segunda-feira, maio 18, 2015

A vida privada dos hipopótamos, de Maira Bühler e Matias Mariani ***

Mais do que simplesmente contar um fato real, o documentário “A vida privada dos hipopótamos” (2014) busca a discussão do próprio método do gênero cinematográfico ao qual pertence. Não que a temática abordada não seja interessante – a história do técnico em informática norte-americano Christopher Kirk que vai para a Colômbia conhecer os hipopótamos africanos comprados por Pablo Escobar, apaixona-se por uma exótica e bela nativa, depois se transforma em traficante internacional e acaba preso e condenado em São Paulo traz uma dimensão humana e simbólica fascinante em suas nuances dramáticas. A jornada pessoal do Kirk traz o subtexto marcante do indivíduo originário de um país organizado e racional do primeiro mundo que cai na gandaia sensual e caótica de uma capital terceiro-mundista e termina tragado num vórtice de prazer e culpa. A boa sacada estética dos diretores Maíra Bühler e Matias Mariani é enquadrar a saga intimista de seu protagonista dentro de uma concepção formal caseira, dando a impressão de que o filme emula um diário audiovisual de Kirk. Assim, ferramentas como textos de mails, filmagens de celulares e depoimentos via skype se integram de forma natural com técnicas tradicionais documentais, configurando uma narrativa densa e envolvente no seu misto de dramaticidade e ironia. Por vezes essa desconstrução dos mecanismos típicos do gênero soa excessiva, principalmente quando os próprios cineastas se inserem na narrativa como personagens (esse tipo de recurso, para soar orgânico e não forçado, exige um grau de mestria e sagacidade que só um diretor brilhante e experiente como Eduardo Coutinho, por exemplo, tem a manha de colocar em prática). Ainda sim, “A vida privada dos hipopótamos” é uma obra acima da média em relação à boa parte do que tem aparecido nos documentários nacionais recentes.

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