segunda-feira, junho 26, 2006


Manderlay, de Lars Von Trier ****

Um dos maiores lugar comum que se costuma falar sobre "Manderlay", assim como "Dogville", é a de que o mesmo seria "teatro filmado". Ora, isso é uma tremenda besteira. O fato de Lars Von Trier utilizar como cenário um tablado com marcações de giz representando casas e sem maiores adereços não faz com que seu filme caia nessa armadilha. Muito pelo contrário. Os bem cuidados enquadramentos de câmera e edição de "Manderlay" são puramente cinematográficos, e mesmo a atuação naturalista do elenco nada tem de teatral. O cineasta dinamarquês não se limita também a apenas repetir a concepção de "Doville". Melhor ainda: em alguns aspectos "Manderlay" representa um passo além, tanto no estilo de filmar quanto na caracterização de personagens. Um exemplo disso é o sensacional plano de abertura, em que há uma tomada aérea de um mapa que cada vez mais se aproxima do chão até chegar ao grupo de gangsters liderado pelo pai da protagonista (William Dafoe). Aliás, a personagem Grace é ainda melhor delineada nesse episódio da trilogia de Trier, mostrando-se aspectos ainda mais complexos de sua personalidade. Nesse sentido, a atuação expressiva de Bryce Dalllas Howard colabora consideravelmente. Ela dá muito mais profundidade à personagem do que Nicole Kidman em "Dogville". Outro fator criativo fundamental em "Manderlay" é a abordagem oferecida sobre o racismo, mote central da trama. A visão oferecida por Trier é extremamente lúcida, ácida e cruel. Tanto que é conhecido o episódio em que vários atores negros americanos recusaram-se a participar do filme quando leram o roteiro nem um pouco politicamente correto do cineasta.

Todas essas virtudes fazem de “Manderlay” uma das experiências cinematográficas mais radicais e marcantes dos últimos e reafirmam o nome de Lars Von Trier como um dos cineastas de estilo e visão mais originais da atualidade.

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