quinta-feira, agosto 31, 2006



Schutze Get The Blues, de Michael Scorr ****

“Schutze Get The Blues”, comédia alemã de 2003, é uma das mais surpreendentes produções germânicas dos últimos anos. A começar pela esquisitice de sua trama: conta a história de Schutze, um alemão cinqüentão, aposentado, barrigudo e tocador de acordeon que um dia descobre que gosta de "cajun", uma espécie de blues afrancesado, e deixa a tradicional polca de lado, decidindo ir para Lousiana, nos EUA, que é o berço desse tipo de música. Além do inusitado do roteiro, o diretor Michael Scorr utiliza-se de uma hábil concepção narrativa para o seu filme, valorizando com sensibilidade os silêncios e fazendo com que as imagens digam muito mais sobre os personagens e as situações do que os econômicos diálogos. A caracterização do personagem título também é um caso a parte: Schutze, com seu jeito quieto e pacato, na realidade comunica-se muito melhor com o mundo através de sua música do que com palavras, sendo que o seu progressivo envolvimento com um estilo musical estrangeiro e totalmente distante da sua realidade faz com que pela primeira vez na sua vida saia da comodidade do seu tranqüilo e tedioso cotidiano em busca de algo que nem mesmo ele sabe do que se trata. E é essa forma carinhosa de mostrar como a música pode realmente mudar a concepção de vida de um indivíduo que é uma das razões que torna “Schutze Get The Blues” um filme tão fascinante.

quarta-feira, agosto 30, 2006


Nossa Música, de Jean-Luc Godard ***

Nessa produção de 2004, Godard faz uma espécie de mescla entre ficção e documentário, dividindo tematicamente o seu filme em "Inferno", "Purgatório" e "Paraíso". A parte inicial, "Inferno", tem uns 15 minutos e é maravilhosa. Godard realiza uma colagem muito original e genialmente editada de cenas documentais de guerra e de filmes clássicos. A forma com que todo esse material é trabalhado na montagem é incrível. Ficamos atordoados tamanha a força das imagens e a maneira como elas são mostrada. Já no "Purgatório" e "Paraíso" o filme cai vertiginosamente. Nesses momentos, “Nossa Música” fica simplesmente muito chato!! O problema atual do Godard é que ele ainda é um puta cineasta, mas tem essa obsessão de querer ser muito importante, de achar que a verdadeira arte está intimamente ligada a questões sociais e essas coisas. Ou seja, o cara se leva excessivamente a sério e isso acaba sendo até uma prisão criativa para ele.

terça-feira, agosto 29, 2006


Moro No Brasil, de Mika Kaurismäki ****

“Moro no Brasil” é um documentário dirigido pelo cineasta finlandês Mika Kaurismäki, que, aliás, realmente vive Brasil. No filme, ele disseca a história do samba, indo das suas origens indígenas até às suas vertentes mais atualizadas (Seu Jorge, funk carioca). Apesar dessa premissa, “Moro no Brasil” não tem nada de semelhante a um chato programa institucional. Muito pelo contrário. Mesmo mantendo uma certa linha didática no seu detalhismo, o documentário tem uma vivacidade e agilidade narrativa impressionantes. Kauristäki não se limita a ficar simplesmente registrando depoimentos e imagens, tendo uma concepção cinematográfica muito arrojada. As tomadas das apresentações dos artistas são sensacionais, pegando ângulos bem inusitados. E há algumas entrevistas antológicas com gente como Antônio da Nobrega, Caju e Castanha, Ivo Meirelles, Walter Alfaiate. Isso sem contar a inesquecível primeira cena do filme que já dá uma idéia do que está por vir: Kaurismäki está no meio de uma nevasca na Finlândia segurando um disco de Bossa Nova, com a sua narração em off dizendo: "Quando eu era adolescente, troquei a minha coleção de Deep Purple por uma coletânea de bossa nova. Meus amigos falaram que eu estava louco...".

