quinta-feira, janeiro 27, 2011

Biutiful, de Alejandro González Iñárritu ***


Depois de explorar a exaustão em seus filmes a fórmula de histórias paralelas aparentemente aleatórias que se entrecruzam na conclusão de suas tramas, o diretor mexicano Alejandro González Iñárritu opta em “Biutiful” (2010) por uma narrativa mais simplificada, tanto que há um protagonista bem definido, o picareta sensitivo Uxbal (Javier Barden), ainda que vários personagens e situações transitem ao seu redor. O filme se apresenta como um drama ora social ora intimista, com toques fantásticos, advindos do fato de Uxbal poder ver os mortos. E são os momentos irreais que reservam as melhores surpresas desta produção espanhola, com Iñárritu obtendo um efeito perturbador por trazer um registro bastante cru de fantasmas que assolam as visões de Uxbal. O insólito em “Biutiful” está justamente na contraposição que se faz desse aspecto metafísico com a dura realidade do personagem principal que envolve dificuldades financeiras, relação conturbada com ex-mulher, tensões com imigrantes ilegais e, para finalizar o rosário de desgraças, a descoberta que está com os dias contados devido a um câncer recém-diagnosticado. Na abordagem do cineasta, não há uma grande diferenciação entre esses planos de realidade (o físico e do além), estabelecendo-se uma relação intrínseca entre eles (o que faz com que “Biutiful” esteja longe da seara do gênero horror – a tensão pelo sobrenatural vem mais dos tormentos existenciais de Uxbal do que pela presença das assombrações).

Ainda que não traga o vigor narrativo e estético de “Amores Brutos” (2000), a obra de estreia de Iñárritu, “Biutiful” mostra o diretor buscando diferentes concepções formais, o que é bem vindo depois da estagnação criativa de “Babel”(2006).

Um comentário:

pseudo-autor disse...

Achei Biutiful poderoso, forte, enérgico do jeito que eu espero num drama. Impressionante como o Bardem consegue construir tipos com uma facilidade gigantesca!

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