sexta-feira, setembro 29, 2006


Feel Like Going Home, de Martin Scorsese ****

A relação apaixonada de Martin Scorsese com a parte musical de seus filmes nunca foi novidade. Afinal, as trilhas sonoras recheadas de canções maravilhosas de obras como “Alice Não Mora Mais Aqui” (1974), “Cassino” (1995) e “O Aviador” (2004) são exemplares nessa obsessão do cineasta. Isso sem contar os ótimos documentários “O Último Concerto de Rock” (1978) e “No Direction Home” (2005), que são verdadeiros tributos aos seus ídolos The Band e Bob Dylan, respectivamente. Dessa forma, não é surpresa que Scorsese tenha sido o produtor da série de documentários “The Blues”, projeto esse de onde se originou “Feel Like Going Home”, dirigido pelo próprio Scorsese, obra extremamente bem sucedida na sua pretensão de busca das raízes do blues. Essa procura é realizada com uma minúcia didática e tremendamente amorosa, partindo-se de um caminho que na realidade começa pelo fim, ou seja, inicia pelo blues eletrificado de Chicago, passa pelo rincões rurais do interior norte-americano e chega por fim às origens primitivas na África. Aos fazermos essa viagem junto com Scorsese, não conhecemos apenas a gênese de um estilo musical, mas também a própria identidade cultural de um país.

Obs.: "Feel Like Going Home" será exibido pelo Clube de Cinema no dia 08/10/2006, às 10:15, no Santander Cultural. Os leitores deste blog estão convidados a comparecer.

quinta-feira, setembro 28, 2006


Depois Daquele Beijo - Blow Up, de Michelangelo Antonioni ****

Dentro de uma carreira recheada de grandes filmes como a de Michelangelo Antonioni, destacar um deles como sua obra-prima máxima pode ser perigoso. Entretanto, na minha modesta opinião, não hesito em dizer que “Depois Daquele Beijo – Blow Up” ocupa essa privilegiada posição. Para começar, Antonioni retrata brilhantemente a louca Londres dos anos 66 e 67 que estava totalmente mergulhada no psicodelismo. A trama gira em torno da obsessão do fotógrafo Thomas (David Hemmings) com uma série de fotos que ele tirou em um parque londrino. Nesse processo, ele descobre, meio que sem querer, que nessas fotos está registrado um assassinato. “Blow Up” tem um certo teor niilista ao mostrar que para o protagonista mais interessa o processo de desvendar o crime do que o próprio assassinato em si. Justamente esse processo de descoberta resulta em um incrível trabalho de edição, em que as fotografias vão se sobrepondo até comporem uma ação completa. É como Antonioni misturasse fotografia e cinema e buscasse o seu denominador comum.

E para quem gosta de música, o filme tem dois acréscimos imperdíveis: a trilha sonora genial, uma fusão muito bem engedrada de jazz e rock por Herbie Hancock, além da antológica seqüência de um show do Yardbirds com Jimmy Page e Jeff Beck arrasando nas guitarras (esse último, aliás, literalmente destrói o seu instrumento no palco).

quarta-feira, setembro 27, 2006


Destinos Sentimentais, de Olivier Assayas *

Essa produção francesa 2000 é incrivelmente enfadonha e dirigida da forma mais medíocre possível (nem parece que o diretor Olivier Assayas é o mesmo do vigoroso “Clean”). Tudo aquilo que se costuma falar de mal de um filme francês está nesse filme. A impressão que se tem é que Assayas achou que fazendo uma reconstituição de época caprichada e tendo alguns bons atores seria suficiente para ter um bom filme em mãos. "Destinos Sentimentais" tem três horas em que não acontece praticamente nada! Existem personagens que aparecem e desaparecem sem mais ou nem menos (e a intenção não era de fazer um filme não-linear...), e a quantidade de diálogos e situações inúteis é impressionante. Acho que as únicas coisas boas do filme são uma seqüência de baile (que lembra um pouco alguns filmes do Visconti) e a Emanuele Beart (que sempre é um colírio para os olhos).

