segunda-feira, outubro 30, 2006


Cotações da Semana (de zero a quatro estrelas)

Da Cama Para A Fama, de Pablo Berger ***1/2
A Noiva Síria, de Eran Riklis ***1/2
Menina Má.Com, de David Slade ***1/2
Pequena Miss Sunshine, de Jonathan Dayton e Valerie Faris ***
Dália Negra, de Brian De Palma ***1/2
Carga Explosiva 2, de Louis Leterrier *1/2

sexta-feira, outubro 27, 2006


O Feitiço de Áquila, de Richard Donner ***1/2

Uma das coisas que mais impressiona nessa fantasia de 1985 é o fato do diretor Richard Donner conseguir deixar a sua marca de mestre do cinema de aventura moderna mesmo dentro do contexto histórico medieval. A direção de arte de “O Feitiço de Áquila” é bem cuidada, mas não tem a pretensão da fidelidade temporal. Na verdade, o fato do filme se passar na Idade Média é apenas um eficiente pano de fundo para uma eletrizante produção de ação típica de Donner. E nisso o cara é tremendamente competente: o ritmo da narrativa é frenético, com seqüências de ação na medida certa, com Donner sabendo o momento certo de tirar o pé do acelerador, enfocando na dose precisa a bela e mágica história de amor entre o casal amaldiçoado (Michelle Pfeiffer e Rutger Hauer). Além disso, o cineasta mostra mão cheia na comédia ao conseguir ótimas seqüências cômicas com o então astro em ascensão Matthew Broderick que interpreta um ladrão desastrado que ajuda o casal protagonista.

Outro aspecto bem interessante de “O Feitiço de Áquila” é a sua trilha sonora. A música composta por Andrew Powell não lembra em nada temas referentes à Idade Média, estando muito mais para o pop dos anos 80. O que poderia causar estranhamento na verdade casa com perfeição com a proposta estética de Donner de fazer um filme de época modernizado. O resultado da combinação música e imagem acaba tendo um efeito bem singular.

“O Feitiço de Áquila” não está no meu Top 5 Richard Donner, mas mesmo assim considero como um belo exemplar do estilo Donner de filmar.

quinta-feira, outubro 26, 2006


Edison, de David J. Burke (zero estrela)

Sou um cara que em termos cinematográficos procura não ter preconceitos. Procuro assistir de tudo, pois tenho a opinião de que em algumas oportunidades podemos encontrar pérolas de onde menos se espera. Ao mesmo tempo, confesso que tenho um carinho especial por certos gêneros, no sentido de que geralmente quando aparece alguma obra numa dessas áreas preferenciais acabo indo assistir, mesmo não tendo muitas referências. Dentro desses meus gêneros favoritos, os policiais ocupam um lugar muito especial. Afinal, um filme dessa linha lida bastante com elementos primordiais da linguagem cinematográfica como movimentos de câmera, fotografia e edição. Esse apuro estético nos filmes policiais pode ser constatado em obras primas do gênero como “Operação França”, “Viver e Morrer em Los Angeles” e “Bullit”.

Bem, toda essa breve digressão sobre o cinema policial serve para mostrar que me sinto totalmente à vontade para dizer que “Edison”, produção norte-americana de 2005, é uma das coisas mais constrangedoras já feitas no gênero e certamente o pior filme que assisti nesse ano de 2006 no cinema. O diretor David J. Burke parece nunca ter assistido alguma obra do gênero. A dinâmica narrativa de “Edison” é truncada e sem vida. Para Burke, algo básico como montagem se limita a truques de video clip. O roteiro também é um caso a parte em termos de ruindade. Vários clichês são regurgitados (corrupção na polícia, jornalistas e corretores em busca da verdade, represálias contra os “mocinhos”), mas são trabalhados da forma mais mecânica possível. Não há aquela naturalidade e paixão que faz com que até os elementos previsíveis possam ser causadores de tensão e interesse (coisa que o mestre Michael Mann ensina com brilhantismo nos magníficos “Colateral” e “Miami Vice”).

O que também ajuda “Edison” a naufragar é o péssimo trabalho de caracterização de personagens e de atuação dramáticas do elenco. Morgan Freeman repete de forma piorada o seu eterno papel de “amigo do mocinho que dá conselhos sábios”, enquanto que Kevin Spacey tem um trabalho quase nulo de interpretação, dedicando-se mais a olhares canastrões e fazer caras e bocas (sério, mas a impressão que se tem é que o cara está mais preocupado em mostrar o seu corte de cabelo). Já em relação a Justin Tinberlake e LL. Cool J é aquela coisa: Tinberlake é um cantor pop legal e Cool J já fez belos discos de rap, mas como atores são risíveis.

Eu tenho uma certa filosofia em relação a filmes: nunca recomendo que uma pessoa não assista a um filme. Afinal, seria meio injusto que é uma impressão ruim minha tivesse a possibilidade de fazer com que alguém deixasse de ver uma obra que pudesse gostar. Por isso, assistam “Edison” e vejam como fazer tudo errado em uma produção cinematográfica. E aqui também caio naquele velho lugar comum: em alguns momentos a incompetência é tanta que chega a ser engraçado!!

quarta-feira, outubro 25, 2006


Evil Dead – A Morte do Demônio, de Sam Raimi ****

Lembro-me que quando finalmente compraram um vídeo cassete lá em casa, por volta de 1989, um dos primeiros filmes que peguei na locadora para assistir foi “Evil Dead – A Morte do Demônio”, de Sam Raimi. Eu já tinha assistido à sua magnífica seqüência “Uma Noite Alucinante” no cinema, e que me tinha deixado curioso para assistir a primeira parte. Apesar de terem tramas bem parecidas, os filmes se diferenciam bastante pelo enfoque. Enquanto que na continuação existe uma forte tendência para a comédia de humor negro, em “A Morte do Demônio” temos uma pura obra de horror com momentos de tensão fortíssimos.

Numa revisão recente que fiz que de “A Morte do Demônio”, fiquei impressionado ao constatar que o filme conservou de forma irretocável o seu poderoso impacto visual e narrativo. Mesmo que alguns truques de maquiagem pareçam um pouco mais toscos comparados ao que se faz hoje, é de cair o queixo assistir o que Sam Raimi aprontou com tão poucos recursos. Ele abusa do terror explícito, cheio de violência, sangue e pus, mas consegue ao mesmo tempo realizar seqüências em que o suspense chega perto do insuportável. O expectador fica com a constante impressão de estar fazendo uma verdadeira descida ao inferno ao acompanhar a angustiante história de Ash (Bruce Campbell) e seus amigos que vão sendo dizimados um a um de forma pavorosa por cruéis demônios.

Sam Raimi também já se mostrava nesse seu trabalho de estréia como um tremendo cineasta ao revelar aguçado apuro técnico, mesmo não tendo muita grana a disposição. Os movimentos de câmera são ágeis e intensos, oferecendo ângulos insólitos e que dão uma dinâmica fascinante para “A Morte do Demônio”. Dessa forma as seqüências antológicas vão se sucedendo de forma fantástica. A começar pela sugestão dos espíritos maléficos correndo pela floresta em direção à cabana em que os personagens estão refugiados, movimento esse que é evidenciado pelo frenético travelling da câmera. Inesquecível também é o momento em que uma das vítimas corre pela floresta e acaba sendo presa e estuprada pelas árvores, num trabalho de trucagem perfeito.

Depois de “Uma Noite Alucinante”, Sam Raimi dirigiu um terceiro segmento da série “Evil Dead”, o fabuloso “Army of Darkness”, uma mistura inacreditável de aventura épica, horror e comédia, fechando de forma brilhante a sua trilogia. É claro que Raimi dirigiu outros filmes maravilhosos (“Darkman”, “Um Plano Simples”, “Homem Aranha 2”), mas o seu grande pico criativo continua sendo “A Morte do Demônio” e suas inspiradas seqüências.

terça-feira, outubro 24, 2006


Quase Um Segredo, de Jacob Aaron Estes ***

Essa produção norte-americana de 2003 é um típico exemplar do cinema independente dos EUA na atualidade. Não há grandes preocupações com arroubos virtuosísticos, dedicando-se um cuidado maior no contar uma história e na caracterização psicológica dos personagens. Na história de um grupo de adolescentes que mata sem querer um menino gordo e xarope que sempre encheu o saco dos mesmos, há a intenção por parte do diretor Jacob Aaron Estes em mostrar uma realidade que não é tão preto no branco, evitando-se julgamentos maniqueístas e se buscando mais uma visão madura sobre a questão da culpa e redenção. E ele até consegue ser bem sucedido nessa intenção, sendo que é notável a forma com que a personalidade e reações de cada um dos envolvidos no crime são diversas, dando a “Quase Um Segredo” uma perspectiva bem humana para a sua trama e personagens. Aliado a isso, há também um competente trabalho de direção de fotografia, que valoriza muito a beleza grandiosa e sinistra da floresta onde se passa a grande maioria das externas do filme.

segunda-feira, outubro 23, 2006


Stargate, de Roland Emmerich **

Essa ficção científica de 1994 até que tem uma produção bem cuidada, mas o seu resultado final é frustrante. Apesar do capricho nos efeitos especiais e na direção de arte, não há nenhuma seqüência em “Stargate” que realmente empolgue. Assistimos ao filme impassíveis tamanha a falta de uma direção mais consistente por parte do diretor Roland Emmerich. Colabora ainda para o marasmo um elenco completamente no piloto automático. A começar por um James Spader inexpressivo, além do grande Kurt Russell parecer não estar muito a vontade num papel que normalmente ele tiraria de letra (não lembrando nada os viscerais e carismáticos heróis que ele interpretou em alguns belos clássicos de John Carpenter). Mas a grande burrada mesmo foi colocar Jaye Davidson no papel do vilão. Como é que um cara com pinta de travesti anêmico vai meter medo em alguém? Podia funcionar no sensacional “Traídos Pelo Desejo”, mas em um filme de ficção científica...

