quarta-feira, outubro 10, 2007

Letra e Música, de Marc Lawrence ***1/2

De vez em quando surpresas acontecem. Quem poderia dizer que uma singela e despretensiosa comédia romântica fosse oferecer um retrato tão irônico e bem humorado sobre a indústria da música pop? Pois “Letra e Música” é exatamente isso. Através da história de um pop star decadente (Hugh Grant, numa interpretação ultra cool) que recebe uma oportunidade de voltar aos holofotes desde que componha uma boa canção para uma nova estrela teen, o filme de Marc Lawrence oferece uma visão interessante sobre a relação entre a música e os seus aspectos comerciais. Mais louvável ainda é que se evita a simplória crítica aos mecanismos de criação e divulgação da canção popular. Afinal, na história da música pop, inspiração artística e o desejo de sucesso geralmente andam lado a lado, sendo que o fato de uma canção ser bem sucedida comercialmente não significa necessariamente que o autor da mesma tenha vendido a alma ao grande demônio corporativo (vide tanta gente boa como Beatles, Supremes e Elton John).

“Letra e Música” também serve como uma bela tiração de sarro com essa onda nostálgica dos anos 80 que está em voga atualmente. O protagonista é um verdadeiro refugo daquela época, com todos aqueles trejeitos estapafúrdios típicos de algumas bandas da época, como Wham e Duran Duran. E nesse sentido, o clip que abre e fecha o filme é uma verdadeira pérola de paródia musical e estética.

Outro ponto alto de “Letra e Música” é a sua brilhante trilha sonora, composta basicamente de canções originais que emulam genialmente algumas vertentes da música pop. Indo de um brilhante pastiche oitentista (a cara-de-pau “Pop! Goes To My Heart”), passando por divertidas paródias do estilo Britney Spears e chegando numa belíssima e classuda balada (“Way Back into Love), o filme acaba oferecendo um belo panorama de estilos musicais dos últimos 20 anos.

Por mais irônico que “Letra e Música” possa ser, a verdade é que o filme é um verdadeiro tributo à música pop, revelando como canções aparentemente tolas podem se infiltrar no imaginário das pessoas e ficarem grudadas lá para sempre.

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