terça-feira, julho 03, 2007

Boa Noite e Boa Sorte, de George Clooney ***1/2


Existem alguns filmes que geram toda uma série de comentários mais sobre questões extra-cinematográficas do que propriamente sobre os seus méritos artísticos. “Boa Noite e Boa Sorte” é um desses casos. Em 2006, resenhas e comentários colocavam que se tratava de uma obra “corajosa” por fazer uma analogia entre o mccarthismo e a atual Era Bush. Puro exagero. O filme não traz nada de novo ao tema e nem é tão questionador assim, sendo a típica produção pretensamente “política” que o povo politicamente correto adorar assistir para se sentir “transgressor”. Quem quiser assistir filmes políticos realmente inquietantes deve ir atrás de obras como “A Classe Operária Vai ao Paraíso”, de Elio Petri, ou “Z”, de Costa Gavras, filmes esses que são rebeldes até na própria estrutura narrativa. Isso não quer dizer necessariamente, entretanto, que “Boa Noite e Boa Sorte” seja um mau filme. Muito pelo contrário. Mesmo não tendo a mesma criatividade estética e narrativa de “Confissões de Uma Mente Perigosa”, a altamente promissora estréia de George Clooney como diretor, “Boa Noite e Boa Sorte” tem momentos de alto nível cinematográfico, principalmente pelo interessante trabalho de fotografia e edição que mistura a recriação de época com imagens de arquivo até um ponto que fica difícil distinguir onde começa uma e termina a outra. Além disso, Clooney consegue extrair de um roteiro quase minimalista algumas fortes seqüências de tensão, também sabendo aproveitar com precisão as interpretações econômicas e sutis da maioria do seu elenco (com claro destaque para David Strathairn, Patricia Clarkson e Robert Downey Jr.- este último, aliás, o melhor ator norte-americano em atividade, ao lado de Mark Ruffalo).

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