Tudo aquilo que parece aleatório ou casual em “Os pássaros
de Massachusetts” (2019) na realidade revela um domínio rigoroso e notável da
narrativa cinematográfica por parte do diretor Bruno de Oliveira. Os fatos da
trama se sucedem de maneira fluida, beirando o espontâneo, mas o que dá
realmente essa impressão de leveza é a encenação precisa engendrada pelo
cineasta. O tratamento estético-existencial do filme evoca tanto clássicos de
Eric Rohmer quanto a sofisticação narrativa disfarçada de amadorismo do coreano
Hong Sang-soo, ou seja, a obra de Oliveira remete a um desconcertante híbrido
de modernidade e nostalgia. Dentro dessa curiosa formatação, é de se destacar o
registro audiovisual de uma Porto Alegre melancólica e crepuscular, mas que por
vezes também soa como um insólito e algo encanador universo paralelo (em
contraste, por exemplo, com o retrato depressivo e assustador da capital rio-grandense
em “Tinta bruta”). Num contexto geral, uma das mais curiosas revelações do
cinema gaúcho dos últimos anos.
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