domingo, outubro 18, 2009

X-Men Origens: Wolverine, de Gavin Hood **


Talvez a melhor fase nos quadrinhos do personagem Wolverine tenha sido aquele período em que John Byrne era o desenhista e também participava dos argumentos da série dos X-Men. O motivo era bem simples: as histórias traziam uma aura de mistério para o invocado e baixinho mutante. Simpatizava-se com o jeito durão e agressivo do herói, ao mesmo tempo que o desconhecimento do seu passado sugeria uma série de possibilidades que povoavam o imaginário dos leitores. É claro que a crescente popularidade dele fez com que a Marvel tratasse de dar um jeito de esclarecer esse obscuro passado, ainda mais que com o tempo Wolverine acabou ganhando uma revista própria (hoje em dia tem duas séries, mais uma série de especiais e minisséries). O problema é que o esclarecimento dos fatos nebulosos da vida do personagem, ainda que tenham rendido algumas boas HQs como “Arma X” e a minissérie “Origem”, tiraram um pouco do seu encanto. Além disso, diversos roteiristas fizeram uma miscelânea na trajetória pregressa do mutante, a um ponto que não se sabe distinguir se determinados fatos realmente aconteceram com ele ou não passam de memórias implantadas.

Agora pensem no seguinte: como tentar concentrar toda essa confusão de histórias num roteiro para um filme de duas horas? Nesse sentido, era melhor que não se fosse tão fiel aos quadrinhos. Pois é justamente essa “fidelidade” que transforma “X-Men Origens: Wolverine” em uma das grandes decepções de 2009. A tentativa de juntar elementos de várias tramas importantes das HQs do herói em apenas uma história rendeu um filme confuso e mal costurado. Além disso, Gavin Hood não se mostra muito afeito a produções de aventuras escapistas: com algumas poucas exceções, as cenas de ação de “Wolverine” padecem de um burocratismo frustrante. O filme não é só um total desperdício pela ótima seqüência dos créditos de abertura, onde Wolverine é focalizado em várias batalhas históricas, e na excelente e assustadora caracterização de Liev Schreiber como o vilão Dentes de Sabre (em contraposição a um insosso Hugh Jackman no papel título).

Na verdade, o que “Wolverine” precisava era de um roteirista nerd como Kevin Smith e um Michael Mann na direção para fazer jus ao potencial do personagem.

4 comentários:

Davi OP disse...

André, tu chegaste a ler o roteiro do Smith para o Super-Homem? Cara, ele tem que ficar bem longe de filmes de super-herói. Tem fã que fica melhor só na posição de fã, mesmo. Aquele roteiro é uma tranqueira sem tamanho. Quanto ao Mann, ele faria um excelente "Arqueiro Verde". Combinação perfeita de material/diretor, ao meu ver.

O Wolverine é complicado. Único momento inspirado é a cena deles como um grupo invadindo aquela base militar, no início do filme, com sintetizadores a la Carpenter. O filme parecia ter esperança. Mas lá pela terceira vez que o Jackman grita para o alto, enquanto uma grua se distancia dele, estava registrado como um dos piores filmes do ano.

André Kleinert disse...

Não cheguei a ler esse roteiro para o "Superman". Fiz a minha suposição com base nos gibis escritos pelo próprio Smith. Sei que tu não curte muito o cara como roteirista de quadrinhos, mas achei bem divertida a série de histórias que ele escreveu para o Demolidor e o Arqueiro Verde. Acho que esse mês vai sair aqui pela Panini a minissérie dele para o Batman, o "Cacofonia", a qual estou bem curioso para ler.
Tu leste "Arqueiro Verde - Ano 1", do Andy Diggle e do Jocko?? É excelente!! E são os mesmos caras que fizeram o ótimo "Os Perdedores", uma série da DC que estão pensando em levar para o cinema.
Quanto ao Wolverine, hoje estava lendo que estão em pré-produção para a segunda parte e com o mesmo diretor...

Davi OP disse...

Vou procurar "Arqueiro Verde - Ano 1". Estou lendo de quadrinhos apenas a 8ª temporada de "Buffy - A Caça-Vampiros". A série de TV é o mais perto dos "X-Men", de Claremont/Byrne/Austin, que alguém chegou. Tem um episódio, chamado "O Pedido", que é praticamente "Dias de um Futuro Esquecido" e uma das últimas temporadas é total "A Saga da Fênix Negra". Desde "Serenity" e de "Astonishing X-Men" que venho mudando minha opinião sobre Joss Whedon. Assistir "Firefly" me converteu a fã do trabalho do cara e a primeira temporada de "Buffy" e o início da segunda eram mais ou menos. No entanto, após a metade da segunda, a série começa a detonar de tão boa que é.

E aí, assististe o "De Volta ao Quarto 666"? Junto com "Transversais", do Guilherme Castro, é meu trabalho favorito produzindo para outro diretor. Os dois dá pra encarar com amor cinéfilo. O Gustavo está numa evolução muito interessante, se distanciando bastante do "Ainda Orangotangos". Gosto bastante do "Morro do Céu" (John Hughes encontra Jean Rouch!) e até queria rever, mas estava fora da cidade. Ainda não conheço a versão final de "Ato de Vida", que foi programado por ti, também. Vi os primeiros cortes e tinha chance (mesmo que remota) de ser um bom filme, bastava uma boa pós e rigor na edição, além de bom senso pra não cair no risco de ficar cafona e achar uma humanidade verdadeira, ao invés de caricaturas.

André Kleinert disse...

Eu também estou lendo o gibi da "Buffy" e estou muito bom. Confesso que nunca vi o seriado, mas depois desse gibi fiquei muito curioso. Quando tiver um tempo, vou assistir ao seriado (aliás, quero fazer a mesma coisa com o "Shield").
Gostei do "De Volta ao Quarto 666".
O detalhe dos diretores "fantasmas" ficou extraordinário, e mesmo Wenders falando é muito interessante. Aliás, o que ele fala naqueles poucos minutos é bem mais interessante que toda aquela queixa rançosa que ele fez na sua palestra do Fronteiras do Pensamento.
"Morro do Céu" achei muito bom, o melhor trabalho que já vi do Gustavo. Tem um puta senso de humor, e é um registro documental que tem um estilo "out of time" muito estranho. E a trilha sonora tem uns momentos que lembra muito Mogwai (na minha opinião, o Goblin desse novo milênio).
Formalmente em alguns detalhes, o "Ato de Vida" é superior ao "Fidelidad" e ao "Dança da Vida". Tematicamente e em termos de narrativa tem um problema sério que tu mesmo apontou: o Zapata se deixou levar muito pela emoção e não ofereceu um aspecto de contradição e humano ao filme. Louva-se muito a figura da protagonista, sendo que alguns depoimentos me pareceram desnecessários nessa coisa superficial de se limitar a elogios apenas. Por outro lado, gostei bem mais dos documentários sobre os rios (apesar daquela narração em off).