terça-feira, setembro 26, 2006


Amor em Jogo, de Bobby e Peter Farrelly *1/2

Essa comédia romântica de 2005 é frustrante por dois bons motivos. O primeiro é que esse é provavelmente o pior filme dos irmãos Farrelly, sendo que em nenhum momento lembra o humor alucinado e escroto de filmaços como "Debi e Lóide" e "Quem Vai Ficar Com Mary?". Sem estilo e personalidade, os Farrelys tornaram-se dois diretores quaisquer. E o segundo motivo, mais grave ainda, é que o filme não tem absolutamente nada a ver com o espírito real do livro em que se baseia, "Febre de Bola", de Nick Hornby. E eu não digo isso pelo fato de se passar nos EUA ou pelo futebol ter sido trocado nessa adaptação pelo beisebol. O problema é tirar o foco do protagonista louco pelo esporte para que ele divida as atenções com a sua parceira romântica. Dessa forma, toda aquelas observações irônicas e incômodas sobre adultos que se recusam a crescer que há no livro original perdem-se em "Amor em Jogo", ficando a trama reduzida a uma comédia sem graça e cheia de "lições de vida".

segunda-feira, setembro 25, 2006

Filmes da Semana (cotação de 0 a 4 estrelas)

Xeque-Mate, de Paul McGuigan ***
Café da Manhã em Plutão, de Neil Jordan ****
O Tempo Que Resta, de François Ozon ***1/2
Três Homens Em Conflito, de Sergio Leone ****
Sherlock Jr, de Buster Keaton ****

terça-feira, setembro 19, 2006


Hotel Ruanda, de Terry George ***1/2

O trailer ou a sinopse dessa produção norte-americana de 2004 faz supor ser algo do tipo "o grande herói que se sacrifica pelos seus semelhantes". É claro que "Hotel Ruanda" obedece a parte desse padrão, mas ao mesmo tempo também é muito mais que isso. O roteiro retrata com considerável crueza o episódio histórico ocorrido em Ruanda do genocídio dos tutsis promovido pelos hutus. Para começar, o protagonista Paul Rusesabagina (Don Cheadle) não é apresentado de forma santificada, sendo que todo o processo que o leva a ajudar os tutsis é muito bem esmiuçado no desenvolvimento da trama. Méritos também para o cineasta Terry George no sentido de que o mesmo procura não atenuar as cenas mais violentas para se tornar o seu filme mais “família”. Pelo contrário: toda a brutalidade e loucura do que houve em Ruanda são passadas durante algumas seqüências impressionantes, principalmente naquela em que a caminhonete de Paul roda em uma estrada sob os cadáveres de tutsis assassinados.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Aprendendo a Mentir, de Hendrik Handlogten***1/2

O ponto forte dessa produção alemã de 2003 é o seu roteiro, que sabe desenvolver com desenvoltura uma trama aparentemente simples. Tem-se uma visão crua e pouco superficial sobre relacionamentos amorosos e com personagens bem construídos. O jogo que se estabelece entre o protagonista e quem assiste ao filme é tremendamente interessante, pois o primeiro age como um babaca por boa parte do filme e parece não se dar muito conta disso, parecendo questionar ao expectador por que os seus relacionamentos são um desastre (e os motivos ficam bem evidentes para quem assiste). De se destacar ainda a bela trilha sonora (que consegue demarcar com precisão o aspecto temporal) e a maneira discreta com que o filme chega a abordar questões políticas e sociais, mas com muito mais propriedade e ironia do que "Edukators", filme alemão fortemente superestimado. Deixa a desejar em “Aprendendo a Mentir” apenas o seu inexplicável final feliz, que é muito forçado ao fechar todas as pontas da trama e vai contra o próprio espírito irônico e sutil da obra.

Filmes da Semana (cotações de 0 a 4 estrelas)
Vôo 93, de Paul Greengrass **1/2
Almas Reencarnadas, de Takashi Shimizu ***1/2
Casa Monstro, de Gil Kenan ***
Seytan, de Metin Eksan – zero estrela
Vamos Todos Dançar, de Marilyn Agrelo ***1/2
Pele de Asno, de Jacques Demy ****
O Tesouro de Sierra Madre, de John Huston ****
O Limite da Traição, de Lee Tamahori ****
Nossa Hospitalidade, de Buster Keaton ***1/2

