quinta-feira, novembro 30, 2006

Match Point, de Woody Allen ****

O fato da trama de “Match Point” se ambientar em Londres pode fazer supor que algo tenha mudado no mundo de Woody Allen. Pura ilusão. Um dos grandes baratos desse genial cineasta é justamente não mudar. O que Allen sempre fez e sempre vai fazer é retrabalhar os seus assuntos favoritos e recriar brilhantemente suas fórmulas. Talvez ele seja o exemplo perfeito da máxima de Nelson Rodrigues: o homem é a soma de suas obsessões.

Nessa produção de 2005, o diretor traz a tona novamente a questão da culpa e expiação, temática essa que com a qual ele já havia trabalhado de forma inesquecível no impecável “Crimes e Pecados”. Isso não quer dizer, entretanto, que ele apenas troque os personagens para fazer o mesmo filme. Muito pelo contrário. Em “Match Point”, Allen vai ainda mais longe, chegando ao ponto de fazer uma homenagem às avessas ao clássico da literatura “Crime e Castigo”, de Dostoiewiski. Na verdade, o que vemos é uma tiração de sarro com o livro: na visão desiludida e cruel do diretor, em um mundo impiedoso e cínico como o que vivemos, já não há mais espaço para sentimentos típicos de uma visão romântica como culpa ou desejo de redenção.

Um dos traços mais típicos da obra de Woody Allen é o fato de que nos seus filmes os limites entre a comédia e o drama são tremendamente difusos, o que faz com que quem assiste aos mesmos fique desconcertado ao não saber precisar onde termina o drama e começa o riso. O próprio diretor brincou com essa sua característica particular em uma das suas produções mais recentes, “Melinda e Melinda”. Em “Match Point”, essa dualidade entre o cômico e o dramático é novamente retomada com maestria. Há seqüências que impressionam pela densidade dramática e pela tensão gerada pela expectativa em se saber como o protagonista Chris Wilton (Jonathan Rhys-Meyers) vai se safar de uma teia de problemas que vai ficando cada vez mais intrincada, ao mesmo tempo em se têm momentos marcados por uma sutil ironia em relação ao ridículo das situações expostas.

É de se destacar ainda as intensas atuações que Allen consegue extrair do seu elenco, principalmente do casal de personagens principais. Jonathan Rhys-Meyers oferece uma interpretação cheia de sutilezas e nuances, conseguindo uma incrível empatia para o seu Chris Wilton: mesmo com ele sendo um puta de um canalha, chegamos até a ter pena do cara e torcemos para o nosso anti-herói saia das enrascadas em que se meteu. Em relação a Scarlett Johansson o resultado não é menos impressionante: Nola Rice, personagem da atriz no filme, vai sofrendo durante a trama uma transformação notável, começando como uma doce e dissimulada garota de beleza quase etérea até chegar a uma verdadeira megera enfurecida.

Por tudo isso, “Match Point” é uma obra-prima que pode figurar tranqüilamente nos pontos altos da respeitável cinematografia de Woody Allen, um dos diretores de visão e estilo mais singulares da história do cinema.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Elsa e Fred - Um Amor de Paixão, de Marcos Carnevale *

Um dia desses me perguntaram por que eu considero “Elsa e Fred” um filme medíocre e o que seria medíocre na minha concepção. É simples. O que considero medíocre em tal filme não tem a ver com roteiro ou produção, até porque geralmente não é isso que determina que um filme seja medíocre ou não. Há filmes com roteiros cretinos, mas que são magníficos, como "Com a Bola Toda" ou "Debi e Lóide", assim como existem outros de produção precária, mas que são altamente criativos e bem feitos como "El Mariachi" e o primeiro "Mad Max". "Elsa e Fred" é até bem produzido, mas não passa disso. Não há um pingo de tesão no filme. Tudo é tão mecânico que parece que em nenhum momento o mesmo respira. Eu considero que a temática do amor na terceira idade é realmente bem interessante, mas o jeito que o diretor Marcos Carnevale trata é da forma mais trouxa possível. Transforma o casal de idosos em um par de velhinhos bonitinhos, engraçadinhos e fofinhos, ou seja, parecem figuras pouco humanas e muito caricatas. A verdade é que é um filme onde tudo é bem digerido, para agradar o público mesmo. Não há espontaneidade, não há preocupação em fazer cinema. Há apenas a preocupação em ser edificante e dar uma lição de vida simplória. E a pretensa homenagem que se faz a "Doce Vida", do Fellini, é patética, pois não tem nada a ver com o espírito original de tal obra-prima. A impressão que se tem é que Carnevale nunca viu esse clássico da história do cinema.

