quinta-feira, julho 28, 2011

Metadona - Uma Maneira Americana de Trafica, de Jim Klein e Julia Reichert ****

Alguns posts atrás eu comentei sobre “Quebrando o Tabu” (2011), produção brasileira que discutia a questão da descriminalização das drogas e que tinha como principal problema o fato de ter uma concepção formal que caía muito para uma espécie de obra institucional sobre o tema. Pois “Metadona – Uma Maneira Americana de Traficar” (1974) tem uma pretensão aparentemente de ser um filme de caráter educativo sobre o tema do vício, mas o seu tratamento estético acaba fazendo com que transcenda tal finalidade. Pode-se discordar da visão dos autores sobre a questão da droga, mas o documentário acaba se grudando no nosso imaginário cinematográfico pela força de algumas de suas cenas. Tematicamente contra o uso oficial pelo governo da droga que o intitula, o filme possui uma formatação bem sistemática – escolhe dois grupos de apoio a usuários de heroína, um que utiliza a metadona no tratamento e outro que adota um método baseado em discussões de grupo, e os foca em dois momentos distintos com diferenças de poucos anos. Na primeira parte, a fotografia é em preto em branco, na segunda a mesma é colorida. Tal concepção nos registros não é gratuita: se nas tomadas mais antigas o preto e branco sombrio acentua um tom de angústia e incerteza para os viciados, nas mais recentes o colorido dá uma perspectiva de esperança para aqueles que conseguiram evoluir no tratamento. Se a dureza das situações focadas e de alguns depoimentos choca pela crueza, há momentos em que emerge de forma repentina uma inesperada dose de lirismo, principalmente quando a narrativa se concentra nas reuniões do segundo grupo, aquele que não usa metadona, em que um dos “remédios” adotados é o canto coletivo de clássicos do soul (afinal, os anos 70 foi um período de excelente safra de músicas no estilo). O conjunto de tais escolhas formais e temáticas dos diretores Jim Klein e Julia Reichert é que dá a “Metadona – Uma Maneira de Traficar” uma aura de clássico no gênero documental, ainda que um tanto obscuro.

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