Outro ponto muito interessante de “Moro no Brasil” é a estruturação de seu roteiro, que lembra bastante o fantástico documentário musical “Feel Like Going Home”, de Martin Scorsese, em que o diretor norte-americano mostra a trajetória do blues através dos seus principais expoentes. A diferença é que Scorsese vai do moderno (o blues eletrificado) até as raízes mais primitivas (a música folclórica da África), enquanto Kaurismäki faz justamente o caminho inverso para traçar a evolução do samba. O que importa, entretanto, é que os resultados obtidos em ambas as obras são espetaculares, representando verdadeiras declarações de amor à música.

segunda-feira, agosto 28, 2006


Meet The Feebles, de Peter Jackson ****

Um dos primeiros trabalhos de Peter Jackson. É um negócio genial: parece um Muppets doentio movido a drogas, sexo e violência, satirizando de forma inclemente todos aqueles filmes do tipo "bastidores dos artistas". Os bonecos são toscos no acabamento, mas dificilmente sairão das nossas mentes depois que assistimos ao filme. É incrível a capacidade de Jackson em elaborar personalidades muito bem definidas para todos as personagens (o coelho promíscuo, o porco-espinho ingênuo, o rato cínico e mal-caráter, a hipopótama prima-dona, e por aí vai). A fotografia do filme é perturbadora, retratando o teatro onde se passa a trama de forma quase opressiva, dando ao filme um clima de verdadeira descida ao inferno. E a conclusão de "Meet The Feebles" é uma bela e insana homenagem a "Meu Ódio Será Tua Herança".

sexta-feira, agosto 25, 2006


Primavera Para Hitler, de Mel Brooks ****

A II Guerra Mundial é um tema que já rendeu, e na verdade ainda rende, material para uma infinidade de produções cinematográficas. Há até aquela piada que pergunta o que seria do Oscar de melhor filme estrangeiro se não fosse tal evento histórico (o Brasil, inclusive, tentou entrar nessa onda ao tentar obter uma indicação com o amplamente malhado “Olga”). Apesar dessa quantidade absurda de filmes sobre o assunto, entretanto, raramente o tratamento sobre o tema fugiu de abordagem séria, dramática ou cerimoniosa. O que é compreensível, afinal é um assunto que mexe em algumas questões delicadas: racismo, genocídio, destruição, colaboracionismo, etc. Essa uniformidade freqüente na visão do cinema em relação a II Guerra criou um certo bode quando se fala em filmes sobre a mesma, pois logo se pensa em obras marcadas pela previsibilidade e o politicamente correto.

É na subversão dessa lógica conformista que está um dos grandes prazeres em assistir “Primavera Para Hitler”, o genial primeiro filme de Mel Brooks. A premissa de sua trama é simples e hilária: ao chegarem a conclusão de que um fracasso comercial pode lhes dar muito mais lucro que um sucesso devido a trambiques contábeis, dois produtores teatrais picaretas Max Bialystock e Leo Bloom (Zero Mostel e Gene Wilder, respectivamente) montam um musical de exaltação a Hitler e ao Nazismo na esperança de obterem um certo e almejado fiasco artístico e financeiro. Só que os seus planos acabam não sendo tão bem sucedidos assim... Por trás desse argumento insólito e bem humorado, esconde-se uma insuspeita perspectiva humanista de Brooks sobre a forma com que encaramos o nosso passado histórico. A perplexidade da platéia ao assistir à peça nazista remete a uma incapacidade de revermos fatos incômodos da história mundial sem recorrermos a paradigmas intocáveis ou temas tabus. Nesse sentido, é impressionante a atualidade do filme, lançado em 1968, tendo em vista a atual conjuntura mundial, em que criticar a agressiva política militarista de Israel e dos Estados Unidos representa o risco de ser taxado de anti-semita e terrorista.

