segunda-feira, agosto 27, 2007

Filmes da Semana (cotações de 0 a 4 estrelas)


O Ultimato Bourne, de Paul Greengrass ***1/2
Brasileirinho, de Mika Kaurismaki ***1/2
O Grito, de Michelangelo Antonioni ****
A Força do Destino, de Taylor Hackford ***
Cena Mafiosa 2, de Takashi Miike **
Tenacious D e a Palheta do Destino, de Liam Lynch ****
Team America – Detonando o Mundo, de Trey Parker ****
Contra a Parede, de Fatih Akin ****

sexta-feira, agosto 24, 2007

Pecados Íntimos, de Todd Field ***1/2


Confesso que estava com um pé atrás com esse “Pecados Íntimos”. Afinal, o diretor do filme é Todd Field, o mesmo realizador do pretensioso e insosso “Entre Paredes”. No entanto, acabei tendo uma agradável surpresa assistindo ao filme. Field evoluiu barbaridade como cineasta, além de se revelar dotado de um acurado senso de ironia. O cineasta pega uma trama que envolve questões espinhosas como pedofilia, insatisfação sexual e adultério e dá um tratamento até mesmo original, misturando momentos altamente dramáticos com outros de puro sarcasmo, lembrando bastante nesse sentido “Beleza Americana”. Field dispensa maniqueísmos e simplificações, dando uma dimensão dramática consistentes para os seus personagens. O pedófilo Ronnie (Jackie Earle Haley), por exemplo, pode despertar uma natural repulsa pelo seu comportamento em algumas seqüências do filme, mas em outros momentos é inegável que acabamos ficando sensibilizados com a relação profundamente afetuosa que o mesmo tem com a sua mãe (Phyllis Somerville). Aliás, poucas vezes no cinema uma relação entre mãe e filho foi mostrada de forma tão verdadeira e tocante como em “Pecados Íntimos”.

A abordagem humanista de Field se estende também sobre outro personagem fascinante que é Brad (Patrick Wilson). Num primeiro momento, pode-se até achar que é apenas mais um cara que não gosta muito de trabalhar e que trai a esposa dedicada. Com sutileza, entretanto, Field revela aos poucos que temos na verdade um personagem que é um verdadeiro rebelde, ainda que nem o mesmo saiba disso: procurando se enquadrar numa profissão que ele nem acredita, Brad vive tentando se adaptar num padrão rígido imposto quase que sublinarmente, pela sua esposa e pela sociedade geral. Para fugir desse padrão asfixiante, encontra uma liberdade pequena, mas valiosa, em prazeres mundanos como jogar futebol americano com policiais, assistir jovens andando de skate e em escapadas extraconjugais com a bela e frustrada Sarah (Kate Winslet).

Para retratar essas e outras pequenas comédias humanas, Field opta por um estilo clássico e limpo no filmar, o que acaba se revelando uma escolha sábia. O contraste entre essa forma aparentemente simples de elaboração da edição e fotografia e a face sombria das situações e dos personagens da trama é fascinante, dando ao um filme um caráter perturbador.

quarta-feira, agosto 22, 2007

O Dia Depois de Amanhã, de Roland Emmerich **1/2


Dentro do gênero “filmes catástrofes”, “O Dia Depois de Amanhã” é o tipo de obra que deixa uma impressão de decepção para quem assiste. Não que o filme seja exatamente ruim. Em algumas seqüências os efeitos especiais do filme são realmente impressionantes, além de contar com alguns bons atores em atuações corretas como Dennis Quaid e Jake Gyllenhaal. O problema é que a premissa inicial da trama e a produção grandiosa criaram uma expectativa de que poderíamos assistir a uma ficção científica colossal, mas no final das contas acabamos tendo um trabalho morno e burocrático por parte de Roland Emmerich, um cineasta que já fez trabalhos mais interessantes. Emmerich parece se intimidar com a grandiosidade dos eventos retratados, preferindo não extrapolar muito na imaginação, o que seria fundamental para uma obra do gênero. A gente até fica imaginando o que um Michael Bay, cineasta dado a exageros grandiosos, faria com um material desse nas mãos.

