quarta-feira, março 14, 2007

O Amor Não Tira Férias, de Nancy Meyers *1/2

Nancy Meyers parece ser uma cineasta que tenta colocar em seus filmes uma visão sobre a mulher moderna no mundo atual. Isso, entretanto, não quer dizer necessariamente que seja algo positivo. Tanto em “Alguém Tem de Ceder” como nesse mais recente “O Amor Não Tira Férias”, o universo de Meyers é bem delimitado: mulheres independentes e inteligentes têm a tendência de sofrer muito devido à maioria cruel dos homens que só sabem enganá-las e tirar proveito das mesmas, a não ser quando elas conseguem domesticar algum deles ou até mesmo encontram um príncipe cheio de boas intenções. Ou seja, uma mistura de feminismo estéril com romances água-com-açúcar estilo “Sabrina” ou “Júlia”.

“O Amor Não Tira Férias” é o tipo de filme que clama a todo o momento por um pouco de vida: tudo é tão esquemático e previsível que são poucas as cenas em que há algum traço de espontaneidade. Meyers transforma todos os seus personagens nos mais equivocados estereótipos. Amanda (Cameron Diaz) faz parecer que toda mulher bem sucedida não passa de uma patricinha histérica e egoísta, enquanto Íris (Kate Winslet) é o protótipo piorado da sofredora por amor. Além do fato de serem realmente muito bonitas, não se consegue entender no filme porque Graham (Jude Law) e Miles (Jack Black), respectivamente, se apaixonam por elas tamanha a caracterização rasa das mesmas. E por mais que Meyers tente colocar um pouco de auto-ironia para o filme, isso acaba sendo um recurso hipócrita diante do próprio roteiro excessivamente açucarado e simplório.

Mas o discurso da diretora não se restringe apenas às relações amorosas. Mais constrangedora ainda é a crítica que se faz ao cinema atual norte-americano que estaria dando mais atenção para explosões e efeitos especiais do que para roteiros que “contem boas histórias”. Ora, para mim, isso não passa de uma argumentação moralista e reacionária contra o próprio cinema. Afinal, essa é a manifestação artística que busca o seu impacto sensorial através das imagens e da edição das mesmas. O que Meyers quer com a sua argumentação moralista? Transformar o cinema em subliteratura? E o mais triste é ouvir toda essas bobagens da boca do veterano Eli Wallach, o inesquecível “feio” de “Três Homens em Conflito”, do mestre Sérgio Leone, uma das obras cinematográficas em que mais a imagem espetacular e épica se sobressai ao roteiro.

É claro que dizer que “O Amor Não Tira Férias” é um desastre completo seria um exagero. Afinal, Jude Law tem uma atuação realmente muito boa e os momentos cômicos com Jack Black são tremendamente divertidos. Mas que o filme certamente pode estar no rol dos piores do anos isso dá para dizer sem a menor sombra de dúvida.

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