Mas a perenidade de “Primavera Para Hitler” não se dá apenas pela sua parte temática. A obra-prima de Mel Brooks é um verdadeiro exemplo de concisão cinematográfica, conseguindo conciliar todas as loucuras do rocambolesco roteiro em compactos 90 minutos. Dessa forma, citar cenas de destaque chega a ser problemático, pois todas as suas seqüências são antológicas, desde o histérico primeiro encontro entre Bialystock e Bloom, passando pelos insanos ensaios da peça e chegando ao final com os nossos “heróis” na cadeira. Mas as sacadas brilhantes de Brooks não ficaram restritas aos seus aspectos cinematográficos, sendo que o próprio score da peça musicada nazista foi composto pelo cineasta, trabalho esse também magnífico, com canções que grudam para sempre no inconsciente cinéfilo.

É claro que ainda não se pode esquecer do fantástico trabalho de Mostel e Wilder. O cínico Bialystock e o tenso Bloom são personagens emblemáticos na história do gênero comédia devido a exuberante caracterização de seus respectivos intérpretes.

“Primavera Para Hitler” teve uma recente e bem sucedida refilmagem dirigida por Susan Stroman, cujo maior mérito foi ter estendido os números musicais (por sinal, tremendamente bem elaborados). Mas seria quase uma covardia comparar as duas versões. Afinal, a obra original de Brooks é uma verdadeira referência dentro da história do cinema, influenciando gerações e gerações de cineastas e parecendo cada vez melhor com o passar dos anos. Veja e confira!!

quinta-feira, agosto 24, 2006


Blood And Black Lace, de Mario Bava ****

Dos poucos filmes que assisti do Mario Bava, esse foi o que mais gostei. “Blood And Black Lace” tem um cuidado impressionante na sua composição visual: atores de expressões fortemente marcantes, cores de expressividade exagerada, cenografia com traços que remetem a um gótico decadente. Até os seios das atrizes parecem terem sido escolhidos de forma criteriosa!! Mas toda essa elegância no visual não obscurece a trama de suspense muito bem delineada. Pelo contrário: acentua ainda mais o estranhamento da mesma. Magnífica também é a caracterização do assassino que vai deixando um rastro de corpos de belas mulheres: o mesmo utiliza uma máscara sem nenhum orifício, lembrando bastante personagem dos quadrinhos Questão, sendo que os assassinatos por ele cometidos têm uma carpintaria sensacional nos seus requintes de crueldade e violência.

quarta-feira, agosto 23, 2006


A Vingança de Ringo, de Giullio Petroni ***

Dentro do gênero western spagueti, “A Vingança de Ringo” não está entre as mais expressivas obras. Até porque o diretor Giullio Petroni não tem a mesma classe e genialidade de um Sergio Leone. Mesmo assim, esse é um filme que se revela como uma agradável surpresa. Petroni combina com considerável habilidade e fluidez ação e comédia, ressaltando traços de ironia e niilismo que são típicos do gênero. Dessa forma, delimita com precisão as diferenças em relação aos faroestes americanos, mostrando que no mundo cínico dos cowboys picaretas Ringo e Harry não há lugar para o idealismo e o heroísmo ufanista dos westerns dos primórdios do cinema.

terça-feira, agosto 22, 2006


Mais Forte Que A Vingança, de Sydney Pollack ****

Os primeiros e bons 45 minutos fazem supor um filme contemplativo e quase politicamente correto na sua exaltação serena à natureza, sendo que o diretor Sidney Pollack consegue captar com perfeição um cenário que oferece uma beleza deslumbrante ao mesmo tempo que se mostra inóspito e perigoso. Mas é quando Jeremiah Johnson (Robert Redford) entra em contato com os povos indígenas das montanhas do Colorado é que "Mais Forte Que a Vingança" começa a adquirir contornos de uma obra clássica. Pollack consegue um equilíbrio admirável ao oferecer um tratamento naturalista para uma história e um protagonista que têm proporções quase míticas. Os confrontos entre Johnson e os índios são simultaneamente brutais, crus e poéticos, num estilo que chega muito perto do solene.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Cruzeiro das Loucas, de Mort Nathan *1/2

