Na aparência, “Argus Montenegro & a instabilidade do
tempo forte” (2012) pode passar por mais um documentário na linha cinebiografia
musical que tem aparecido com certa frequência nas telas. Ao assistir ao filme
em questão, entretanto, pode-se perceber que as intenções do diretor Pedro
Lucas eram diversas. Não que a produção não tenha também a intenção de contar a
história de seu protagonista, um obscuro
baterista porto-alegrense de jazz e música brasileiro, que além de ter sido um
requisitado baterista de shows e de gravações de estúdio, foi ainda professor de
música. Por vários momentos no filme, Argus conta passagens importantes da sua
vida, mas o grande foco está é na filosofia dele sobre a sua arte. Articulado e
carismático, o músico expressa uma particular visão, entre a sabedoria e o delírio,
sobre a sua técnica e a forma com que encara a música. Virtuose em seu
instrumento, ele mostra que a grande qualidade do artista musical não está
simplesmente na exibição de sua técnica – a essência está em saber dosar essa técnica,
em valorizar os silêncios, os momentos menos intensos, justamente para realçar,
quando necessário, os momentos de maior impacto sensorial (o que seria o tal do
tempo forte). Pedro Lucas tem a sensibilidade certeira em não só registrar as
elocubrações de Argus, mas também em incorporar tais princípios para a própria
concepção estética do documentário – sua narrativa é contida e sóbria, evitando
tanto o excessivo discurso de loas ao seu biografado como a busca pelo
sentimentalismo fácil. Raras vezes a conjunção cinema/música atingiu uma
sintonia tão coerente e intrínseca.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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