O gênero dos filmes de guerra não é estranho para o diretor
britânico Sam Mendes. Ele dirigiu “Soldado anônimo” (2005), sardônica obra a
refletir sobre o desigual conflito no Golfo Pérsico entre Estados Unidos e
Iraque. A irônica e desapaixonada narrativa evidenciava uma ácida reflexão
sobre o vazio ético daquela guerra, retirando qualquer carga patriótica ou
ufanista de sua abordagem. Assim, causa estranheza que Mendes tenha entregue um
trabalho tão asséptico e convencional em “1917” (2019), que narra episódios
baseados em fatos reais que se sucederam no front europeu na I Guerra Mundial.
A princípio, o filme sugere uma certa ousadia formal ao sugerir que toda a
trama será concentrada em uma encenação sem cortes. Tal recurso narrativo,
entretanto, pouco acrescenta ao filme em termos sensoriais, dando até por vezes
a impressão que se está assistindo a alguém jogando um game de guerra. Essa
impressão é acentuada pelo próprio roteiro do filme, em que fatos se sucedem de
maneira esquemática e apelativa. Falta profundidade psicológica e efetiva
densidade dramática para as ações da trama e seus personagens – tudo se
desenvolve quase mecanicamente a reproduzir de maneira algo preguiçosa os
clichês de heroísmo e sacrifício do gênero. O mofado resultado final de “1917”
mais evidencia uma obra protocolar para marcar os 100 anos do final do conflito
do que uma pretensão de se entregar um filme realmente memorável.
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