A história de dois amigos, Jerry e Nick (Cuba Gooding Jr. e Horatio Sanz, respectivamente), que embarcam por engano em um cruzeiro gay até que tem um início promissor, fazendo supor que teremos alguns bons momentos de comédia alucinada. A participação nos minutos iniciais do genial Will Ferrell só faz aumentar essa expectativa. O que vem depois, entretanto, acaba sendo bem frustrante. Em vez de enveredar pelos rumos do escracho total, "O Cruzeiro das Loucas" cai na rota óbvia e sem graça de uma insossa comédia romântica cheia de lições de moral. A tônica principal do filme concentra-se nas tentativas de Jerry conquistar a instrutora de dança do cruzeiro, Gabriella (Roselyn Sanchez), o que acaba reduzindo os bons momentos humorísticos da trama.

A verdade é que depois da revitalização do gênero realizada por filmes magníficos como "O Âncora" e "O Virgem de 40 Anos", a expectativa que se tem por boas comédias aumentou consideravelmente, sendo que "Cruzeiro das Loucas" mostra-se bem distante de saciar a mesma.

sexta-feira, agosto 18, 2006


Como Gostais, de Paul Czinner ***

Apesar de adaptada da peça cômica de Shakespeare, "Como Gostais", produção inglesa de 1936, consegue se afastar em vários momentos do mero teatro filmado. Mérito para o diretor Paul Czinner, que consegue dar um expressivo dinamismo para a trama através de edição bem trabalhada e direção de arte criativa. O cineasta também se utilizou de um roteiro que formatou com precisão a peça original dentro de um conceito cinematográfico, valorizando a mesma naquilo que ela tem de mais interessante que é a sucessão de mal-entendidos cômicos. O que prejudica "Como Gostais", entretanto, em algumas seqüências é a excessiva empostação dos atores, principalmente por parte de Laurence Olivier no papel de Orlando, em um estilo de interpretação que faz sentido no teatro, mas no cinema deixa muito a desejar. Já Elisabeth Bergner, como a doce Rosalind, tem uma interpretação que oscila para afetado, mas com uma vivacidade cativante.

quinta-feira, agosto 17, 2006


The Last Waltz - O Último Concerto de Rock, de Martin Scorsese ****

E quase lugar comum dizer isso, mas "The Last Waltz" é realmente o melhor documentário sobre rock já realizado. Mostrando o concerto de despedida da The Band (uma das melhores bandas de rock de todos os tempos e o melhor acompanhamento musical que Bob Dylan já teve na vida), o filme extravasa o simples registro de um show, sendo que é um verdadeira aula de direção de Martin Scorsese. A edição das imagens tem uma sincronia perfeita com a própria atuação dos membros do The Band, valorizando detalhes como pequenas conversas durante os show, o rodízio de vocais e instrumentos e o próprio clima de entrega total dos músicos. A direção de arte é criativa e ajuda a realçar um teor de solenidade e ao mesmo tempo de auto-ironia para o canto do cisne da banda. De se destacar ainda que os momentos das entrevistas com os músicos são perspicazes ao conseguirem retratar a essência do The Band: a história da banda, alguns "causos" típicos de que vem vive eternamente em excursões, impressões sobre música. Vale mencionar também o belo time de convidados reunidos para essa empreitada: Dylan, Neil Young, Van Morrison, Dr. John, Joni Mitchell, Muddy Waters, Eric Clapton, Emmylou Harris, Staples Singers, ou seja, um verdadeiro inventário do que de melhor se fez em rock, blues, country e folk no século XX.