sexta-feira, setembro 15, 2006


Ninguém Pode Saber, de Hirokazu Kore-Eda****

Essa produção japonesa de 2004 dirigida por Hirokazu Kore-Eda, o mesmo do magnífico “Depois da Vida” é um dos mais impressionantes filmes orientais dos últimos anos e também uma das obras mais tristes a aparecer nas telas. A trama é cruel: uma mãe abandona seus quatro filhos pequenos em um apartamento, sendo que acompanhamos a inexorável degradação das crianças. Kore-Eda não abre concessões, retratando o calvário de seus personagens com poderosa força dramática, mas ao mesmo tempo consegue grandes momentos de pura poesia visual. Além do mais, fica evidente o seu grande trabalho de direção no aspecto do rigor dos enquadramentos: o filme é basicamente composto de seqüências com a câmera parada, mas a composição das cenas é expressiva, registrando apenas o necessário e fazendo com que as imagens contem a história ou expressem sentimentos sem precisar de narração ou diálogos. Ou seja: puro cinema!! A trilha sonora também revela uma grande sensibilidade, ao evocar um clima infantil que contrasta fortemente com a crueza da história que é mostrada. Por fim, o trabalho de atuação das crianças é fantástico, em que o cuidadoso trabalho de direção de atores consegue obter um resultado impressionante, fazendo com as quatro crianças desenvolvam personalidades muito próprias.

quinta-feira, setembro 14, 2006


O Álamo, de John Wayne ***1/2

Este é um filme que geralmente é visto com um certo ranço por boa parte do público e crítica. Afinal, o que se poderia esperar de uma obra dirigida por um cineasta bissexto e que é uma espécie de visão fantasiosa de fatos e personagens históricos? Mesmo não tendo a densidade dramática de um John Ford ou cenas de grande impacto visual como as de Sam Peckinpah, Wayne, que também protagoniza "O Álamo", conseguiu realizar um eficiente faroeste, mostrando pulso firme ao conduzir uma trama de longa duração (quase três horas) que raramente dispersa o expectador, e que tem evidentemente como ponto alto as seqüências de batalhas onde americanos rebeldes defendem o seu forte de um exército mexicano muito mais numeroso.

quarta-feira, setembro 13, 2006


O Último dos Moicanos, de Michael Mann ****

Sem querer parecer exagerado, mas se trata basicamente de um dos melhores exemplares do cinema de aventura de todos os tempos. Michael Mann mostra com tranqüilidade por que é um dos grandes cineastas da atualidade, impressionando com a tremenda exatidão com que realizou "O Último dos Moicanos". Não há pontos mortos durante toda a sua duração. Mann sabe criar tensão para que as seqüências de ação irrompam de forma majestosa, fazendo com que as mesmas tenham um impacto visual e sonoro ainda maior. Fica até difícil destacar alguma cena em especial no filme tamanha a homogeneidade do mesmo, sendo que a fotografia e trilha sonora poderosas realçam de forma acentuada a beleza visual dessa obra-prima. Interessante notar também a economia do cineasta ao retratar o romance entre Hawkeye (Daniel Day Lewis) e Cora Munro (Madeleine Stowe): os momentos entre os dois juntos são breves, mas sempre memoráveis. Enfim, um clássico absoluto!!

terça-feira, setembro 12, 2006


Os Deuses Vencidos, de Edward Dmytryk ***

Confesso que não li o livro de Irwin Shaw no qual “Os Deuses Vencidos”, produção norte-americana de 1958, é baseada. No entanto, imagino que a obra literária deve ser mais interessante que o filme. Digo isso porque fica evidente assistindo ao filme que certas seqüências do mesmo carecem de um melhor desenvolvimento dramático, evidenciando uma certa inconsistência do seu roteiro. Isso não quer dizer, entretanto, que essa obra de Edward Dmytryk seja ruim. As seqüências de batalha são bem dirigidas, revelando qualidades de Dmytryk em saber criar momentos realmente tensos. Pena que ele não tenha se concentrado mais nas cenas de ação, fazendo com que boa parte das quase três horas de filmes ele fique retratando os dramas pessoais mal costurados dos protagonistas. Os personagens de Montgomery Clift e Dean Martin não estão bem delineados, sendo que mesmo as interpretações dos mesmos chegam a ser insossas. Só Marlon Brando consegue oferecer alguma intensidade emocional na pele do oficial nazista atormentando Christian Diesti.