terça-feira, novembro 28, 2006


Adorável Mr. Holand, de Stephen Herek **1/2

“Adorável Mr. Holand” é aquele tipo de filme agradável que a gente assiste na boa, mas que no final se tem a frustrante sensação que faltou algo. Talvez isso venha do fato de que durante a sua metragem não há maiores ousadias ou arroubos criativos por parte do diretor Stephen Herek. O cineasta se preocupou mais em contar de forma linear a trajetória do personagem título (interpretado de forma competente por Richard Dreyfuss), um professor de música que durante 30 anos trabalhou em uma escola pública, mostrando a sua participação decisiva na formação cultural e moral de uma série de jovens. Só esse breve resumo já dá uma boa idéia do que é o filme: uma obra edificante e repleta de lições de vida. Dentro dessa linha, pode-se até dizer que “Adorável Mr. Holand” é bem sucedido. Falta, entretanto, aquele brilho que faria o filme trilhar caminhos menos óbvios e enfadonhos. Isso fica evidente na forma tremendamente acadêmica e superficial que o filme retrata o período histórico de 1965 a 1995 e até mesmo os gêneros musicais típicos desses anos, não se conseguindo resgatar devidamente o espírito tanto da época quanto da música. Nesse sentido, vale assistir uma obra-prima como “Velvet Goldmine”, por exemplo, que traduz com perfeição o que foi toda uma geração justamente por não se prender em visões reducionistas e simplórias.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Cotações da Semana (de zero a quatro estrelas)

Dias de Abandono, de Roberto Faenza **1/2
Deu A Louca na Chapeuzinho, de Cory Edwards ***1/2
A Última Noite, de Robert Altman ***1/2
100 Escovadas Antes de Dormir, de Luca Guadagnino **1/2
Deu Pra Ti Anos 70, de Giba Assis Brasil e Nelson Nadotti *1/2
Inverno, de Carlos Gerbase **1/2
Aqueles Dois, de Sérgio Amon ***1/2
O Diabo Riu Por Último, de John Huston ***
Matei Jesse James, de Samuel Fuller ***1/2
Rififi, de Jules Dassin ****

quinta-feira, novembro 23, 2006


O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee ****

O que mais se ouviu falar sobre “O Segredo de Brokeback Mountain” é que o mesmo se trata de um “faroeste gay”. Tal definição certamente é reducionista, mas traz a tona alguns aspectos interessantes.

Para começar, essa produção norte-americana de 2005 dirigida pelo cineasta chinês Ang Lee realmente pode ser enquadrada, pelo menos em parte, no gênero western, mesmo que temporão. O tom de sua narrativa é mais intimista, fazendo lembrar, nessa linha, obras como “Quando os Homens São Homens”, de Robert Altman, e “Mais Forte Que a Vingaça”, de Sidney Pollack. Como em tais filmes, Lee optou por uma visão mais naturalista e humana do mito do cowboy. Outro ponto de coincidências com esses filmes citados é a forma com que a natureza é registrada. Ao mesmo tempo que é realçada a beleza das paisagens, há um forte teor naturalista, em que o ambiente é visto de forma crua e selvagem. Vemos a natureza de uma forma majestosa e ao mesmo tempo assustadora. Esse paradoxo parece ser uma metáfora para a própria relação apaixonada e tempestuosa dos vaqueiros Ennie (Heath Ledger) e Jake (Jake Gyllenhaal).

