terça-feira, julho 03, 2012

Argus Montenegro & a instabilidade do tempo forte, de Pedro Lucas ***1/2


Na aparência, “Argus Montenegro & a instabilidade do tempo forte” (2012) pode passar por mais um documentário na linha cinebiografia musical que tem aparecido com certa frequência nas telas. Ao assistir ao filme em questão, entretanto, pode-se perceber que as intenções do diretor Pedro Lucas eram diversas. Não que a produção não tenha também a intenção de contar a história de seu protagonista, um obscuro baterista porto-alegrense de jazz e música brasileiro, que além de ter sido um requisitado baterista de shows e de gravações de estúdio, foi ainda professor de música. Por vários momentos no filme, Argus conta passagens importantes da sua vida, mas o grande foco está é na filosofia dele sobre a sua arte. Articulado e carismático, o músico expressa uma particular visão, entre a sabedoria e o delírio, sobre a sua técnica e a forma com que encara a música. Virtuose em seu instrumento, ele mostra que a grande qualidade do artista musical não está simplesmente na exibição de sua técnica – a essência está em saber dosar essa técnica, em valorizar os silêncios, os momentos menos intensos, justamente para realçar, quando necessário, os momentos de maior impacto sensorial (o que seria o tal do tempo forte). Pedro Lucas tem a sensibilidade certeira em não só registrar as elocubrações de Argus, mas também em incorporar tais princípios para a própria concepção estética do documentário – sua narrativa é contida e sóbria, evitando tanto o excessivo discurso de loas ao seu biografado como a busca pelo sentimentalismo fácil. Raras vezes a conjunção cinema/música atingiu uma sintonia tão coerente e intrínseca.

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