terça-feira, fevereiro 02, 2010

Bons Costumes, de Stephan Elliot ***1/2


O cineasta Stephan Elliot conquista uma interessante proeza em “Bons Costumes” (2008) ao resolver uma equação complicada: enquadra uma clássica peça de Noel Coward dentro de uma concepção cinematográfica estilizada, tendo um resultado semelhante àquele que Joe Wright obteve na adaptação de “Orgulho e Preconceito” (2005). O texto original de Coward é primoroso ao misturar drama e comédia em uma história que ironiza o preconceito e a fleuma britânicos, além de contar com trechos musicados em que canções complementam brilhantemente os diálogos. Elliot não cai na armadilha do “teatro filmado”, elaborando uma narrativa que oscila entre o naturalismo e o irreal com fluidez espantosa. Na abertura, a estética do cinema mudo e preto e branco do início do século XX é recriada de forma mais que convincente, e logo depois emenda em uma seqüência de animação de grafismo típico da década de 20. Ao longo da obra, destacam-se momentos em que melodias irrompem naturalmente em meio a conversas entre os personagens. Fotografia e edição também contribuem para o ritmo dinâmico de “Bons Costumes”, indo de enquadramentos virtuosos, passando por sofisticados jogos de fusões de imagens (o flashback que se passa na lente de um óculos escuro é um truque antológico) e chegando nas bem orquestradas e empolgantes seqüências da caça à raposa e do baile final. A direção de arte tem um fundamental papel na construção dramática da produção, principalmente na caracterização visual exuberante da protagonista Larita (Jessica Biel), personagem que parece concentrar em si todo o espírito de uma série de divas do cinema da época.

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