segunda-feira, dezembro 30, 2019

Os pássaros de Massachusetts, de Bruno de Oliveira ***


Tudo aquilo que parece aleatório ou casual em “Os pássaros de Massachusetts” (2019) na realidade revela um domínio rigoroso e notável da narrativa cinematográfica por parte do diretor Bruno de Oliveira. Os fatos da trama se sucedem de maneira fluida, beirando o espontâneo, mas o que dá realmente essa impressão de leveza é a encenação precisa engendrada pelo cineasta. O tratamento estético-existencial do filme evoca tanto clássicos de Eric Rohmer quanto a sofisticação narrativa disfarçada de amadorismo do coreano Hong Sang-soo, ou seja, a obra de Oliveira remete a um desconcertante híbrido de modernidade e nostalgia. Dentro dessa curiosa formatação, é de se destacar o registro audiovisual de uma Porto Alegre melancólica e crepuscular, mas que por vezes também soa como um insólito e algo encanador universo paralelo (em contraste, por exemplo, com o retrato depressivo e assustador da capital rio-grandense em “Tinta bruta”). Num contexto geral, uma das mais curiosas revelações do cinema gaúcho dos últimos anos.