quarta-feira, junho 19, 2013

Nota de rodapé, de Joseph Cedar ***1/2


A combinação cinema e literatura atinge uma insólita síntese na produção israelense “Nota de rodapé”. O filme não é uma adaptação de um livro. A relação entre as referidas mídias ocorre devido à temática do filme, cujos protagonistas, pai e filho de difícil relacionamento, são pesquisadores acadêmicos que lidam com a palavra escrita. A obsessão com tal objeto de trabalho acaba se estendendo para as suas vidas. E é aí que o diretor Joseph Cedar estabelece uma tensa narrativa que se divide com naturalidade entre o humor amargo e o drama contido. Cedar obtém um registro de tons kafkanianos – várias seqüências do filme se desenvolvem em ambientes fechados, escuros e algo sufocantes. A prolixidade dos diálogos em determinadas cenas contrasta de forma contundente com momentos em que predomina um silêncio inquietante. Com precisão, são inseridas trucagens visuais em que as palavras de livros se embaralham com a encenação naturalista. Toda essa concepção estética embala uma engenhosa trama que critica com sutileza e ironia a fogueira das vaidades da vida acadêmica, sem esquecer de ressaltar em pequenas nuances o clima de paranóia e opressão que a sociedade israelense vive na atualidade. As acertadas escolhas temáticas e formais de Cedar acabam coroadas com a bela conclusão do filme, em que os dotes de filólogo de um dos personagens principais ganham um uso desconcertante e fundamental no sentido existencial de “Nota de rodapé”.

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