sábado, junho 20, 2009

Entre os Muros da Escola, de Laurent Cantet ****


Li recentemente um artigo no jornal Zero Hora que tratava sobre o fenômeno cada vez mais recorrente de pessoas que abandonam as salas de cinema de Porto Alegre no meio das projeções. O mais curioso em tal matéria era o fato de que apontava a produção que era uma espécie de atual “campeã” nesse tipo de situação: “Entre os Muros da Escola”. Um repórter que ficou “de tocaia” na saída de uma sessão do filme em questão abordou um cidadão que estava saindo bem antes do término, questionando o mesmo porque ele já estava partindo tão cedo, sendo que o cidadão respondeu que a obra era decepcionante por só mostrar pessoas discutindo e não trazer nenhuma “lição de vida”. Bem, devo confessar que concordo com o nosso amigo fujão, pelo menos em parte. Não há em “Entre os Muros da Escola” exemplos edificantes de comportamento professoral, na linha “Meu Mestre Com Carinho”. E esse é justamente um dos aspectos mais fascinantes da obra. O professor François é apresentado, antes de mais nada, como um ser humano que diante de situações difíceis pode tomar uma decisão acertada como também hesitar ou meter os pés pelas mãos, o que é que ocorre justamente em alguns momentos. Paira pelo filme a sensação melancólica de que François e seus colegas, que representam um modelo de escola tradicional, são quase anacrônicos ao tentar lidar com uma nova realidade de situações e questionamentos que são representados pelos alunos que, em sua grande maioria, são descendentes de imigrantes. O que se atira na cara do espectador, e talvez isso perturbe a um ponto de até o mesmo abandonar a sala de cinema, é que tudo aquilo que se aprende numa sala de aula está cada vez mais defasado da realidade dos estudantes. A tão comentada seqüência final do filme é a perfeita e amarga síntese disso.

Mas reduzir o brilhantismo de “Entre os Muros da Escola” a somente ao seu lúcido discurso social seria injusto. O diretor francês Laurent Cantet dá a sua narrativa uma dinâmica eletrizante, num brilhante jogo de enquadramentos criativos e edição de cortes rápidos, mas não confusos, que acabam refletindo o próprio sentimento de urgência da trama. Outro detalhe instigante da obra é o fato de que devido ao fato da mesma ser uma adaptação de um livro baseado em situações reais, Cantet teve a idéia de que a maioria das pessoas retratadas no texto interpretasse a elas mesmas na tela. O resultado dramático é fabuloso, com o elenco oferecendo interpretações espontâneas e fluidas que estão em perfeita sintonia dramática com o espírito do filme.

Um comentário:

eron duarte fagundes disse...

Belo texto, amigo André, especialmente ao analisar a decepção do espectador que espera de um filme um ponto de vista moral e topa a escuridão das relações humanas, inclusive numa sala de aula onde estas relações deveriam ser aclaradas.