Enfim, não é apenas ótima música: também é puro cinema!!

terça-feira, agosto 15, 2006


2046, de Wong Kar-Wai ****

Devo confessar que não sou fã de “Amor á Flor da Pele”, aclamada produção de 2000 de Wong Kar-Wai. Não que eu considere tal filme ruim. Pelo contrário. Acho muito bom. Mas é de longe a sua obra menos expressiva. O excessivo apelo para o chique e o estilo fortemente contido dão uma sensação de estrangulamento criativo (lembrando, nesse sentido, o altamente superestimado “Fale Com Ela” de Pedro Almodóvar), bem distante da insana originalidade de “Anjos Caídos” ou da intensidade dramática de “Felizes Juntos”, obras anteriores de Kar-Wai.

“2046” recoloca as coisas em ordem no universo desse excelente cineasta chinês. Retomando o protagonista de “Amor à Flor da Pele”, Kar-Wai cria um estranho mundo onde tempo e espaço se alternam de forma magnífica. A narrativa oscila entre presente e futuro. No primeiro tempo (presente), temos um escritor (Tony Leung) flagrado em pleno processo criativo, ao mesmo tempo que o assistimos se relacionando com quatro diferentes mulheres. O tempo futuro seria na realidade o próprio romance de ficção científica que ele está escrevendo a partir de suas experiências. O efeito sensorial desse embate entre o tempo presente (anos 60) e esse simulacro de futuro é sensacional, ressaltando fantasticamente a sensação de atemporalidade do conjunto da obra de Wong Kar-Wai.

De se destacar ainda a original concepção do mundo futurista dos delírios criativos do protagonista. Kar-Wai utiliza de forma engenhosa uma mistura de efeitos de computação gráfica com maquetes cujo impacto está muito mais no belíssimo resultado visual do que no “realismo” obtido.

“2046” está no topo do que de melhor o cinema oriental pode oferecer atualmente, reafirmando o nome de Wong Kar-Wai, juntamente com Chan-Wook Park e Zhang Yimou, entre os grandes diretores asiáticos desse início de século.

segunda-feira, agosto 14, 2006


Elektra, de Rob Bowman ½ (meia estrela)

É impossível eu escrever sobre “Elektra”, de Rob Bowman, e não fazer algumas reminiscências pessoais. Para mim, como fissurado por quadrinhos, o período de 1983 a 1986 foi inesquecível devido a um gibi chamado Superaventuras Marvel, que justamente nessa época publicou no Brasil duas das séries em “comics” que mais me marcaram: a fase de John Byrne nos X-Men e o monumental trabalho realizado por Frank Miller no Demolidor. Esse último fez uma verdadeira revolução não só no personagem em si como nas cabeças dos leitores. Misturando as concepções cinematográficas de Will Eisner utilizadas em Spirit, influências de quadrinhos japoneses (nunca um gibi ocidental teve tantos ninjas!!) e uma ambientação mais realista e suja (boa parte das histórias se passava no submundo novaiorquino), Miller obteve um resultado fantástico, que parece melhorar cada vez mais com o passar dos anos. Nessa sua passagem pelo gibi do Demolidor, ele também criou uma das personagens mais fascinantes da história recente dos quadrinhos, Elektra, uma ninja mercenária que era o real grande amor de Matt Murdock, o alter-ego do herói cego. Elektra conquistou os leitores pela sua personalidade: bonita, sexy, amoral e violenta, uma anti-heroína bem distaste dos padrões de personagens femininas comportadas da Marvel e da DC. O apelo de Elektra era tão forte que rendeu ainda outros dois belíssimos trabalhos de Miller: a mini-série “Elektra Assassina” e a Graphic Novel “Elektra Vive”.

