
Gostando ou não de “A Concepção”, a verdade é que não se consegue ficar impassível ao filme. Logo na sua abertura, temos algumas tomadas de Brasília que fazem a mesma parecer realmente uma cidade de outro mundo, sendo que bruscamente entra em cena uma perseguição de policiais atrás de jovens que correm pelados em um prédio residencial. Aliada a tais cenas, há uma narração seca e irônica por parte de Lino (Milhen Cortaz) que em nenhum momento cai para o literário empolado e que faz um complemento admirável com as imagens que se vê na tela.
Com o desenrolar da trama, Belmonte desenvolve uma narrativa pouco linear, em que passado e presente se entrecruzam sem cerimônia. Ao mesmo tempo, insere imagens em tons granulados, dando ao filme em algumas seqüências um tom delirante. Esse jogo de tempo e de imagens até tornam o filme um pouco confuso em alguns momentos, mas ao mesmo tempo tem um impacto sensorial considerável. Colabora também para isso o original trabalho de edição e trilha sonora de “A Concepção”.
De se destacar ainda o elenco do filme, em perfeita sintonia com o espírito da coisa, com destaque óbvio para Matheus Nachtergaele, naquela que é a sua interpretação mais intensa já feita no cinema. Mesmo resvalando em alguns momentos para alguns trejeitos tipicamente teatrais, ele transforma X, o personagem catalisador de todas as loucuras de “A Concepção”, em um verdadeiro dínamo. Indo de momentos de pura filosofia delirante até a loucura extrema, Nachtergaele cria um dos personagens mais marcantes da cinematografia nacional recente.
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