quinta-feira, dezembro 05, 2013

Os suspeitos, de Denis Vileneuve ***


A indecisão de abordagem do diretor Denis Vileneuve em “Os suspeitos” (2013) faz com que a produção pareça se dividir em dois filmes distintos. Na primeira metade da trama, a narrativa tem uma ambiguidade perturbadora. O tom da narrativa é seco e sóbrio, fruto de uma edição clássica e de uma fotografia sombria que captura com notável precisão a melancolia dos cenários. A trama se centra no desaparecimento de duas meninas numa cidade do interior dos Estados Unidos, com o roteiro se concentrando mais nos efeitos psicológicos que o fato desencadeia em suas famílias e na comunidade do que propriamente nas causas do sumiço delas. Vileneuve constrói uma atmosfera inquietante, em que as atitudes justiceiras do pai de uma das garotas (Hugh Jackman) carregam o peso da dúvida – será que o que ele está fazendo é certo? Será que o estranho rapaz que ele captura e tortura (Paul Dano) é realmente o culpado? É como se Vileneuve dissesse que mais importante que as razões do desaparecimento das garotas seriam as consequências de tal fato. Nesse sentido, “Os suspeitos” faz lembrar obras notáveis que adotaram esse tipo de proposta temática e estética, como “Memórias de um assassino” (2003) e “Zodíaco” (2007). Ocorre, entretanto, que na segunda metade do filme o direcionamento muda radicalmente. Dá a impressão que alguém notou que o estilo adotado estava sendo pouco comercial e acessível para as grandes platéias e daí se resolvesse fazer um filme de suspense nos padrões mais convencionais do gênero. O roteiro lança explicações muito fuleiras e previsíveis para os mistérios da trama, e toda aquela instigante aura de ambigüidade de “Os suspeitos” se esvanece. Vileneuve ainda consegue preservar uma certa classe formal, mas a conclusão decepciona pelo seu tom derivativo e por colocar por terra tudo aquilo que havia de promissor na sua primeira parte.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Eu gostei muito do filme, talvez um dos melhores do ano, mas devo concordar que o diretor não teve total liberdade criativa.