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 estrelas)


O Balconista 2, de Kevin Smith ***1/2
Sarabanda, de Ingmar Bergman ****
Os Simpsons – O Filme, de David Silverman ****
Profissionais do Crime, de Johnny To e Wai Ka Fai ****
Casamento Grego, de Joel Zwick *1/2

sexta-feira, agosto 17, 2007

Dreamgirls - Em Busca de Um Sonho, de Bill Condon ****


O cinema norte-americano tem se dedicado nos últimos anos a fazer uma espécie de inventário sobre a riquíssima cultura musical dos EUA no século XX. Filmes como “E Aí Meu Irmão, Cadê Você?”, “Ray” e “Johnny e June” oferecem um panorama fascinante do melhor que a música norte-americana nos últimos 100 anos, abarcando blues, country, rock, soul, funk e afins. “Dreamgirls – Em Busca de Um Sonho” é mais uma excelente produção que vem se somar a essa tendência mais que louvável.

A trama de “Dreamgirls” é inspirada na história das Supremes, a mais famosa das girls groups dos anos 60, e da sua gravadora, a Motown. Apesar da utilização de nomes fictícios e de músicas inspiradas na época (excelentes, por sinal), o filme é tremendamente esclarecedor ao mostrar o que significou a Motown para a música moderna, tanto no lado artístico como no aspecto social e comercial. Talvez pela primeira vez na história dos EUA, negros não apenas estavam produzindo discos marcantes como também estavam gerenciando a coisa toda, e tendo um sucesso comercial fenomenal ainda por cima!! O diretor Bill Condon narra essa saga de música, sexo e dinheiro com uma sensibilidade admirável, captando com perfeição o espírito da época, incrementando o seu filme com alguns bons “causos” e fofocas de bastidores para apimentar ainda mais história, o que torna o filme ainda mais saboroso para fãs de black music.

Já os números musicais em “Dreamgirls” são um capítulo à parte. Condon dirige com maestria seqüências que realçam ainda mais a beleza das canções do filme, sem cair na armadilha de uma edição videoclipeira, além de conseguir estabelecer uma linha evolutiva das músicas, mostrando dessa forma as mudanças artísticas que marcaram a trajetória dos principais astros da Motown.

Capote, de Bennett Miller **1/2


“Capote” é o tipo de filme em que a sinopse desperta curiosidade logo de cara. Afinal, a intenção seria a de mostrar todo o processo de busca de dados e elaboração do antológico livro “À Sangue Frio”, de Truman Capote, em que o escritor narra os fatos anteriores e posteriores à chacina de uma família interiorana, crime que provocou uma grande comoção na sociedade norte-americana em 1959. O livro de Capote é um verdadeiro primor literário: numa combinação estupenda de jornalismo e linguagem literária, a prosa do livro tem uma fluência admirável pela fluência e vitalidade. Além disso, o autor deu para o caso real uma aura ambígua, evitando julgamento morais ou sensacionalismo, fazendo uma espécie de raio x do outro lado do sonho americano que na maioria das vezes a sociedade gosta de esconder.

Todas as qualidades acima descritas de “À Sangue Frio”, entretanto, estão ausentes em “Capote”, uma produção cinematográfica apenas correta e sem maiores brilhos. Bennett Miller se revela um cineasta pouco afeito a ousadias formais, preferindo apenas “contar uma história”, não conseguindo extrair do seu roteiro aquelas nuances captadas de forma tão engenhosa por Capote em “À Sangue Frio”. Somando a essa anemia criativa por parte de Miller, a interpretação de Philip Seymour Hoffman para o personagem título não colabora muito para melhorar as coisas. Aliás, toda essa babação de ovo em cima de Hoffman por esse filme é inexplicável. O ator se limita a macaquear os trejeitos afetados de Capote, não dando profundidade e interesse para o personagem. E o brabo é saber que Hoffman pode fazer muito melhor, vide interpretações antológicas que o mesmo teve em filmes como “O Talentoso Ripley” ou “Quase Famosos”.

terça-feira, agosto 14, 2007

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 estrelas)