Dizer que “O Segredo de Brokeback Mountain” tem como tema simplesmente um romance gay seria apenas enxergar a ponta do iceberg. É claro que o fato de uma relação homossexual ocorrer no meio do rústico e preconceituoso interior norte-americano faz surgir uma série de conflitos e dilemas para os personagens. Acredito, entretanto, que o tema principal do filme é ainda mais amplo. O que vemos em cena é um tema universal: a impossibilidade e a covardia dos indivíduos em romperem com aquilo que os oprimem. O que causa a infelicidade para Ennie não é o fato de ser gay, mas sim a sua incapacidade de tentar realmente fazer o que quer. O personagem passa todo o filme abrindo mão do que realmente deseja em nome do conforto de uma dita “normalidade” e de valores em que nem mesmo ele sabe se acredita. E quando finalmente percebe todo o mal que causou a si, já é tarde demais para remediar. Essa falta de redenção para o protagonista faz com que “O Segredo de Brokeback Mountain” tenha um dos finais mais tristes dos últimos anos. Aliás, a melancolia permeia toda a duração do filme e é ainda mais acentuada pela melodramática e magnífica trilha sonora.

A se destacar ainda o excelente trabalho de atuação de Heath Ledger. A caracterização que faz para Ennie é sensacional, chegando a lembrar em alguns momentos um John Wayne preste a explodir de frustração e raiva, mas que na maioria das vezes fica contido numa máscara de durão. As poucas cenas em que ele consegue desabafar emocionalmente são algumas das seqüências dramáticas mais impactantes de “O Segredo de Brokeback Mountain”.

segunda-feira, novembro 20, 2006


Cotações da Semana (de zero a quatro estrelas)

As Filhas do Vento, de Joel Zito Araújo *1/2
Succubus, de Jesus Franco ***1/2
Koyaanisqatsi, de Godfrey Reggio ***1/2
Powaqqatsi, de Godfrey Regio ***1/2
Johnny Vai à Guerra, de Dalton Trumbo ****
Serenity, de Joss Whedon ****
Tomara Que Seja Mulher, de Mario Monicelli ***1/2

sexta-feira, novembro 17, 2006

Top Gun, de Tony Scott ***1/2

Essa produção norte-americana de 1986 acabou ficando estigmatizada por uma série de acusações: seria apenas um veículo para o estrelismo de Tom Cruise, a música datada repleta de canções bregas dos anos 80, a edição em ritmo de video-clip, etc. Uma revisão mais cuidadosa de “Top Gun”, entretanto, faz constatar que boa parte desses argumentos é pura bobagem.

Para começar, talvez essa seja um dos filmes de Tony Scott em que o mesmo está mais controlado na sua propensão para cortes rápidos. Isso acaba valorizando ainda mais as belas tomadas áreas e realçando o ótimo trabalho de fotografia. Apesar de realmente ter uma certa estética clipeira em alguns momentos, a montagem de “Top Gun” também é um dos seus trunfos, dando ao filme um ritmo preciso, indo de seqüências de ação intensas (principalmente aquelas que envolvem batalhas aéreas) e chegando até a cenas quase contemplativas.
Ainda sobre a edição de “Top Gun”, é exemplar a forma como a música é utilizada em algumas seqüências. Talvez separada das imagens, boa parte dos temas incidentais e canções presentes no filme fiquem frágeis ou até mesmo xaropes (inclusive a conhecida “Take My Breathe Away”). Dentro do contexto do filme, entretanto, essa trilha sonora faz todo o sentido, dando para “Top Gun” uma dimensão épica e romântica memorável

quinta-feira, novembro 16, 2006

Memórias de Uma Gueixa, de Rob Marshall ***1/2

O grande barato de “Memórias de Uma Gueixa” é a dinâmica diferenciada que o diretor Rob Marshall oferece para uma trama oriental. Quem vai assistir ao filme esperando um ritmo narrativo contemplativo típico de certas produções asiáticas vai acabar se decepcionando. A trajetória de Chiyo (Zhang Ziyi) para se tornar uma gueixa de prestígio é mostrada de uma forma que lembra até mesmo “Rocky, Um Lutador”.

Impressiona também no filme o ótimo trabalho de edição e fotografia, que acentuam ainda mais a concepção épica que Marshall dá para a sua trama e que rendem algumas seqüências de rara beleza. A minha favorita é quando Chiyo apresenta uma coreografia embasbacante para uma grande platéia, em que tradição e modernidade se misturam de forma brilhante fazendo que a cena tenha um tom estranhamente atemporal. De se destacar também a magnífica trilha sonora composta por John Williams, com temas que evocam músicas japonesas, mas com um toque ocidental, o que dá um efeito fortemente original e marcante para os mesmos.