Na verdade, a versão cinematográfica de Elektra não surgiu pela primeira vez nessa produção de 2005, mas sim em “Demolidor”, a frustrante adaptação para a tela grande lançada em 2003 das aventuras do personagem-título, tendo também a gostosa Jennifer Garner no papel da ninja em questão. Mas se esse primeiro filme já não era grande coisa, essa continuação das aventuras de Elektra consegue a proeza de ainda ser pior. O problema não é o fato de não ser fiel aos quadrinhos originais. O chato mesmo é que tal produção não tem absolutamente nada do espírito das melhores aventuras da personagem principal, não se prestando nem mesmo como bom filme de ação. A começar por um roteiro que mais privilegia as angústias da protagonista do que a aventura em si, transformando a amoral e cínica Elektra dos gibis em uma chorona bunda-mole. Mas isso é só o começo. A trama vai ficando cada vez mais cretina quando se revela a missão de Elektra: proteger uma ninja mirim patricinha. Nesses momentos, somos obrigados a segurar o vômito...

Para completar a desgraça, nem as cenas de luta se salvam. Se você, caro leitor, está acostumado com o balé infernal que Miller arquitetava para os quebra-paus entre Elektra e Demolidor contra o Tentáculo (seita de ninjas maléficos), pode esquecer. O máximo que Bowman consegue fazer nas suas seqüências de ação é fazer as mesmas parecerem um vídeo-game dos mais vagabundos. Ele podia ter tomado umas aulas com o Tarantino naquelas magníficas coreografias de artes marciais executadas em “Kill Bill”.

Eu não sou um cara que costuma recomendar para que alguém não veja um filme. Por isso, assista “Elektra”. Nem que seja para testemunhar como é uma autêntica bomba cinematográfica.

sexta-feira, agosto 11, 2006


A Última Gargalhada, de F.W. Murnau ****

Pode parecer exagero, mas é simplesmente o melhor filme mudo que já assisti na minha vida. Nesse filme, o grande diretor alemão F.W. Murnau simplesmente abdica dos entre-títulos (na verdade, só há um entre-título, e que é utilizado de forma genial), e conta a sua história apenas através das imagens, abusando de todos os recursos possíveis em termos de linguagem cinematográfica. A fotografia e montagem de “A Última Gargalhada” são de cair o queixo, sendo que é o expressionismo alemão em seu estado mais puro. Olha, só posso dizer que Murnau faz a gente rever os nossos conceitos sobre o Chaplin ter sido o maior cineasta do cinema mudo.

quinta-feira, agosto 10, 2006


Looney Tunes - De Volta à Ação, de Joe Dante ****

Vendo um filme como esse a gente fica sem entender como podemos ficar tanto tempo sem notícias de um diretor tão brilhante quanto Joe Dante. "Looney Tunes - De Volta à Ação" é tão bom quanto qualquer uma das principais obras de Dante dos anos 80 como "Viagem Insólita" e "Gritos de Horror". A interação entre animação e "live action" tem uma fluidez impressionante, lembrando muito "Uma Cilada Para Roger Rabbit" e ficando bem distante do insosso "Space Jam". De se destacar ainda o ritmo insano do filme, resgatando com perfeição o clima dos desenhos originais clássicos do Pernalonga e Patolino. Até os atores parecem ter uma caracterização cartunesca.

quarta-feira, agosto 09, 2006


Clean, de Oliver Assayas ***1/2

Não dá para acreditar que o diretor desse filme, Olivier Assayas, é o mesmo de "Destinos Sentimentais", uma das coisas mais insossas que assisti na minha vida. "Clean" é totalmente o oposto: bela fotografia, bem editado, grandes interpretações de Nick Nolte e Maggie Cheung, trilha sonora fantástica baseada em canções do Brian Eno. Outro detalhe interessante no filme é que apesar dele ser um drama familiar a sua trama tem como pano de fundo o mundo do rock, mas numa perspectiva bem peculiar, apresentando com uma certa originalidade ao retratar vários de seus cliclês básicos (drogas, sexo, fama, shows, empresários picaretas) com uma tremenda ironia. Isso sem contar que uma figura underground como Tricky é apresentado como um verdadeiro astro do rock...

terça-feira, agosto 08, 2006

Dizem Por Aí, de Rob Reiner *

“A Primeira Noite de Um Homem”, obra clássica de 1967 dirigida por Mike Nichols, é um filme que esteticamente não trazia grandes novidades para época de seu lançamento. O que mais chamava atenção realmente era sua parte temática, que trazia um caráter contestador, ao questionar com tremenda ironia e humanidade alguns valores tão caros à sociedade ocidental como o casamento e os ideais pequeno burgueses da classe média.