O Esqueleto Perdido de Cadavra, de Larry Blamire ***1/2
O Primo Basílio, de Daniel Filho ½ (meia estrela)
Na Cama, de Matias Bize **
A Última Missão, de Hal Ashby ****
Amadeus, de Milos Forman ***1/2

quinta-feira, agosto 09, 2007

A Conquista da Honra, de Clint Eastwood ****


Mesmo não estando, em se tratando de Clint Eastwood, no mesmo nível das obras-primas “Os Imperdoáveis” e “Sobre Meninos e Lobos”, “A Conquista da Honra” é um dos mais impressionantes filmes de guerra dos últimos anos. Eastwood estabelece uma linha narrativa altamente sofisticada e bem tramada, em que a trama se subdivide em dois tempos distintos e se entrecruzam de forma engenhosa e clara. No tempo passado, assistimos a tomada por parte do exército norte-americano, durante a Segunda Guerra Mundial, da Ilha de Iwo Jima, mostrando a sucessão de eventos que levaram à famosa e mítica fotografia em que soldados americanos fincam a bandeira dos EUA em um monte e à derrota do exército inimigo. No tempo presente, que se passa também durante a Segunda Guerra, Eastwood mostra um grupo de militares que participaram da mencionada tomada de Iwo Jima (e que supostamente estariam na mencionada fotografia) excursionado pelos EUA e fazendo apresentações em eventos visando colher fundos para a guerra. Nessa contraposição de dois tempos, o diretor oferece uma visão humanista e nem um pouco idealizada da Segunda Guerra Mundial, mostrando como conceitos como heroísmo e patriotismo são nebulosos em tempos de conflito. Quem espera arroubos ufanistas e conflitos maniqueístas certamente vai se decepcionar com o tom amargo da narrativa de “A Conquista da Honra”.

Apesar desse foco questionador sobre a Segunda Guerra, Eastwood não se esqueceu da ação cinematográfica, fundamental para um bom filme de guerra, e a mesma surge esplendorosa na tela. As cenas das enormes embarcações de guerra se dirigindo à Iwo Jima são de encher os olhos. As seqüências de batalha na ilha impressionam pela crueza e violência, com um estilo naturalista que lembra bastante a sensacional meia hora inicial de “O Resgate do Soldado Ryan”.

Apesar de ter gostado muito de “Cartas de Iwo Jima”, confesso que apreciei bem mais desse “A Conquista da Honra”, pois nesse último Eastwood se mostra muito mais criativo e ousado na direção, mostrando por que é um dos grandes cineastas ainda em atividade.

O Vôo da Fênix, de Robert Aldrich ****


O senso comum da crítica especializada em geral costuma dividir a filmografia de Robert Aldrich em dois pólos: um mais ousado e criativo (cujo ápice seria a obra-prima “A Morte Num Beijo”), e outro mais comercial e convencional (nesse sentido, a produção mais emblemática do cineasta seria “Os Doze Condenados). Ainda sobre o prisma de tal visão, “O Vôo da Fênix”, produção de 1965, estaria enquadrada nesse segundo lado, o dito mais acessível. Confesso que acho tal divisão um pouco limitada. Afinal, “O Vôo da Fênix” é um filme de ação tremendamente inventivo, em que Aldrich aproveita como poucos um roteiro brilhante, cuja trama consiste na história dos sobreviventes de um desastre aéreo no meio de um deserto que são obrigados, para terem chances de sobreviver, a construir um novo avião a partir do que restou do outro que se espatifou. A partir dessa premissa, Aldrich constrói um filme em que suspense e aventura se entrelaçam de forma magnífica, contando ainda com um James Stewart no auge do seu carisma no papel do piloto Frank Towns. E para quem duvida ainda do frescor criativo de Aldrich nesse “O Vôo da Fênix”, é só assistir a insossa refilmagem de 2004 dessa mesma produção e conferir que a versão original em nada envelheceu.

quarta-feira, agosto 08, 2007

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 estrelas)