O que joga contra “Memórias de Uma Gueixa” são os seus vinte minutos finais, que dão uma dimensão de puro novelão e tiram bastante da sua força. Mesmo assim, é um filme que todo apreciador de cinema deve assistir, nem que seja só para ficar relaxando os olhos com as suas belas imagens.

terça-feira, novembro 14, 2006


Gummo, de Harmony Korine ***1/2

Uma primeira impressão mais superficial ao assistir “Gummo”, de Harmony Korine, faz supor que essa produção norte-americana de 1997 é apenas um derivado de “Kids”, de Larry Clark. Essa comparação até faz um pouco mais de sentido quando se fica sabendo que Korine foi colaborador de Clark em “Ken Park” e no próprio “Kids”. A verdade, entretanto, é que em um olhar mais atento se pode constatar que “Gumo” é uma experiência cinematográfica muito mais ousada e satisfatória que “Kids”.

Para começar, Korine tem muito mais traquejo para a direção do que Clark. Isso fica evidente de cara em algumas seqüências de “Gummo” que impressionam pela criativa concepção visual. A seqüência em que Solomon (Jacob Reynolds) e Tummler (Nick Sutton) andam de bicicleta no meio da rua à caça de gatos, por exemplo, tem um estranho senso épico. Em outros momentos, o cineasta evoca David Lynch ao conseguir obter cenas quase surreais pela sua esquisitice, como aquela em que as meninas Dot (Chloe Sevigny) e Helen (Carisa Bara) dançam ao som da singela “Every Day” de Buddy Holly ou em qualquer um dos momentos em que aparece o enigmático Bunny Boy (Jacob Sewell).

Outro aspecto que chama atenção em “Gummo” é a visão que Korine tem de seus personagens. É mostrada uma galeria de “losers” típicos de uma cidadezinha interiorana dos EUA, em todo o esplendor de suas bizarrias. Só que não se cai na armadilha fácil de simplesmente filmar tudo isso com a intenção única de chocar. Apesar da sordidez em que as suas criaturas vivem, Korine oferece um olhar carinhoso e irônico em relação às mesmas, o que dá um efeito ainda mais perturbador. Isso fica evidente quando Solomon e Tummler “visitam” uma prostituta com Síndrome de Down. Em um primeiro momento se pode até ficar espantado com a idéia doentia da situação. Mas logo depois se fica ainda mais desconcertado com a piscadela terna que Solomon dá para a garota. Esse paradoxo de reações e sensações é um dos maiores trunfos de “Gummo”.
Algo que me chamou atenção mais particularmente no filme de Korine é a participação de Linda Manz, a eterna C.J. do magnífico “Anos de Rebeldia”. A sua atuação como a mãe de Solomon rende algumas dos momentos mais marcantes de “Gummo”, principalmente na seqüência do banho, quando o menino está comendo macarrão e chocolate dentro de uma banheira com uma água imunda e sua mãe esfregando seus cabelos com shampo. Tem-se a impressão que a jovem C.J. conseguiu sobreviver àquela explosão do final de “Anos de Rebeldia” e acabou se tornando uma mãe ainda mais enlouquecida.

segunda-feira, novembro 13, 2006


Cotações da Semana (de zero a quatro estrelas)

A Última Noite, de Robert Altman ***1/2
Os Infiltrados, de Martin Scorsese ****
Matador, de Pedro Almodovar ****
Jogos Mortais III, de Darren Lynn Bousman ***1/2
O Homem Que Ri, de Paul Leni ****
Volver, de Pedro Almodovar ***1/2
A Morte Num Beijo, de Robert Aldrich ****

sexta-feira, novembro 10, 2006


Wolf Creek, de Greg MacLean ***1/2

Assim como os recentes “Rejeitados Pelo Diabo” e “Viagem Maldita”, “Wolf Creek”, produção australiana de 2004, é uma volta a estética dos filmes de horror B dos anos 70 cujos maiores expoentes foram Tobe Hooper e Wes Craven. O diretor Greg MacLean se revela como um aplicado discípulo dessa escola, ao mesmo tempo que acrescenta elementos próprios. Mesmo não tendo o status de obra prima das obras mencionadas de Rob Zombie e Alexandre Aja, “Wolf Creek” é um trabalho de impacto, com vários momentos eletrizantes.