Cotações da Semana (de zero a quatro estrelas)

O Grito 2, de Takashi Shimizu ***
Pânico na Montanha, de Don Coscarelli ***
Sonhos na Casa da Bruxa, de Stuart Gordon ***
Condenados a Viver, de Joquín Romero Marchent ****
A Grande Guerra Yokai, de Takashi Miike ***1/2
Dança dos Mortos, de Tobe Hooper ***
Jenifer, de Dario Argento ****
Vyi – O Espírito do Mal, de Georgi Kropachyov e Konstantin Yershov ****
Chocolate, de Mick Garris **1/2
Candidato Maldito, de Joe Dante ****
Os Olhos da Cidade São Meus, de Bigas Luna ****
Lenda Assassina, de John Landis ***1/2
Pacto com o Demônio, de William Malone **1/2
Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, de José Mojica Marins ****
O Despertar da Besta, de José Mojica Marins ****
Criatura Maligna, de Luke McKee ***1/2
Estrada da Morte, de Larry Cohen ***
Conheça os Feebles, de Peter Jackson ****
A Terrível História de Haeckel, de John McNaughton ***
Marcas do Terror, de Takashi Miike ****
Quem Pode Matar Uma Criança, de Narciso Ibáñez Serrador ****
A Cura, de Kiyoshi Kurosawa ***1/2
Planeta Proibido, de Fred M. Wilcox ***1/2
Zombie – A Volta dos Mortos, de Lucio Fulci ****
Dinheiro Sujo, de Jean-Pierre Melville ****

segunda-feira, outubro 16, 2006

Paradise Now, de Hany Abu-Assad ***

É claro que tematicamente “Paradise Now” é uma obra que chama atenção logo de cara. Afinal, não é todo dia que se vê um filme que foca a questão do conflito entre Israel e Palestina pelo ângulo muçulmano, mais especificamente ainda, na visão de um homem-bomba. Tira-se bastante daquele caráter maniqueísta e simplório em que indivíduos como esse são simplesmente retratados como fanáticos religiosos. O diretor Hany Abu-Assad consegue oferecer para o expectador um contexto que esmiúça algumas das razões que levam uma pessoa a tomar uma decisão tão radical em favor de uma causa. Em termos formais, entretanto, “Paradise Now” é apenas correto, não apresentando maiores ousadias. A tensão que permeia o filme decorre da própria trama, por si só explosiva, e não da sua construção narrativa. Abu-Assad se preocupou mais em contar uma história do que arriscar em vôos virtuoses, ao contrário do extraordinário “Munique” de Steven Spielberg, obra essa com temática semelhante a “Paradise Now”.

Cotações da Semana (de 0 a 4 estrelas)

Canibal Holocausto, de Ruggero Deodato ***1/2
O Diabo Veste Prada, de David Frankel **1/2
À Meia Noite Levarei Sua Alma, de José Mojica Martins ****
Madame Bovary, de Claude Chabrol ***1/2
Claude Chabrol, o Entomologista, de André S. Labarthe e Janine Bazin ***
Adeus Meninos, de Louis Malle ****
O Bicho Vai Pegar, de Roger Alles, Jill Culton e Anthony Stacchi **1/2
A Nouvelle Vague Por Si Mesma, de Robert Valley ***
Uma Abordagem de Alan Resnais, de Michel Leclec ***
Aniversário Macabro, de Wes Craven ***1/2
Conspiradores do Prazer, de Jan Svankmajer ***1/2
O Samurai do Entardecer, de Yôji Yamada ***1/2
Ghost World, de Terry Zwigoff ****
Madagascar, de Eric Darnell e Tom McGrath ***1/2
Ensina-me a Viver, de Hal Ashby ****

domingo, outubro 15, 2006


A Dama de Vermelho, de Gene Wilder **1/2

Alguns filmes, independentes de suas qualidades, acabam ficando registrados no imaginário cinematográfico devido a algum acaso feliz. Esse é o caso de “A Dama de Vermelho”. Para quem já gostava de cinema nos anos 80 é impossível não lembrar da seqüência em que a gostosa (e atualmente sumida) Kelly Le Brock evoca Marilyn Monroe com o seu vestido esvoaçante. Fora isso, temos aquele tipo de filme que fica pelo caminho, ao não conseguir se definir como uma abordagem irônica sobre o adultério ou como pastelão rasgado.