A Volta do Todo Poderoso, de Tom Shadyac **1/2
Duro de Matar 4.0, de Len Wiseman ***1/2
Nome de Família, de Mira Nair ***
O Espírito da Colméia, de Victor Erice ****
Green Snake, de Tsui Hark **1/2
Spartacus, de Stanley Kubrick ****

sexta-feira, agosto 03, 2007

Antônia, de Tata Amaral ***1/2



Muita gente pode não ter assistido “Antônia” por uma série de preconceitos, alguns deles até justificáveis: teve uma mini-série da Globo relacionada ao filme, o fato de ser mais uma produção de cunho social focalizando a vida dos menos privilegiados, a babação de ovo em geral da mídia, etc. Na verdade, eu mesmo estava com uma série de receios em relação à produção mais recente da cineasta Tata Amaral. Assistindo ao filme, entretanto, tive uma grata surpresa, pois “Antônia” está muito além dessas questões.

Para começar, “Antônia” não é um filme que se concentra apenas em fazer sociologia. Muito pelo contrário. A preocupação primordial de Tata Amaral é fazer cinema e dos bons. A utilização de câmera digital em algumas seqüências é brilhante, obtendo-se um visual belíssimo, principalmente nas tomadas externas noturnas: provavelmente nunca as ruas da periferia de São Paulo tiveram um registro visual tão poético e vivo como as registradas em “Antônia”. Nesses momentos, Tata Amaral nos faz lembrar o grande Michael Mann em obras primas como “Colateral” e “Miami Vice”. De Mann, a diretora também parece absorver as influências certas para a ação cinematográfica. A dinâmica em algumas cenas do filme impressiona pela fluência e concisão (a seqüência em que Bárbara dá uma surra num marginal é uma pérola), fazendo imaginar o que Tata Amaral poderia fazer com um filme de ação. Ou seja, “Antônia” é o mais perto que o cinema brasileiro já chegou de Michael Mann, e isso é uma puta evolução em tempos em que o cinema brasileiro está tão rendido à estética global de filmar.

Os números musicais em “Antônia” também são um capítulo à parte: longe da linguagem clipeira, Tata Amaral valoriza como nunca a força da música e a interação das meninas e dos demais músicos com a platéia. Mesmo em músicas mais bregas ou cafonas, a diretora consegue obter uma intensidade dramática e musical fabulosa. E ainda nessa parte musical, a seqüência em que Marcelo Dinamite (o rapper Thaíde em interpretação magnífica) canta e “explica” uma canção do velho soulman Hyldon para a sua protegida Preta (Negra Li) merece entrar numa antologia de melhores momentos do cinema nacional recente.

Em relação a sua trama, “Antônia” se mostra bem longe dos clichês e das soluções fáceis. Ao abordar a trajetória do grupo de rap feminino que dá título ao filme, Tata Amaral conta uma história contundente e sensível, mostrando que a lógica da superação e redenção nem sempre acontece de forma cor-de-rosa, ao mesmo tempo que evita cair em discursos ideológicos simplórios, valorizando a grandeza humana e contraditória dos personagens.

No mais, “Antônia” mostra que Tata Amaral evoluiu barbaridade depois do apenas correto “Um Céu de Estrelas” e do bom “Através da Janela”, credenciando-se como um dos melhores nomes do cinema nacional da atualidade, junto a Beto Brant e Fernando Meirelles.

Firewall, de Richard Loncraine *


Provavelmente, um dos caras mais satisfeitos com as atuais filmagens da quarta parte das aventuras de Indiana Jones deve ser o próprio Harrison Ford. Afinal, faz alguns bons anos que o cara não consegue participar de um filme decente. “Firewall” é o supra-sumo dessa fase tenebrosa de Ford. Essa produção de 2006 é um verdadeiro monumento à mediocridade: direção sem qualquer brilho de Richard Loncraine, um roteiro qualquer nota e atuações comatosas de Ford, Virginia Madsen e Paul Bettany. Ou seja, muito pouco para um cara que tem no currículo filmes como “Blade Runner” e “O Fugitivo” e encarnou dois dos personagens mais marcantes da história do cinema, os insuperáveis Han Solo e Indiana Jones.