segunda-feira, setembro 11, 2006

9 Canções, de Michael Winterbottom ***1/2

“9 Canções” parece ser uma continuação espiritual de “A Festa Nunca Termina”, a magnífica radiografia musical e comportamental da Manchester dos anos 70 e 80 realizada por Michael Winterbottom. Nesse filme mais recente, o diretor inglês foca sua trama na Londres do novo milênio, retratando um relacionamento amoroso que se desenvolve ao longo de um ano e que tem como pano de fundo 9 shows. O filme tem cenas de sexo explícito magníficas, onde o que é levado em conta não é tanto o erotismo em si, mas sim a intensidade das trepadas. A estrutura narrativa possui uma estrutura aparentemente rústica, parecendo quase um registro documental, mas a forma com que a câmera mostra isso é fantástica, com enquadramentos e montagem excelentes. Tematicamente, “9 Canções” também é muito interessante, sendo perspicaz ao retratar o vazio e a superficialidade da relação do casal protagonista, ressaltando muito o aspecto humano da mesma: o sexo entre eles é excelente, mas a convivência como casal é falha, desestruturada.

E é claro que é impossível falar alguma coisa sobre “09 Canções” sem mencionar a sua trilha sonora e as seqüências de shows. A seleção musical engedrada por Winterbottom é de cair o queixo: Black Rebel Motorcycle Club, Primal Scream, Michael Nyman, Goldfrapp, Dandy Wahrols. Tu, caro leitor, podes até não gostar do filme, mas pode ser que aprecie ficar “assistindo” toda essa boa música!!

sexta-feira, setembro 08, 2006


O Sétimo Dia, de Carlos Saura ***

É claro que essa produção espanhola de 2004 não é tão genial quanto aquelas obras primas que Carlos Saura fazia nos anos 70 ("Cria Cuervos" e "Ana e os Lobos", principalmente). Mesmo assim, “O Sétimo Dia” é um filme com alguns aspectos fascinantes. A sua trama é basicamente simples, mostrando um conflito entre duas famílias num vilarejo espanhol que se estende por anos. Há ótimas seqüências que remetem a um certo clima de faroeste contemporâneo. O filme cai em alguns momentos quando se concentra muito nas histórias das vítimas, abusando de uma certa psicologia que, na minha opinião, chega até a cair no moralismo e diminui o impacto da obra.

É interessante também que “O Sétimo Dia” lembra bastante "Elefante", de Gus Van Sant, produção norte-americana que retrata o massacre da escola de Columbine nos EUA, sendo que o filme americano é bem melhor, pois não cai na armadilha de "psicologizar" ou explicar muito os fatos. Ao contrário: ele é tremendamente seco, e essa frieza aumenta ainda mais a força da narrativa.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Top 10 momentâneo dessa década na visão de André Kleinert


1º) Kill Bill Volume 1, de Quentin Tarantino
2º) Old Boy, de Chan-Wook Park
3º) Rejeitados Pelo Diabo, de Rob Zombie
4º) Kill Bill Volume 2, de Quentin Tarantino
5º) Colateral, de Michael Mann
6º) Marcas da Violência, de David Cronenberg
7º) Cidade dos Sonhos, de David Lynch
8º) Miami Vice, de Michael Mann
9º) Star Wars III - A Vingança dos Sith, de George Lucas
10º) E Sua Mãe Também, de Alfonso Cuarón

terça-feira, setembro 05, 2006

Conte Comigo, de Kenneth Lonergan ****

Olhando a sinopse e o cartaz desse filme, até fiquei imaginando algo na linha daqueles dramas familiares típicos de Supercine ou Sessão de Tarde. Assistindo ao mesmo, entretanto, tive uma grande surpresa: trata-se de um dos melhores filmes americanos desta década! É claro que em termos de linguagem cinematográfica o filme não apresenta maiores ousadias, optando por uma linha mais tradicional, mas faz isso com muita elegância, sendo tremendamente bem dirigido. Fotografia e montagem têm a noção exata de saber criar climas e ambiências, e valorizam ainda mais o roteiro, que certamente é um dos melhores dos últimos anos.

