terça-feira, novembro 05, 2013

Vivendo no abandono, de Tom DiCillo ***

Na história do cinema, há filmes que por seus méritos artísticos não chamam tanto a atenção, mas que com o tempo acabam ganhando um status diferente por serem emblemáticos de uma época. “Vivendo no abandono” (1995) é um bom exemplo desse tipo de produção, pois acaba sendo um retrato bastante fiel de uma época muito fervilhante para o cinema independente norte-americano (no presente caso, a década de 90). Tanto que a trama ficcional da obra versa justamente sobre a conturbada realização de um filme de baixo orçamento. O roteiro traz até citações e referências a nomes expressivos da cinematografia dos EUA na época, indo de piadas sobre Quentin Tarantino e chegando numa formatação narrativa que evoca algo do surrealismo particular de David Lynch (aliás, tem até uma tiração de sarro explícita com a célebre sequência de sonho com um anão de “Twin Peaks”). Isso sem contar que encabeça o elenco um ator que foi chave para esse tipo de cinema praticado na época, o excelente Steve Buscemi. Cabe ressaltar, entretanto, que “Vivendo no abandono” não se limita apenas a citações e piadinhas. O diretor Tom DiCillo consegue dar unidade para esse mar de referências, tendo como resultado final uma obra que se mostra uma sardônica e singular declaração de amor às agruras e delícias de se fazer um filme.

Nenhum comentário: