quarta-feira, março 02, 2011

Desconhecido, de Jaume Collet-Serra ***


A trama de “Desconhecido” (2011) é uma saudável miscelânea de referências de escapismo fantasioso que parecem vindas diretas de HQs e filmes B de espionagem, indo de amnésias improváveis até conspirações que beiram o inverossímel. O grande mérito do diretor Jaume Collet-Serra está em abraçar com convicção total essa série de elementos pouco críveis, oferecendo uma eficiente obra de ação e suspense. Na metade inicial de “Desconhecido”, Collet-Serra investe numa ambientação de tensão psicológica, evocando até uma leve atmosfera de delírio onde se duvida da própria sanidade do protagonista Martin Harris (Liam Neeson, cada vez mais assumindo o seu lado de herói durão). Ter como cenário uma cidade fria e sombria como Berlin contribui para o clima de mistério. Aos poucos, o roteiro adquire um tom mais direto de aventura, com direito a carros explodindo, tiros e muita porradaria. As revelações se tornam cada vez mais “quadrinhescas”, assim como a brutalidade em algumas cenas se acentua. Há uma seqüência em “Desconhecido”, entretanto, que revela uma sutileza inesperada no meio de tanta ação física que é aquela que traz o duelo por meio de diálogos dos personagens interpretados por Bruno Ganz e Frank Langella, dois veteranos peões de sujos jogos de poder que remetem à Guerra Fria, num extraordinário enfrentamento verbal recheado de subterfúgios e um elegante código de honra.

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