O que considero fantástico no roteiro, escrito pelo próprio diretor Kenneth Lonergan, é que ele tem um brilhante senso de utilização de sub-texto: tudo o que se quer dizer não está exatamente no significado literal dos diálogos, mas sim nas situações em que os mesmos são ditos. Outro grande ponto forte de "Conte Comigo" é o impactante trabalho de atuação dramática de Mark Ruffalo. É claro que Laura Linney tem destaque nessa área, sabendo captar bem as nuances de sua personagem, mas na verdade ela acaba se tornando quase que uma escada para Ruffalo fazer chover. O cara entendeu o ótimo personagem que tinha nas mãos. O grande mérito na sua interpretação não está em excessos, mas sim no saber ressaltar alguns traços essenciais da personalidade do protagonista. O personagem oscila de forma convincente da fragilidade e inconseqüência para uma dignidade insuspeita. Ruffalo sabe dar verossimilhança a todos esses sentimentos, criando forte empatia com que assiste ao filme.
P.S.: Esta resenha já havia sido publicada no blog dos Jovens Turcos. Ocorre que no dia 10/09/2006, no horário das 17:00, o Clube de Cinema estará exibindo o filme em questão no Auditório da Livraria Cultura, no Shopping Bourbon Country, dentro do Ciclo "Os Clássicos Que Você Não Viu". Haverá comentários e debate coordenados pelo crítico de cinema Goida e por este que vos escreve. Os poucos leitores deste blog estão convidados.

segunda-feira, setembro 04, 2006


A Home At The End of The World, de Michael Mayer ****

Esta produção de 2004 é uma adaptação de um livro do Michael Cunninghan, o mesmo autor que escreveu "As Horas". O resultado final é magnífico, sendo até mesmo superior à versão cinematográfica do referido “As Horas”. A força de “A Home At The End Of The World” está na sua sensibilidade à flor-da-pele e que acaba se refletindo em uma trama extremamente comovente e humana, cuja abordagem sobre temas como união familiar e solidão encanta pela sua concepção original e nada preconceituosa. Outro trunfo do filme é a interpretação visceral de Colin Farrell, que está magnífico no papel do personagem principal, com o mesmo se confirmando como um dos melhores atores da realidade (vide outros trabalhos fantásticos recentes como “Alexandre”, “O Novo Mundo” e “Miami Vice”).

É de se destacar ainda em “A Home At The End Of The World” a brilhante utilização de canções na trilha sonora, servindo como uma espécie de síntese temporal. O filme começa em 1968, onde predominam rocks psicodélicos, desenvolve-se pelo anos 70 (com uma queda para canções folks) e termina no começo dos anos 80, com uma música mais dissonante e com quedas para o tecnopop. Nesse sentido, é muito interessante ver como os personagens interagem com a trilha, o que se pode constatar em algumas seqüências maravilhosas como a primeira viagem de LSD do protagonista (quando ele tinha 9 anos!!) ou quando os amigos/amantes/irmãos Bobby (Colin Farrell) e Jonathan (Dallas Roberts) começam a dançar ao som de "I Shall Be Relesead" do Bob Dylan.

sexta-feira, setembro 01, 2006


Cruzada, de Ridley Scott *

Este certamente é o pior filme da carreira de Ridley Scott, além de ser uma das coisas mais bunda mole a aparecer nos cinemas nos últimos anos. Scott ficou muito preocupado em ser politicamente correto e não ofender muito a sensibilidade do expectador, esquecendo-se no meio disso de fazer bom cinema. As seqüências de batalhas são simplesmente frustrantes, sendo que quando elas começam a ficar um pouco interessantes, o diretor inglês simplesmente corta e mostra o final das mesmas. Parece que Scott quer dizer: "puxa, olha só como eu sou um cara de bom gosto e tenho sutileza". Putz, um filme que quer falar sobre as Cruzadas, um dos episódios mais violentos da história da Humanidade, não podia primar tanto pelo bom-mocismo. Além disso, “Cruzada” não tem uma cena que realmente chame a atenção, dando a impressão de ter sido dirigido da forma mais burocrática possível. E para completar, o elenco está muito mal, a começar por Orlando Bloom, completamente inexpressivo e pouco à vontade no pape principal.

Mas o que incomoda ainda mais em “Cruzada” é pensar que tal produção originalmente seria dirigida pelo grande mestre Paul Verhoeven (o diretor das obras primas "Tropas Estelares", "Robocop", "Vingador do Futuro" e "Conquista Sangrenta", esse último o melhor filme já feito sobre a Idade Média), que certamente não economizaria no sangue e no sexo e faria um filme com muito mais tesão que esse de Ridley Scott.