sexta-feira, julho 29, 2011

Minha Terra, África, de Claire Denis ****



Em termos temáticos e filosóficos, “Minha Terra, África” (2009) parece emular alguns conceitos já trabalhados em filmes como “Apocalypse Now” (1979): o temor e a inabilidade do homem branco ocidental em lidar com o desconhecido e misterioso representado pelos povos ditos “selvagens” e pelos lugares que lhes são estranhos. No filme de Claire Denis, há a dissolução de velhos preceitos típicos dos que são “desenvolvidos” – a obsessão da francesa Maria Vial (Isabelle Huppert) em fazer a colheita de café da sua fazenda em pleno coração da África e no meio de uma sangrenta guerra civil poderia parecer heróica, mas na realidade apenas reflete a alienação, a insensibilidade emocional e a preocupação com a manutenção de um status econômico por parte da protagonista. A narrativa, que alterna sutilmente passado e presente, estabelece um lento e inexorável processo de destruição dos desejos da personagem, assim como relaciona de forma intrínseca os lados social e intimista da trama, como se quisesse jogar na cara de Maria a impossibilidade de seu alheamento da realidade que a cerca – o que acaba se consumando na tragédia familiar que encerra o filme. No mais, Denis estabelece um estilo de filmar que oscila entre o seco e o poético, como se contaminada por uma certa sensação de lassidão melancólica que provém de um país que se despedaça aos poucos, sentimento esse que a música etérea e sombria dos Tindersticks, habituais colaboradores da cineasta, sublinha em sintonia marcante.

2 comentários:

Pedro Henrique Gomes disse...

Olha, concordo. E poder ter visto os filmes dela em película foi apaixonante. Um filmaço!

André Kleinert disse...

Eu queria ter visto mais filmes dela na mostra da PF Gastal, mas eu estava envolvido no FANTASPOA e acabei não tendo tempo.