinematográfica da obra clássica de Shakespeare tem uma narrativa pesada, pouco ágil, caindo em vários momentos no puro teatro filmado. O diretor Michael Radford para esquecer que há importantes diferenças entre as linguagens de teatro e cinema e que nem tudo que fica adequado para uma peça é a melhor escolha para um filme, sendo que acabamos tendo saudade das excelentes adaptações cinematográficas de Kenneth Branagh para as obras do velho bardo inglês. Apesar disso tudo, "O Mercador de Veneza" até vale uma conferida pela engraçada interpretação afetada de Jeremy Irons e a caracterização repulsiva de Al Pacino para o vilão Shylock.

quarta-feira, julho 05, 2006

O Ladrão de Bagdá, de Ludwig Berger, Michael Powell e Tim Whellan ****

Uma velha discussão que geralmente vem à tona quando se fala de cinema é sobre o fato de determinados filmes serem considerados datados ou não. Independente da resposta, considero que isso não seja primordial para determinar a qualidade de um filme. Pode até parecer óbvio o que vou dizer, mas uma obra cinematográfica sempre é o reflexo da época em que foi feito, e isso fica evidente tanto nos recursos de produção quanto na sua parte temática. Dessa forma, acredito que a perenidade da mesma está muito mais ligada a criatividade e competências das pessoas nela envolvidas do que a data em que ela foi realizada.

Bem, todo esse breve devaneio serve para dizer que "O Ladrão de Bagdá", clássica aventura de 1940, em cada um dos seus fotogramas parece trazer estampado a palavra datado. Mas isso não impede, entretanto, que o mesmo seja apreciado pelos amantes do cinema como aquilo que ele sempre foi: um dos grandes momentos de curtição escapista já realizados. Na verdade, o glorioso technicolor, o tom ingênuo da narrativa e as belas e primitivas trucagens parecem aumentar ainda o poderoso encanto do filme. A transposição de lendas árabes para as telas também é magnífica no aspecto de conciliar uma série de referências mitológicas em um roteiro enxuto e tremendamente divertido.

O resultado de tudo isso é uma obra-prima recheada de momentos antológicos. São inesquecíveis seqüências como aquela em que o Sultão (Miles Malleson), fissurado por brinquedos mecânicos, sai voando em um estranho cavalo alado ou quando aparece pela primeira vez o sinistro Gênio (Rex Ingram). Essas e outras seqüências do mesmo calibre revelam um fantástico trabalho de caracterização de cenários e personagens que impressionam ainda mais por serem de uma época em que os efeitos especiais não dependiam de recursos digitais.

Não se pode esquecer de lembrar que "O Ladrão de Bagdá" traz também um dos vilões mais marcantes da história do cinema, o tenebroso Jaffar, interpretação magnífica de Conrad Veidt. O seu expressivo olhar maligno parece ser um efeito especial por si só.

Datado ou não, a verdade é que "O Ladrão de Bagdá" é uma obra atemporal e fundamental como poucas, exemplar clássico do gênero fantástico e que deve ser urgentemente visto, ou até mesmo revisto, por qualquer apreciador de cinema.

