sexta-feira, agosto 24, 2007

Pecados Íntimos, de Todd Field ***1/2


Confesso que estava com um pé atrás com esse “Pecados Íntimos”. Afinal, o diretor do filme é Todd Field, o mesmo realizador do pretensioso e insosso “Entre Paredes”. No entanto, acabei tendo uma agradável surpresa assistindo ao filme. Field evoluiu barbaridade como cineasta, além de se revelar dotado de um acurado senso de ironia. O cineasta pega uma trama que envolve questões espinhosas como pedofilia, insatisfação sexual e adultério e dá um tratamento até mesmo original, misturando momentos altamente dramáticos com outros de puro sarcasmo, lembrando bastante nesse sentido “Beleza Americana”. Field dispensa maniqueísmos e simplificações, dando uma dimensão dramática consistentes para os seus personagens. O pedófilo Ronnie (Jackie Earle Haley), por exemplo, pode despertar uma natural repulsa pelo seu comportamento em algumas seqüências do filme, mas em outros momentos é inegável que acabamos ficando sensibilizados com a relação profundamente afetuosa que o mesmo tem com a sua mãe (Phyllis Somerville). Aliás, poucas vezes no cinema uma relação entre mãe e filho foi mostrada de forma tão verdadeira e tocante como em “Pecados Íntimos”.

A abordagem humanista de Field se estende também sobre outro personagem fascinante que é Brad (Patrick Wilson). Num primeiro momento, pode-se até achar que é apenas mais um cara que não gosta muito de trabalhar e que trai a esposa dedicada. Com sutileza, entretanto, Field revela aos poucos que temos na verdade um personagem que é um verdadeiro rebelde, ainda que nem o mesmo saiba disso: procurando se enquadrar numa profissão que ele nem acredita, Brad vive tentando se adaptar num padrão rígido imposto quase que sublinarmente, pela sua esposa e pela sociedade geral. Para fugir desse padrão asfixiante, encontra uma liberdade pequena, mas valiosa, em prazeres mundanos como jogar futebol americano com policiais, assistir jovens andando de skate e em escapadas extraconjugais com a bela e frustrada Sarah (Kate Winslet).

Para retratar essas e outras pequenas comédias humanas, Field opta por um estilo clássico e limpo no filmar, o que acaba se revelando uma escolha sábia. O contraste entre essa forma aparentemente simples de elaboração da edição e fotografia e a face sombria das situações e dos personagens da trama é fascinante, dando ao um filme um caráter perturbador.

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