terça-feira, março 15, 2011

Bruna Surfistinha, de Marcus Baldini **1/2


O fenômeno Bruna Surfistinha, no que diz respeito ao seu aspecto comportamental, talvez configure uma situação emblemática, um elemento do nosso zeitgeist (para usar termo bastante em voga). Já a versão cinematográfica das aventuras da mocinha, definitivamente, está mais para um exercício voyerístico do que para possíveis análises reflexivas. O olhar do diretor Marcus Baldini apresenta uma queda para o exploitation – por mais que encene alguns draminhas de consciência da protagonista, o seu forte está mesmo no caráter apelativo ao mostrar a nudez de Deborah Secco e as infinitas transas de Surfistinha. Há de se convir, entretanto, que em tais momentos de sacanagem Baldini realiza suas tomadas com convicção. “Bruna Surfistinha” (2011) apresenta sequências que chegam a serem perturbadoras no sentido de estabelecer atmosferas que oscilam entre o sensual e o grotesco, apresentando uma dicotomia entre a atração e a repulsa. Isso acaba entrando em sintonia com a sua estrutura narrativa convencional, no manjado estilo “ascensão, apogeu e queda” de sua personagem principal. Mesmo que superficial como desenvolvimento de trama e personagens, tais escolhas formais acabam dando uma certa dimensão vertiginosa e épica em situações que vão de apoteótica festa no apartamento de luxo de Surfistinha no seu apogeu econômico até o ponto mais baixo de sua “carreira” onde faz sucessivos programas a 20 reais numa birosca mais que bagaceira. É de se destacar ainda a performance dramática de Secco. Ela não é uma intérprete muito expressiva, mas é inegável sua forte presença de cena, evoluindo com considerável naturalidade de um registro meio inocente e desengonçado para o estilo mulherão vulgar.

O grande problema de “Bruna Surfistinha” como experiência cinematográfica é a sua origem literária, que acaba se tornando uma espécie de herança maldita para o filme. A narração em off de Deborah Secco é excessiva e com um texto qualidade artística mais que duvidosa, tendo a necessidade constante de explicar com detalhes para o espectador as atitudes de Surfistinha. É provável que se Baldini tivesse dispensado esse recurso o impacto de sua narrativa seria muito maior, pois daria um poder mais sugestivo para as imagens.

De qualquer forma, mesmo estando longe de ter um padrão de qualidade inquestionável, “Bruna Surfistinha” acaba se revelando mais do que um mero exercício de marketing barato.

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