terça-feira, julho 04, 2006

Os 50 Maiores Filmes de Todos os Tempos na visão de André Kleinert


1) O Poderoso Chefão – Parte 1 – Francis Ford Coppola
2) O Poderoso Chefão – Parte 2 – Francis Ford Coppola
3) Apocalipse Now – Francis Ford Coppola
4) O Selvagem da Motocicleta – Francis Ford Coppola
5) Meu Ódio Será Tua Herança – Sam Peckinpah
6) O Pagamento Final – Brian De Palma
7) Um Corpo Que Cai – Alfred Hitchcock
8) Era Uma Vez no Oeste – Sergio Leone
9) Kill Bill – Vol. 1 – Quentin Tarantino
10) Morte em Veneza – Luchino Visconti
11) Três Homens Em Conflito – Sergio Leone
12) A Doce Vida – Frederico Fellini
13) Os Imperdoáveis – Clint Eastwood
14) Old Boy – Chan-Wook Park
15) Touro Indomável – Martin Scorsese
16) Asas do Desejo – Wim Wenders
17) Taxi Driver – Martin Scorsese
18) Os Bons Companheiros – Martin Scorsese
19) Rastros de Ódio – John Ford
20) O Último Concerto de Rock – Martin Scorsese
21) Almas Gêmeas – Peter Jackson
22) Pulp Fiction – Quentin Tarantino
23) Cães de Aluguel – Quentin Tarantino
24) Os Intocáveis – Brian De Palma
25) Viver e Morrer em Los Angeles – William Friekin
26) Rejeitados Pelo Diabo – Rob Zombie
27) Lolita – Stanley Kubrick
28) Os Incompreendidos – François Truffaut
29) Kill Bill – Vol. 2 – Quentin Tarantino
30) Dr. Fantástico – Stanley Kubrick
31) O Estado das Coisas – Wim Wenders
32) Os Sete Samurais – Akira Kurosawa
33) Fargo – Ethan Coen
34) Morangos Silvestres – Ingmar Bergman
35) Colateral – Michael Mann
36) Um Tiro na Noite – Brian De Palma
37) A Conversação – Francis Ford Coppola
38) Depois Daquele Beijo – Michelangelo Antonioni
39) Um Coração no Inverno – Claude Sautet
40) Sob o Domínio do Medo – Sam Peckinpah
41) A Laranja Mecânica – Stanley Kubrick
42) Fanny & Alexander – Ingmar Bergman
43) Robocop – Paul Verhoeven
44) Dublê de Corpo – Brian De Palma
45) A Dama Do Shangai – Orson Welles
46) Os Corruptos – Fritz Lang
47) O Segredo das Jóias – John Huston
48) Rocco e seus Irmãos – Luchino Visconti
49) Conquista Sangrenta – Paul Verhoeven
50) Os Eleitos – Philip Kaufman

segunda-feira, julho 03, 2006


Brothers, de Susanne Bier ****

A diretora dinamarquesa Susanne Bier já havia mostrado um talento cinematográfico considerável no ótimo "Corações Livres", obra essa que faz parte do movimento Dogma 95. Ela voltou ainda em melhor forma em "Brothers", filme que apesar de não pertencer oficialmente ao Dogma traz fortes influências desse, tanto no estilo de filmagem quanto na parte temática. Susanne Bier utiliza-se de enquadramentos quase documentais e luz natural com um acabamento formal fantástico e que acentua ainda mais o poderoso impacto de sua trama. Aliás, parte da força de "Brothers" reside no seu roteiro muito bem elaborado, que combina magistralmente drama familiar com uma visão crítica e contundente sobre a guerra e o militarismo. O drama do oficial que volta para casa depois de ser dado como morto é comovente sem cair no piegas, ao mesmo tempo que é retratado de forma crua. A diretora não procura soluções fáceis para os personagens, o que acaba dando uma perspectiva ainda mais humanista para a sua trama. Outro ponto forte da cineasta é o excelente trabalho de direção de atores, especialmente em relação trio principal, que soube captar com perfeição todas as nuances de seus respectivos personagens, variando admiravelmente da serenidade para violentas explosões emocionais.

O poderoso resultado final de “Brothers” ajuda a entender porque Hollywood já estáse apressando em realizar uma refilmagem americana do filme. Se tal revisão tiver metade da força do original, pode-se dizer que teremos uma produção no mínimo interessante.

sábado, julho 01, 2006


Duelo de Campeões, de David Anspaugh *

Assistir um filme norte-americano sobre futebol norte-americano, ou “soccer” para eles, definitivamente não é uma experiência cinematográfica das melhores. Talvez isso ocorra pelo fato dos EUA serem um país sem muita intimidade com o esporte em questão. O engraçado é que quando eu assisti “Duelo de Campeões” pensava direto em “Um Domingo Qualquer”, furiosa e subestimada obra de Oliver Stone que tem como pano de fundo os bastidores de um time de futebol americano. O filme de Stone é pura vibração, sendo que as seqüências de jogo são filmadas com tamanha paixão e violência que fazem com que o expectador sinta-se até como um torcedor devido à intensidade de tais cenas. Efeito totalmente oposto é obtido pelo diretor David Anspaugh em “Duelo de Campeões”: seu filme é frio, esquemático, sem o menor traço de vida, não havendo sequer uma seqüência cinematográfica digna de nota. A verdade é que se vocês quiserem ver algum filme recente bom sobre futebol é melhor assistir ao hilariante “Kung Fu Futebol Clube”, de Stephen Chow, uma prova de que se pode fazer algo criativo dentro dessa temática