Vale mencionar ainda um detalhe que particularmente me irrita em “A Dama de Vermelho”: esse é o filme que fez com que boa parte de uma geração pensasse em Stevie Wonder como o tiozinho cego que canta “I Just Called To Say I Love You”, uma musiquinha bonita, mas ordinária. Por isso, aproveito o espaço desse blog e recomendo: senhores, ouçam obras primas como “Talking Book” e “Innervisions” e comprovem que Stevie Wonder é gênio.

segunda-feira, outubro 09, 2006


Cotações da Semana (de zero a quatro estrelas)

A Dália Negra, de Brian De Palma ***1/2
Maldição, de **1/2 de Courtney Salomon
Feel Like Going Home, de Martin Scorsese ****
Red, White & Blues, de Mike Figgis ***
Warming By The Devil’s Fire, de Charles Burnett ***1/2
A Marca do Assassino, de Seijun Suzuki ****
Tóquio Violenta, de Seijun Suzuki ****

quinta-feira, outubro 05, 2006


O Operário, de Brad Anderson ***1/2

O que achei muito interessante nessa produção norte-americana de 2003 é que a mesma possui uma trama em que realidade e delírio se misturam de uma forma que a gente dificilmente consegue distinguir uma da outra (ao contrário de filmes medíocres como "Em Busca da Terra do Nunca", que gostam de deixar tudo bem mastigadinho para o expectador). É claro que percebemos que Trevor Reznik (Christian Bale), o protagonista do filme, está num processo de loucura, mas como enxergamos tudo da perspectiva do personagem em questão, essa visão acaba sendo bem nebulosa. Decepciona um pouco em “O Operário” o seu final, onde se procurou amarrar as coisas demais, indo contra a proposta geral do filme. É o oposto do que faz o David Lynch, por exemplo, que está andando se o público vai entender ou não os absurdos de seus filmes. Mas mesmo assim vale muito assistir o filme, até pela atuação magnífica do Chistian Bale, que emagreceu 30 quilos para fazer o seu papel.

terça-feira, outubro 03, 2006


Ghost World, de Terry Zwigoff ****

Se em “Feel Like Going Home” o blues é a tônica dominante por todo o filme, em “Ghost World”, adaptação para as telas da série de quadrinhos de mesmo nome, ele é apenas um dos elementos que compõe o amplo panorama de personagens e situações fantasticamente caracterizadas pelo diretor Terry Zwigoff. Mesmo assim, o impacto da presença do blues é marcante nessa inquietante obra cinematográfica ao nos depararmos com o desajustado Seymour (Steve Buscemi em atuação soberba), um sujeito esquisitão cujos hobbys são garimpar velhos vinis de blues em feiras domésticas e assistir shows de velhos bluesmen (impossível nesses momentos não lembrar do divertido ranzinza Harvey Pekar de “Anti-Herói Americano”). Mas “Ghost World” vai ainda mais além desse aspecto cômico, sendo que Zwigoff destila ácido na sua visão irônica e cruel do american way of life ao retratar o quotidiano de duas amigas adolescentes, Enid (Thora Birch) e Rebecca (Scarlett Johansson), que procuram inutilmente fugir da mesmice da cidadezinha onde vivem. O cineasta já havia demonstrado o seu apego pelos desajustados no fantástico “Crumb” (1994), maravilhoso documentário sobre a vida, obra e pensamento do cartunista Robert Crumb, figura tarimbada do underground dos EUA. A ironia melancólica e inconformista de Zwigoff faz de “Ghost World” uma verdadeira pérola a ser descoberta pelos amantes do cinema.

P.S.: “Ghost World” sera exibido pelo Clube de Cinema de Porto Alegre em 15/10/2006, às 10:15 da manhã, lá no Santander Cultural. Os leitores desse blog estão convidados. E é de graça!!

segunda-feira, outubro 02, 2006


Cotações da semana (de zero a quatro estrelas)

As Torres Gêmeas, de Oliver Stone ***
Elsa e Fred – Um Amor de Paixão, de Marcos Carnevale *
O Abismo do Medo, de Neil Marshall ***1/2
O Arco, de Kim Ki-Duk ***
Plataforma, de Jia Zhang-Ke **1/2
Paixões Que Alucinam, de Samuel Fuller ****
Almas Perversas, de Fritz Lang ****
Grand Prix, de John Frankenheimer ****
E A Festa Acabou, de Bill L. Norton ***1/2
Feel Like Going Home, de Martin Scorsese ****