Fortemente inspirado em clássicos do horror como “O Massacre da Serra Elétrica” e “Quadrilha de Sádicos”, o filme de MacLean mostra alguns fatores diferenciais que lhe dão uma cara própria. Para começar, há um muito bem elaborado cuidado estético em termos de fotografia. As paisagens selvagens e áridas dos desertos australianos são aproveitadas de forma criativa, com os enquadramentos dando um tom até mesmo épico em algumas oportunidades. Impressiona também a forma como as cores são captadas: as mesmas são fortes e quentes, acentuando ainda mais o clima de descida aos infernos proposto pela direção de MacLean.

O cineasta mostra ainda domínio da sua narrativa. Ele nos apresenta o trio de “vítimas” na primeira meia-hora de filme, fazendo com que nos identificamos com os mesmos, acompanhando com interesse a sua viagem rumo a tragédia. Tal preparação faz total sentido quando o banho de sangue começa, o que faz com que a trama de “Wolf Creek” fique cada vez mais tensa com o passar do tempo. Ao serem perseguidos pelo psicopata Mick (John Jarrat), acabamos realmente nos importando com o destino da sua “caça”.

Aliás, é se destacar também a forma como Mick se insere na narrativa. Inicialmente, enxerga-se o personagem como um interiorano simpático e carismático. Pouco depois, quando o mesmo revela sua verdadeira natureza, fica-se atordoado com o seu sadismo e a sua fúria homicida. Um vilão efetivamente de peso e assustador, item fundamental para que um filme como esse seja atinja as suas intenções. MacLean dá a impressão ao expectador em algumas seqüências de que os jovens perseguidos e torturados por Mick parecem estar em uma outra dimensão inóspita e em que as regras normais da civilização foram para o espaço. Um mundo em que reina soberana a figura de um caipira enlouquecido.

“Wolf Creek” só não ganha a cotação máxima desse blog devido ao seu final altamente broxante. Fica-se com a impressão de que MacLean não quis levar o seu filme até às últimas conseqüências, ficando preso no formato “baseado em fatos reais”, o que acaba sendo frustrante ante tudo o que havia sido mostrado anteriormente. Mesmo assim, “Wolf Creek” é um ótimo a filme a ser apreciado não só pelos fãs do gênero, mas também por qualquer pessoa que goste de cinema.

quinta-feira, novembro 09, 2006


Jackass, O Filme, de Jeff Tremaine ***

Essa versão cinematográfica do original televisivo em termos formais e temáticos não apresenta algo de muito diferente do que nos acostumamos a ver na telinha das estrepulias extremas da Johnny Knoxville e sua turma de dementes. O que realmente muda é que as brincadeiras suicidas e de mau gosto ficam um pouco mais radicais e perigosas. E esse é justamente o grande mérito de “Jackass, O Filme”: por mais idiotas que possam ser as idéias desses dementes, o impacto visual de algumas seqüências do filme tem um certo encanto perverso e que resvalam para o puro humor negro. E é isso justamente que diferencia tanto o filme quanto a série original de outros “reality shows” babacas: a turma de dublês realmente se diverte fazendo todas aquelas merdas e têm perfeita consciência do ridículo das situações absurdas em que se metem. E no meio de vários episódios que beiram o surreal, o destaque disparado vai para aquele em que Ryann Dunn coloca um carrinho de ferro no reto e vai para um pronto socorro fazer um exame de raio x. A cara de perplexo do médico ao enxergar na chapa o singelo brinquedinho já valeria por si só assistir esse “Jackass – O Filme”.

quarta-feira, novembro 08, 2006


Munique, de Steven Spielberg ****

O que mais me frustrou em relação a “Munique”, produção de 2005 de Steven Spielberg, é que pouquíssimo se falou sobre os inúmeros méritos cinematográficos da obra. A grande maioria de artigos e resenhas preferiu se concentrar em imprecisões históricas e discussões políticas. Na minha opinião, Spielberg não teve como grande preocupação uma rigorosa fidelidade aos fatos, usando os eventos em questão (o atentado terrorista nas Olimpíadas de Munique e suas conseqüências) como pano de fundo para um tenso filme de ação. Tanto que logo no início de “Munique” somos avisados de que o roteiro é “inspirado” em fatos reais. Vale mencionar que Spielberg tão pouco teve a pretensão de oferecer uma visão definitiva sobre o conflito entre árabes e judeus. O seu tema é mais universal, concentrando-se mais sobre a situação de um indivíduo em poder conviver com a idéia de que é um assassino, mesmo que por motivos aparentemente “justificáveis”.

