quarta-feira, junho 01, 2011

Thor, de Kenneth Branagh **



A questão de ser fiel ao espírito da obra original numa adaptação cinematográfica de um personagem dos quadrinhos não tem relação com um respeito reverencial diante da figura em questão (o que por si só seria algo ridículo, pois comics, no final das contas, são produtos da cultura de massa e não obras de artes inatacáveis – na verdade, nem essas últimas são tão indiscutíveis assim...). Estar em sintonia com o tal espírito da obra original tem a ver com o simples fato de aproveitar aqueles elementos criativos que tornaram o personagem em questão tão atrativo para as pessoas e que justificaram a versão para as telas. E é justamente nesse ponto que reside os principais equívocos dessa transposição das aventuras do deus nórdico Thor para o cinema. O que era para ser um épico envolvendo batalhas entre seres mitológicos e sua relação com os mortais acabou virando um drama romântico água com açúcar e pouco convincente (o que dizer das bregas juras e promessas de amor nas seqüências finais do filme entre Thor e a sua amada Jane Foster?). Todo o processo de aprendizado de honra e humildade que seria uma das temáticas principais do roteiro é banalizado com um tratamento excessivamente superficial (Thor se transforma em um bom moço em menos de 24 horas...). Isso fica ainda mais decepcionante quando pensamos que o cineasta responsável por isso é o mesmo Kenneth Branagh de vigorosas adaptações para o cinema do universo de Shakespeare. Alia-se também a essa séries de escolhas desastradas efeitos especiais genéricos e rasteiros (Asgard parece muito mais uma cidade futurista mequetrefe do que uma imponente morada dos deuses) e direção de arte bagaceira (os trajes e as armaduras remetem muito mais a visual de escola de samba do que de guerreiros). É claro que nem tudo está perdido em “Thor” (2011), principalmente por alguns bons momentos de ação e pela caracterização convincente de alguns dos personagens, mas acaba sendo muito pouco para as expectativas geradas em torno do filme e da própria importância do personagem dentro do gênero dos quadrinhos de super-heróis.

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