quarta-feira, novembro 07, 2012

Marighella, de Isa Grispum Ferraz ***


Talvez o fato da diretora Isa Grispum Ferraz ser sobrinha do guerrilheiro Carlos Marighella possa fazer supor que o documentário “Marighella” (2011) seja uma obra hagiográfica em relação a figura cinebiografada em questão. A proposta da cineasta, entretanto, não é a de se ater a um registro objetivo dos fatos. Sua abordagem justamente aproveita o seu parentesco para realizar uma contraposição entre a figura pública do tio com a do homem boa praça com quem teve um breve e ameno contato doméstico. Isa Ferraz não apresenta respostas prontas para o espectador – na verdade, a platéia é quase uma cúmplice da diretora na construção do quebra-cabeça que representa a vida de Marighella. Em alguns momentos, ela prefere expor facetas pouco conhecidas do protagonista, principalmente ao evidenciar a sua veia poética. Mas isso não quer dizer que abdica de mostrar os principais fatos que tornaram Marighella um dos mais notórios rebeldes da história do Brasil. Um dos pontos mais interessantes do filme está justamente nessa tendência em confrontar a exposição de um lado mais intimista do guerrilheiro, tanto nas suas tendências para o lirismo quanto no romantismo de sua vida amorosa, com a sua personalidade explosiva como desafiador da ordem vigente. Assim, a profusão de imagens de arquivos e depoimentos mais configura um imaginário sentimental e político sobre Marighella do que uma investigação jornalística. Em termos cinematográficos, essa escolha estética e temática da diretora se revela mais fascinante ao dar um caráter perene e instigante para o seu documentário.

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