E por que estou mencionando este filme ao fazer esse comentário de “Dizem Por Aí”, produção de 2005 dirigida por Rob Reiner? É que este último tem como um dos vértices de sua trama a suposta história “real” na qual o roteiro de “A Primeira Noite de Um Homem” teria se baseado. Em um primeiro momento, tal relação faria supor que “Dizem Por Aí” seria uma espécie de homenagem ao marcante filme de Nichols. Até porque no início a personagem Sarah (Jennifer Aniston) remete um pouco a Benjamin Braddock (Dustin Hoffman) no sentido de ambos serem pessoas que se sentem deslocadas no mundo e sem saberem direito o que fazer da vida. A impressão, entretanto, revela-se enganosa ao longo do filme. Sarah passa por algumas experiências reveladoras ao envolver-se com Beau Burroughs (Kevin Costner), antigo amante de sua mãe, e saber de mais alguns “podres” de sua família, tudo isso para chegar ao final moralista e concluir que o melhor para ela é casar com o seu apático noivo (Mark Ruffalo) do qual nem gosta tanto assim e continuar trabalhando no emprego que detesta. Além disso, qualquer sinal de dubiedade do passado da sua família é deixado de lado para ressaltar o quanto a protagonista estava errada nos seus questionamentos iniciais. Ou seja, toda aquele antológico espírito contestador e a comovente ode pela busca da felicidade de “A Primeira Noite de Um Homem” vão para o ralo na visão moralista e bunda mole de “Dizem Por Aí”.

No resto, Reiner conduz seu filme da forma mais burocrática possível. Não há o mínimo tesão e nenhuma cena realmente digna de nota, com um elenco que parece constrangido pela apatia geral. Quer saber? Assistindo “Dizem Por Aí” a gente fica com uma vontade danada de rever “A Primeira Noite de Um Homem” para voltar a acreditar numa humanidade menos conformista.

segunda-feira, agosto 07, 2006


A Ilha, de Michael Bay ***1/2

Na minha opinião, uma das grandes surpresas dos últimos anos. Se não fosse pelo final, muito forçado e com um jeito meio new age, o filme seria perfeito. A trama não tem nada de muito original, mas é muito bem conduzida e numa progressão fantástica, sendo que as cenas de ação irrompem de forma incrível, com uma edição de cair o queixo, chegando até a lembrar em alguns momentos a obra-prima "O Vingador do Futuro" de Paul Verhoeven. É de se destacar ainda a atuação do Ewan McGregor: ele está se revelando como O CARA dos filmes de ação (é só lembrar do Obin Wan Kenobi de "A Vingança dos Sith"). Em resumo, “A Ilha” é a melhor coisa que já assisti do Michael Bay. O que me espanta ainda é que um filme cheio de garra e estilo como esse ter sido um fracasso de bilheteria, enquanto produções que não fedem e nem cheiram como "Batman Begins" e "A Fantástica Fábrica de Chocolates" tiveram um puta público.

quinta-feira, agosto 03, 2006

TOP 10 MOMENTÂNEO DE 2006


1) Viagem Maldita, de Alexandre Aja
2) Munique, de Steven Spielberg
3) Match Point, de Woody Allen
4) Orgulho e Preconceito, de Joe Wright
5) O Novo Mundo, de Terrence Malick
6) O Plano Perfeito, de Spíke Lee
7) Reis e Rainha, de Arnaud Desplechin
8) Maldito Coração, de Asia Argento
9) Soldado Anônimo, de Sam Mendes
10) Três Enterros, de Tommy Lee Jones