Em termos formais, “Munique” representa mais um dos auges criativos de Spielberg. O cineasta, que já vinha de uma brilhante versão para “Guerra dos Mundos”, parece revitalizar o que melhor se fez no cinema norte-americano dos anos 70, período esse em que se consagrou definitivamente e foi um dos maiores expoentes. Lembramos principalmente do Willian Friedkin de “Operação França” nas seqüências de ação, assim como o Scorsese de “Táxi Driver” e “Caminhos Perigosos” nas cenas marcadas por uma admirável intensidade e crueza dramática. Spielberg mostra a sua genialidade ao saber criar climas tensos e soturnos, filmando inúmeras reuniões e discussões que criam a expectativa na medida certa para o expectador até que os breves, mas memoráveis, momentos de violência irrompam em seqüências de forte impacto (impossível não lembrar daqueles inesquecíveis massacres finais da trilogia “O Poderoso Chefão”, de Francis Ford Coppola, voltando novamente às referências setentistas).

E já que estamos falando em grandes seqüências, isso é algo que há em profusão em “Munique”. A começar pelo sensacional trabalho de montagem, em que passado (o seqüestro e assassinato de atletas judeus, em um rigoroso registro quase documental) e presente (a perseguição de terroristas árabes por parte de agentes secretos israelenses, em tom de puro thriller) se entrelaçam com perfeição. As cenas de ação também revelam a maestria de Spielberg, com o mesmo evocando o grande Sam Peckinpah na exatidão de suas verdadeiras coreografias de violência. Nesse sentido, o ápice é a execução com silenciadores de uma espiã holandesa: os sinuosos movimentos dos assassinos e sua vítima chegam a lembrar uma sombria dança de morte.

Impressiona também em “Munique” a forma nada maniqueísta mostrada da relação entre judeus e árabes. Evita-se a conotação de “mocinhos e bandidos”, fazendo com que se questione se os métodos usados pelos agentes do Mossad são tão diferentes daqueles utilizados pelos terroristas. Essa visão de mundo, em que nada é tão preto no branco, dá uma dimensão humana admirável para o filme, pois acentua ainda mais o dilema moral do líder da missão Avner (Eric Bana) e seus companheiros. O que vemos não são esteriótipos de super agentes secretos, mas sim de indivíduos normais, alguns até mesmo pais de família, que são colocados em situações extremas que os fazem questionar tudo o que acreditavam.

E já que tocamos no assunto, vale mencionar que “Munique” talvez seja a obra mais bem acabada de Spielberg em termos de construção de personagens e interpretações. A começar pelo próprio protagonista, Avner, um indivíduo rico em contradições e dúvidas, mas que ao mesmo tempo é obrigado a agir de forma automática e fria no cumprimento de sua missão. Eric Bana oferece uma interpretação cheia de nuances, ressaltando a dubiedade do personagem e das situações em que o mesmo está envolvido, acabando por tornar Avner próximo do expectador. Já Daniel Craig é o contraponto perfeito para a sutileza de Bana: o seu Steve é pura brutalidade e fúria, um judeu pronto a exterminar o maior número possível de árabes e não sentir um pingo de remorso por isso. E é claro que não dá para esquecer dos franceses Michel Lonsdale e Mathieu Amalri, primorosos na sua canalhice como dois contraventores que vendem informações para Avner.

Enfim, independente dos ideais políticos de quem assiste, “Munique” é um programa imperdível para aqueles que apreciam cinema. Não só por trazer um Steven Spielberg em ótima forma, mas também por trazer muito das melhores qualidades que o cinema norte-americano tem a oferecer.

segunda-feira, novembro 06, 2006


Cotações da Semana (de zero a quatro estrelas)

O Grande Truque, de Christopher Nolan ***1/2
Crônica de Uma Fuga, de Adrián Caetano ***1/2
O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger **
Flyboys, de Tony Bill **1/2
A Rainha dos Condenados, de Michael Rymer *
Os Sete Amores, de Buster Keaton ****
Fudoh, de Takashi Miike****
Boxe Por Amor, de Buster Keaton ****